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Renata Brosina é jornalista, host de podcast e editora de moda com foco em luxo e sustentabilidade. Com 15 anos de carreira e alguns títulos internacionais no currículo, ela é curiosa, gosta de entrevistar e vestir pessoas, e analisar as transformações que vêm acontecendo no mercado.
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A missão de Mary Quant na moda

Além da minissaia, o discurso proposto pela estilista britânica ultrapassa os limites da moda: ela queria ver as mulheres confortáveis com a liberdade

Por Renata Brosina
18 abr 2023, 07h09

Mary Quant era uma típica aquariana. E, das 179 páginas da sua autobiografia, um trecho em específico exaltava seu lado rebelde e inconformado com o conforto daqueles tempos. “A quebra das regras tradicionais sempre é excitante. Regras são feitas para serem quebradas. Quando você quebra uma regra, você automaticamente chega a algo diferente e isso é divertido”, contava ela no início do segundo parágrafo da página 137.

O livro foi originalmente publicado em 1966 e eu tinha lido ele, pela primeira vez, em 2007, quando, sem muita pretensão, já organizava algumas ideias para o meu trabalho de conclusão de curso da faculdade. Não era sobre a estilista, menos ainda sobre o fenômeno polêmico da minissaia (afinal, quem a criou?), mas sobre o recorte da sua importância no movimento de moda britânico. Eu queria falar sobre a juventude efervescente da época e procurava por bibliografias para dar início a minha pesquisa. Uma vendedora da loja do museu Victoria and Albert disse para procurar pelo Quant by Quant

Na última semana, Mary Quant faleceu aos 93 anos. Curiosamente, vi algumas pessoas, com certo tom de surpresa, não saberem que ela ainda estava viva. A questão é que, mesmo vivendo longe dos holofotes por opção própria, a estilista também acabou sendo deixada fora de circulação quando o assunto era liberdade e revolução, principalmente, feminina na moda. Ao contrário de outros nomes que, por conta do buzz das suas respectivas marcas, acabaram ocupando o posto de mulheres empoderadas, Mary foi a responsável por catapultar uma série de transformações na vida das jovens ao longo dos borbulhantes anos 1960.

Mary Quant
Mary Quant, estilista responsável por criar e popularizar o uso da minissaia nos anos 1960, morre aos 93 anos. (Divulgação/Divulgação)

Na batalha entre o título de pai ou mãe da minissaia (disputada também com Courrèges e Rabanne), Mary foi importante para disseminar o uso da peça em tempos que a mudança no guarda-roupa. Ela sabia que era essencial democratizar a moda, eliminar o ar esnobe e transformar peças fashion em acessíveis para todos. A cultura pop naquele período contou com a influência da jovem que, aos 32 anos, foi condecorada com o OBE pela Rainha Elizabeth II.

Não à toa, o que sabemos sobre o movimento conhecido como Swinging Sixties (ou Swinging London) se passou pela porta da frente da sua lendária loja Bazaar – por essa mesma porta entraram nomes como Audrey Hepburn, integrantes das bandas Beatles e Rolling Stones para consumirem suas coleções modernas e uma atmosfera que celebrava a liberdade. Acrescentar cores vibrantes nas roupas e acessórios e encurtar saias, shorts e vestidos foram alguns dos seus principais atributos à moda, mas tenho ainda mais o que falar sobre a estilista. 

Nascida em 1930 e com adolescência passada durante o período da Segunda Guerra Mundial, Barbara Mary Quant não queria ter a mesma vida que sua mãe – e, menos ainda, vestir-se de forma parecida. Enquanto os trajes casuais eram sisudos e orientados a seguir o que agradava aos olhos masculinos, Quant entendeu que precisava, ainda na adolescência, mudar seu uniforme da escola – e tesourar suas saias.

Até inaugurar sua loja em 1955, ela descobriu formas de levar suas ideias de independência e transformação ao público feminino, inclusive, sem cair na armadilha (tão comum hoje) de ignorar as ferramentas de sedução (que, segundo ela, fazem parte da natureza humana). Se hoje Miley Cyrus fala sobre comprar suas próprias flores, para mostrar empoderamento, Mary seria capaz de plantar suas flores, montar seus buquês e, ainda assim, não ser arrogante de rejeitá-las caso as ganhasse.

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Mary Quant
Mulheres modelando a coleção “Viva Viva”, em março de 1967, na semana de moda de Milão. (Keystone/Getty Images)

Diferente de sua mãe, Mary sabia que, em determinadas ocasiões, vestir-se para um homem tinha outro significado quando a roupa era usada para conquistar – e sentir-se pronta para isso era ser feminista. “Para o seu futuro namorado querer experimentar sua sobremesa, ele precisa ser seu namorado. E, para isso acontecer, você precisa da roupa certa. Se você não quiser um namorado, você também pode fazer a sobremesa para você mesma”, escreveu ela na sua autobiografia. 

Ela enxergava o feminismo com pilares que davam à mulher liberdade de se divertir – sem uma cartilha do que uma garota feminista deve ou não fazer. Ela queria levar sua consciência sobre corpo, conforto, moda e estilo de vida de maneira despretensiosa. Só querendo unir pessoas que estivessem nessa mesma luta, para pôr suas pernas para fora e se conectar com o novo, brilhante e inspirador.

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Mesmo não sendo headline das principais matérias de revista de moda há boas décadas, Mary Quant conseguiu conquistar um espaço nos livros de história da indumentária que, mesmo com nome tão efêmero no boca a boca, fez muito e cumpriu a sua missão. Afinal, se, no início do texto, mencionei que Mary queria quebrar as regras, ela quebrou e isso foi essencial para cá estarmos nós, celebrando, com nossas pernas de fora.

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