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Por trás da moda

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Renata Brosina é jornalista, host de podcast e editora de moda com foco em luxo e sustentabilidade. Com 15 anos de carreira e alguns títulos internacionais no currículo, ela é curiosa, gosta de entrevistar e vestir pessoas, e analisar as transformações que vêm acontecendo no mercado.

A relevância de Paco Rabanne para a moda que conhecemos hoje

Mesmo após anos afastado dos holofotes, o estilista espanhol, que faleceu aos 88 anos, sempre será lembrado por suas criações disruptivas e modernas

Por Renata Brosina
7 fev 2023, 11h53
A relevância de Paco Rabanne para a moda atual.
Estilista espanhol em 1965 trabalhando em um de seus icônicos vestidos de metal. (Keystone/Getty Images)
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O verdadeiro sucesso de um estilista, na minha opinião, é quando ele transcende a sua etiqueta. Alguns acabam sendo reféns do buzz fashion e se limitam a ele. O que, com certeza, não foi o caso de Paco Rabanne. O espanhol, que faleceu no último dia 3 de fevereiro, foi responsável por construir uma identidade estética na década de 1960 que influenciou gerações, se aventurou na perfumaria e vestiu suas musas com suas criações icônicas futuristas. Foi via Françoise Hardy e Jane Fonda, como Barbarella, que descobri Paco. E eu era criança.

Lembro de uma festa à fantasia, que fui com um vestido verde, bordado com plaquetas, baseado em uma referência que meu pai levou para a costureira. Era o body da Barbarella, uma das suas personagens preferidas, adaptado para uma menina de 7 anos usar (ou seja, um vestidinho). Na mesma época, eu sonhava com um modelos dourado, que parecia construído apenas com pastilhas, curto e com mangas longas. Era mais uma peça desenvolvida por monsieur Rabanne para Françoise Hardy, uma de suas musas.

A relevância de Paco Rabanne para a moda atual.
Paco Rabanne no set de “Casino Royale”, de 1967. Ele que assina os looks usados por Julie Harris no filme. (Doreen Spooner/Mirrorpix/Getty Images)

Diferente da visão lúdica (e inocente) que tinha, o vestido era feito com nove quilos de ouro e detalhes que somavam 300 quilates de diamantes. Era com esses materiais que o estilista brincava de fazer roupas. No bom sentido, claro. Ele adorava experimentar e estudar maneiras de inovar, seja com metal, papel ou plástico. Paco se intitulava artesão. Já Coco Chanel o apelidou de “metalúrgico”. Isso porque Paco, formado em arquitetura, ousava levar arames e outros elementos para suas roupas e bolsas.

Como forma de resposta às alfinetadas de Gabrielle, Rabanne, sabendo que a estilista francesa estava desenvolvendo uma alça de corrente para o famoso modelo 2.55, criou uma versão construída com elos de correntes de descarga de banheiro e aplicou em uma estrutura de envelope retangular, com discos de metal do tamanho de uma moeda presa com anéis. Hoje, conhecemos a bolsa como Le 1969 e já foi usada por Brigitte Bardot, Jane Birkin e Audrey Hepburn.

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O modelo Le 1969, bolsa icônica da marca, que já foi revisitada em diversas coleções. (1stdibs/Divulgação)

Rabanne tinha um grande conhecimento sobre metais e sabia manuseá-los como ninguém. Antes de abrir sua marca homônima, em 1966, ele trabalhou com joalheria (e botões) na Givenchy, Yves Saint Laurent, Balenciaga e Dior e, até hoje, as coleções desenvolvidas por Julien Dossena, diretor criativo da Paco Rabanne, carregam essa contemporaneidade conectada às joias. Um reflexo da primeira passarela de Paco.

Na sua estreia, Paco Rabanne apresentou o “Manifesto: 12 vestidos inutilizáveis em materiais contemporâneos”, com peças feitas em plástico moldado, metal martelado e jérsei de alumínio. Graças a esse debut, o estilista bateu de frente com outro nome que também apostava no olhar vanguardista e futurista: André Courrèges. A disputa para quem leva o título de “pai do futurismo na moda” ainda segue em discussão, mas, independente de clubismo, a ideia de apostar no desconhecido foi o grande mérito de Rabanne, que não se limitou à estética da época, como Courrèges ao criar as “Moon Girls”. Icônicas? Sim. Mas Paco estava à frente. Assim como quando criou a minissaia (desculpa, Mary Quant!). Ele também foi o primeiro estilista a levar trilha sonora para suas apresentações, que contava com Salvador Dalí na primeira fileira (mais uma razão para Coco Chanel não simpatizar com Paco). 

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A relevância de Paco Rabbane para a moda atual
Jane Fonda usando body desenvolvido por Paco Rabanne para o filme sci-fi “Barbarella”. (Divulgação/Divulgação)

A sua presença no cinema foi além de Barbarella. Inclusive, antes de vestir Jane Fonda, ele desenvolveu o vestido metalizado usado por Audrey Hepburn no filme Um Caminho Para Dois, de 1967, um ano após sua estreia como designer. Mas ainda há quem o conheça pelos perfumes. Em 1968, de olho em Chanel, ele se uniu aos irmãos Antonio e Mariano Puig para apresentar a sua primeira fragrância, a Calandre. Por décadas, o perfume foi um sucesso e, ao longo do tempo, a marca foi se desenvolvendo na perfumaria como uma referência de modernidade — afinal, os códigos da label estavam bem representados, tanto nos frascos quanto nos cheiros. 

Apesar do metal ser o primeiro elemento a vir à cabeça quando pensamos em Paco Rabanne, há uma infinidade de características que podem construir a imagem da marca e seu criador. A ousadia de Francisco Rabaneda Cuervo, designer que fugiu da Espanha na década de 1930 com a família, devido à guerra civil que ensanguentou o país ibérico no final daquela década, não estava escrita naqueles tempos.

Enquanto os costureiros da época criavam a partir de linhas e tecidos leves e sofisticados, ele provou que pinças, pedaços de plástico e marretas poderiam dar à moda uma mistura de sabor medieval, feminino e moderno. Foi assim que a indústria compreendeu que, mesmo com vestidos pesando 30 quilos, era possível inovar. Graças a Paco, que se aposentou das passarelas em 1999 e, na semana passada, faleceu aos 88 anos. Mesmo não estando mais por aqui, ele deixou um legado de contribuições para esse mundo criativo que, segundo ele, sem o metal não poderia ser disruptivo. E quem vai discordar de monsieur Rabanne?

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