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Líder de seita com escravas sexuais é condenado a 120 anos de prisão

Ao todo, 15 vítimas testemunharam contra Keith Raniere, acusado de extorsão, tráfico sexual, pornografia infantil e trabalho forçado, entre outros crimes

Por Da Redação
27 out 2020, 19h20

O tribunal federal do Brooklyn, em Nova York, sentenciou nesta terça-feira (27) Keith Raniere a 120 anos de prisão. Ele já havia sido condenado anteriormente, em um julgamento realizado em junho de 2019, pelos crimes de extorsão, tráfico sexual, pornografia infantil, trabalho forçado, falsidade ideológica e obstrução da justiça.

Prometendo felicidade, Raniere seduziu diversas pessoas ricas nos Estados Unidos, especialmente em Hollywood, Canadá e no México com os workshops de autoaperfeiçoamento oferecidos por sua empresa, a NXIVM, fundada em 1998. A fachada de autoajuda, porém, escondia uma perturbadora seita baseada em exploração, abuso sexual e lavagem cerebral.

Segundo informações do New York Times, ao todo, 15 vítimas prestaram depoimento, relatando os traumas que sofreram nas mãos de Raniere. A primeira, identificada apenas como Camila, contou como foi abusada por ele pela primeira vez em 18 de setembro de 2005. Na ocasião, ela tinha apenas 15 anos, enquanto ele tinha 45. Raniere insistiu que a data fosse considerada o aniversário do relacionamento dos dois, que durou por mais 12 anos.

Esperando que ela estivesse disponível para sexo a qualquer momento, o empresário também exigia que Camila pesasse menos de 45 quilos e a instruiu a abortar. “Eu quero seguir em frente, mas ele me prejudicou de muitas maneiras”, disse a mulher, que chegou a tentar suicídio e até hoje sente dificuldades em distinguir um relacionamento normal de um abusivo.

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Ela não foi a única de sua família a ser vitimizada por Raniere. Ele também manteve relações sexuais com duas irmãs dela, e teve um filho com a mais velha, que ainda o apoia, assim o pai das garotas. Já a mãe, o irmão e outra irmã de Camila, que também falaram no julgamento, contaram que sua família, antes unida, foi destruída pelo criminoso.

India Oxenberg, filha da atriz Catherine Oxenberg, também depôs. A jovem revelou que o empresário tentou envenenar seu relacionamento com a mãe e que ordenava que ela sempre esperasse por ele nua. Durante o período em que esteve sob o controle da NXIVM, ela ficou tão magra que parou de menstruar. “Você é um predador sexual e me estuprou. Quando você me tocou, eu recuei”, disse India.

Rotina de abusos

De acordo com ex-membros da NXIVM, Raniere e seu círculo íntimo caçavam pessoas inseguras, oferecendo aulas que as ajudariam a superar seus medos e alcançar a satisfação pessoal. Mesmo pessoas mais instruídas caíram nas artimanhas bem elaboradas da seita, que tratava a desistência como algo de que se deveria ter vergonha.

A organização vendia a imagem de Raniere como um gênio com um dos QIs mais altos do mundo, quando na verdade, ele se formou com uma média de 2,26 pontos no Rensselaer Polytechnic Institute, em Nova York, após ter reprovado em aulas de matemática e ciências.

Cerca de 18 mil pessoas participaram dos cursos oferecidos pela NXIVM, muitos chegando a se endividar para pagá-los. Um casal estima ter gastado 300 mil dólares com a empresa, sendo forçado a declarar falência por causa disso.

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Mas os promotores envolvidos no julgamento focaram principalmente em um grupo da organização reservado apenas para mulheres. Para ingressar nele, as vítimas passavam por uma cerimônia de iniciação em que eram marcadas por uma caneta cauterizadora que queimava as iniciais de Raniere em suas peles. Uma das evidências colhidas ao longo do processo é um vídeo em que é possível ver um grupo de mulheres deitadas nuas em uma mesa dizendo “Mestre, por favor, me marque”.

Muitas dessas vítimas testemunharam que acreditavam estar ingressando em um grupo de empoderamento feminino, só para depois serem orientadas a fazer sexo com Raniere. Elas eram chamadas de escravas, precisavam de autorização para comer e eram forçadas regularmente a entregarem vídeos sexualmente explícitos, que temiam que viessem a ser divulgados para o público.

Nicole, uma dessas mulheres, contou ao juiz que esses vídeos eram a única coisa que a impediam de cuspir na cara de Raniere durante o período em que esteve no grupo. “Eu nunca havia concordado em desistir do direito ao meu corpo”, disse, descrevendo a experiência como a mais degradante de sua vida.

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Sem remorsos

Os promotores pediram que Raniere fosse condenado a prisão perpétua, sentença normalmente reservada para casos que envolvem mortes ou assassinatos. Os advogados do empresário, por sua vez, alegaram que como ninguém foi “baleado, esfaqueado, socado, chutado, esbofeteado ou mesmo recebido gritos”, ele não deveria pegar mais de 15 anos de prisão.

Mas, dada a relutância de Raniere em se responsabilizar por suas ações e o desprezo que ele segue demonstrando pelas vítimas, a prisão perpétua é a única maneira de impedi-lo de machucar mais pessoas, de acordo com os promotores.

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Raniere, de fato, não demonstra arrependimentos e já acusou o juiz federal Nicholas G. Garaufis de corrupção, exigindo um novo julgamento. “Ele não se arrepende de sua conduta ou de suas escolhas”, afirmaram seus advogados, garantindo que ele “pretende lutar com todas as suas forças, confiante de que um dia será inocentado.”

O empresário ainda conta com o apoio de muitos seguidores que acreditam que sua condenação é injusta, pois, segundo eles, todas as atividades da NXIVM ocorreram sob o consentimento dos adultos envolvidos. Dezenas de cartas foram enviadas ao tribunal pedindo clemência e o próprio Raniere liderou uma campanha para reverter a sentença, instruindo seus apoiadores a criar um podcast sobre o caso e organizar um concurso dedicado a encontrar erros em sua acusação em troca de um prêmio de 25 mil dólares.

Além dele, outras cinco mulheres de seu círculo íntimo foram acusadas de participar do esquema, entre elas a ex-atriz Allison Mack, famosa por seu papel em Smallville, e a herdeira da empresa de bebidas alcoólicas Seagram, Clare Bronfman. As cinco se declararam culpadas antes de seus julgamentos e Brofman foi sentenciada em setembro a pouco mais de seis anos de prisão. As outras ainda aguardam as datas de condenação.

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