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Vanessa Rozan e o feminino para além da estética

Crítica de padronizações e da algoritmização da vida, ela celebra uma carreira frutífera com sonhos à vista

Por Paula Jacob
Atualizado em 22 abr 2024, 19h59 - Publicado em 12 ago 2022, 08h10

Vanessa Rozan é uma presença que dá para ser sentida de longe. Ela vem, com seu caminhar silencioso e efeito delicado, e coloca as maquiagens inúmeras sobre a bancada. Delineia os olhos marcantes com a facilidade que fala sobre literatura e maternidade. Puxa um blush bem anos 80, colorido de rosa, amarelo e laranja (e deixa a combinação ultra desejável e pé no chão), e entrega poses de primeiro clique. 

Ela é essa mulher gigante de palavras certeiras e risadas de preencher espaços. Apesar do sucesso inegável na TV aberta, como maquiadora do programa Esquadrão da Moda, e nos números bem significativos nas redes sociais — no Instagram, são 1.2 milhão e, no YouTube, mais de 220 mil inscritos —, Vanessa não se deslumbra. Ela, que veio de Jales, cidade em São José do Rio Preto, já trabalhou como atendimento ao consumidor na área de assistência técnica da empresa de seu pai, focada em máquinas agrícolas — sim, você leu certo —, foi vendedora de loja de roupas e publicitária recém-formada em agência. Aliás, durante a graduação na ESPM-SP, ela descobriu o gosto pela semiótica, psicanálise e fotografia. Como objeto de estudo no TCC, a revista NOVA. Tudo parecia conspirar para o universo da beleza, mesmo que ela não pensasse tanto a respeito disso. “Fui adolescente nos anos 1990, sabe? Tinha um corretivo, um lápis marrom e um batom. Não tinha acesso a informação de beleza, não fazia parte da minha realidade”, conta. 

Entrevista Vanessa Rozan
Joia de rosto Gramatura 2, R$310, e colar Duo Guggenheim, R$ 693, ambos da Entre Cubos (Lorena Dini/CLAUDIA)

A penteadeira podia estar vazia, mas as referências vinham de dentro de casa. A avó materna fazia vestidos, maquiagem e cabelo para noivas. Nesse cenário, ela sempre folheava revistas de moda e modelagem enquanto via de perto a mágica acontecer. Anos depois, foi sua mãe, que também conviveu no mesmo contexto, junto às duas irmãs, que plantou a semente: “Você não quer abrir um salão de beleza comigo?”. A história de Vania Rozan, por sinal, rende uma reportagem à parte: foi mãe aos 18, trabalhou ao lado do marido na empresa que administravam, decidiu terminar os estudos e ingressar na universidade para mergulhar no universo da cosmetologia. O sonho de uma cruzou com o da outra. 

Contudo, antes do Liceu de Maquiagem ganhar vida, Vanessa foi buscar experiência. Cursou maquiagem e cabelo no Senac e, com a ajuda de um professor-mentor, conseguiu a tão desejada vaga de maquiadora-vendedora na recém chegada ao Brasil MAC. Ali, durante seis anos, desenvolveu seu talento para a coisa, viajou o mundo como treinadora, virou chefe de equipe, assinou incontáveis desfiles do São Paulo Fashion Week e editoriais de revistas nacionais. “Era muita novidade para alguém que trabalhou com máquinas agrícolas”, ri. “Tudo o que eu nunca tinha visto antes, a MAC proporcionou para mim.” 

Outros espaços foram ocupados, interna e externamente. “Existia uma barreira, com a maioria de homens eram duas mulheres a cada vinte homens e uma desconfiança do mercado, mas também uma síndrome de impostora de quem não se sentia apropriada naquele lugar. Fui estudar artes plásticas, porque achava que precisava saber mais, fiz pós-graduação em semiótica psicanalítica porque sentia que não tinha estofo o suficiente.” Algo que acomete 10 em 10 mulheres. 

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Entrevista Vanessa Rozan
Vanessa usa brinco Elo Disforme, R$ 753, Nadia Gimenez. (Lorena Dini/CLAUDIA)

No paralelo, surgiu a oportunidade de entrar para o time do programa Esquadrão da Moda, reality de transformação que já coleciona histórias de mulheres há 14 temporadas. A segurança da repercussão positiva dos episódios aliada ao cansaço da rotina frenética de viagens fez Vanessa decidir deixar a MAC. E aí, o espaço para fazer a provocação de sua mãe florir ganhou terreno. O que nasceu pequenininho, com apenas seis cadeiras, lá na Galeria Jardim Mercantil, amadureceu para um espaço no Higienópolis e, agora, surge renovado no novo endereço dentro da Galeria Metrópole, no Centro Histórico de São Paulo. Tudo isso lhe trouxe uma visão de beleza mais ampla e acessível, sem contar a chance de acompanhar as mudanças do mercado de um novo ângulo. Por exemplo: o seu estilo mais minimal de aplicar as tendências e os conceitos não fazia muito sucesso no começo. Cílios postiços e make pesada eram algumas das coisas solicitadas à ela quando ia trabalhar para terceiros.

“As Kardashians definindo o que era bonito, o auge da make de redes sociais… Porém, nada disso fazia sentido para mim. Mas, pouco antes da pandemia, senti as coisas tomarem outros rumos, o skincare ganhar mais espaço, a beleza natural ser defendida, pessoas fora da elite terem acesso aos cuidados dermatológicos…” Essa observação de uma ruptura em ebulição foi a provocação que levou Vanessa para o mestrado. “Passamos anos com as revistas nos prescrevendo o que usar e como usar, e o que não usar de jeito nenhum, para o Instagram que era, em tese, para ser algo de livre expressão criativa. Ao invés das pessoas aproveitarem essa liberdade, repetiam comportamentos, alteravam fotos, padronizavam a beleza”, comenta. 

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As angústias do mercado foram parar na academia, que voltam para o próprio mercado nas aulas que Vanessa ministra no Liceu ela formou (e ainda forma) profissionais que se destacam na carreira. “Não dá para a gente simplesmente engolir as coisas, precisamos ter uma visão mais crítica. Eu sou mulher, nesse corpo, envelhecendo, na indústria da beleza: são muitas questões. O que falar para as pessoas se eu também estou sofrendo com isso? Falo que minha vida é um misto de misticismo, psicologia e ciências sociais. É tentar entender a estrutura para me dar uma visão um pouco maior. Só que isso é desconfortante.”

Entrevista Vanessa Rozan
Brinco Amor Onirico, R$ 990, Maria Dolores. Vasos usados nas fotos na Mickey Presentes. (Lorena Dini/CLAUDIA)

Agora, é a vez do doutorado, pesquisa provocada pela “algoritmização” da vida em redes. “Essa sensação de ter que produzir, postar todo dia, fazer isso, gravar um reels, escolher música, não perder o timing das coisas… Isso não é meu único trabalho, eu faço inúmeras coisas, tenho outros projetos. É angustiante porque sempre acaba num lugar de comparação”, elabora. Não só: ainda tem a pressão do posicionamento, muitas vezes comum às pessoas públicas. Contudo, a Vanessa que “brigava” no mundo virtual ficou na vida passada, agora, ela quer preservar a saúde mental e comentar a respeito daquilo que sente vontade. “Eu vou falar sobre questões que são importantes para mim, e a questão da mulher em sociedade é fundamental de ser dita. A minha vontade mesmo é a gente ir para a rua ou organizar paralisações. Acredito nesse levante de mulheres, na micropolítica. Isso faz parte do meu dia a dia e, com a maternidade, ficou ainda mais forte. A gente vai se fortalecendo nesse lugar do feminino”, defende.

Nessa linhagem de mulheres que se ajudam, se inspiram e constroem novas possibilidades de existência, seja na beleza, na carreira ou dentro de casa, Vanessa não deixa de revisitar as que vieram antes para também educar a filha, Pina. “Minha mãe é uma mulher fantástica. Sei que para ela não foi fácil o começo da maternidade e todas as inseguranças que ela traz. E, na minha cabeça, a maternidade esteve num lugar romantizado”, conta. 

Contudo, com a gravidez da filha, as coisas mudaram. “Eu tenho uma metáfora que sempre compartilho com as amigas: quando você se torna mãe, aquele continente formado que você era, com todos os seus territórios sem fronteiras, sai inteiro do lugar com as placas tectônicas indo uma para cada lado. É uma revolução e um caos. Eu morri e nasci outra.”  A rede de apoio foi (e é) imprescindível. “A minha mãe sempre me ajudou. E o faz porque passou por esse lugar, ela reconhece as dificuldades e é extremamente empática”, diz sobre a mulher que, além de tudo, “precisou cavar com uma colher o percurso da maternidade”. 

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Entrevista Vanessa Rozan
Brinco Paloma, R$ 1.980, Paola Vilas (Lorena Dini/CLAUDIA)

E essa proximidade das três também trouxe memórias de um cuidado materno que incluía aquelas dicas que toda menina precisou (e infelizmente) ouvir quando jovem. “Ela me dizia: ‘não entre numa situação em que você não possa sair sozinha’. Eu sempre estava vigilante, e esse senso de alerta me salvou de situações que poderiam ter ido para um lugar muito triste, que sei que é a realidade da maioria.” Para Vanessa, isso acabou acarretando em um não relaxamento ou não aproveitamento de certas situações na vida. E essa dureza, segundo ela, volta no entendimento da criação de Pina: “É aquela relação de deixar sua filha ser e, por outro lado, entender que ela não pode ser por completo dentro dessa sociedade [em que vivemos]. Eu gostaria que ela fosse livre, à vontade, não quero tolher a existência dela, as vontades que ela tem, mas tem um senso de proteção, ainda mais agora que ela está entrando na adolescência. Tem alguns medos que ela vai precisar ter, sabe?”

O equilíbrio de todos os pratinhos, pessoais e profissionais, fez Vanessa colocar na balança, desde o começo do ano, os desejos de futuro. “Em 2022, decidi ter sonhos, porque fazia muito tempo que eu não sonhava.” E que bom, é deles que somos feitos.

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Entrevista Vanessa Rozan
Joia de rosto Gramatura 2, R$310, Entre Cubos, brinco e fake piercing, ambos Trino Atelier. (Lorena Dini/CLAUDIA)

Produção de joias e objetos Melissa Thomé
Assistente de beleza Ana Sabadin
Direção de arte Kareen Sayuri

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