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Crônicas de Mãe

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Por Ana Carolina Coelho. Feminista, mãe, escritora, poeta, dançarina, plantadora de árvores, pesquisadora e professora universitária

Sobre “amaternar”: um eterno “o tempo passou e tudo mudou”

Entendi que o caminho do “amaternar” é uma constante mutação individual que existe comunitariamente

Por Ana Carolina Coelho
27 jun 2022, 10h39
maternidade
Vejo a cada dia o efeito do tempo nos rostos e falas de minhas filhas.  (Andrea Piacquadio/Pexels)
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Minhas crianças estão crescendo e tudo muda o tempo todo. A mais nova agora reconhece as letras de seu nome e brinca de escrever cartas com todos os papéis da casa e a mais velha oscila entre ler, escolher novos jogos e ainda brincar de bonecas. Vejo a cada dia o efeito do tempo em seus rostos, suas falas e sua maneira de se expressarem. E penso, como acho que quase toda mãe pensa, “foi ontem que elas nasceram”. 

Para mim tem apenas algumas horas que me tornei “Mãe” e alguns dias que deixei de lado os hábitos e a rotina de uma vida sem crianças. Leva tempo para se processar um novo caminho na vida e, de repente, mesmo tendo tido os meses da gravidez, eu me recordo de ouvir: “Parabéns, você é mãe!”, sem saber direito que N-A-D-A seria como antes. Só que eu passei muito mais tempo na minha vida “não sendo mãe” do que sendo, muito mais tempo inclusive descobrindo QUEM EU SOU, como eu gosto de viver e o que afinal de contas eu quero para os meus dias. Então como aprender, literalmente do dia para a noite, algo que insistem em afirmar que viria “naturalmente” a ser uma completa nova identidade: “M-Ã-E”?

Não é à toa que existem tantos manuais, livros, palestras, cursos e uma verdadeira indústria de produtos e serviços para “ajudar” no que chamam de nova etapa da vida, mas que em realidade é algo que dura para sempre e, além disso, está em constante mutação. Eu me lembro de me perguntar como descobrir o que era o “certo”, já que as pessoas ao meu redor pareciam todas saberem o que fazer e eu parecia estar sempre fazendo a “coisa errada”.

Até que um dia eu percebi o óbvio: nós, mães, se ficarmos sozinhas nessa jornada, estaremos todas perdidas. As crianças são únicas porque nós somos únicas e essa interação das maternidades funciona A PARTIR dos nossos próprios parâmetros e rotinas de vida. Um exemplo simples e até bobo, é que minhas filhas que são goianas adoram mate gelado, hábito carioca que elas assimilaram de nossa casa. Vejo-as hoje tão parecidas e tão diferentes, com ideias, vontades e percebo a importância de termos uma comunidade que as ame e as estimulem a terem suas próprias identidades e expressões. 

Demorou muito tempo, mas entendi que o caminho do “amaternar” é uma constante mutação individual que existe comunitariamente, na troca com outras experiências e afetos constantes. Ser “mãe” é uma identidade que só se torna plena na pluralidade das interações amorosas das existências humanas. É possível sermos melhores, sempre! Dias Mulheres virão!

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