Você está sobrecarregada? Entenda os sinais
O psicólogo Luiz Mafle explica que a sobrecarga nem sempre está relacionada à quantidade de tarefas, mas à necessidade de realizar várias ao mesmo tempo
Metas a cumprir no trabalho, cuidados com as crianças, compras a fazer e outras tarefas domésticas… Você pode até achar que consegue dar conta de tudo, mas toda essa sobrecarga pode cobrar um preço alto na sua saúde mental. E não está sozinha nessa. Seis em cada 10 brasileiros se sentem sobrecarregados pelo acúmulo de obrigações e demandas, desde as familiares até as profissionais, de acordo com um levantamento realizado pelo Consumoteca. Outra pesquisa, realizada pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), mostra que 43% dos entrevistados dizem estar com sobrecarga de trabalho e 31% sofrem pressão por resultados e metas.
O psicólogo Luiz Mafle explica, no entanto, que a sobrecarga não necessariamente está relacionada à quantidade de tarefas, mas sim à necessidade de realizar várias delas ao mesmo tempo. “Quando é preciso cuidar de alguém que demanda atenção constante, por exemplo, isso gera uma sobrecarga. O mesmo acontece com um trabalho que apresenta, a todo momento, uma urgência, algo que você precisa checar, verificar, lembrar o tempo todo. Quando essas duas situações se acumulam, é uma bomba. Nesse momento, o nível de estresse e depressão pode dobrar”, alerta. Luiz lista, abaixo, 10 sinais que indicam que você está sobrecarregada:
Tudo a flor da pele
Uma das principais características de uma pessoa que está tentando lidar com diversas tarefas é a irritabilidade. “A pessoa fica muito sensível, isso pode surgir na forma de agressão, ela sendo reativa, ou também ser aquela pessoa que qualquer coisa que digam ela chora. Isso acontece porque ela está tentando se livrar de qualquer outra demanda que possa surgir”, diz o psicólogo.
Insônia
Com tantas tarefas e a cabeça cheia de pensamentos, quem está sobrecarregado começa a ter perda de sono, o que torna a sensação de cansaço mais frequente. “Além disso, a insônia começa a ter impactos na rotina e também na saúde física”, acrescenta o especialista.
Perda de rendimento no trabalho
O excesso de preocupações e tarefas também prejudica o foco e a atenção no trabalho. “Normalmente, quem está sobrecarregado se sente desmotivado e com dificuldades de concentração, o que pode impactar diretamente na rotina profissional”, diz Luiz. Ele recomenda cuidado com a irritabilidade, que pode ocasionar conflitos com os colegas.
Aumento ou perda de apetite
A sobrecarga emocional também atinge a forma como cuidamos do nosso corpo e alimentação. “Tem gente que esquece de comer e outras pessoas que descontam os sentimentos na alimentação. Esse desequilíbrio é sinal de que o corpo e a mente precisam de ajuda”, explica Luiz.
Sentimento de fracasso
“Com tantas atividades sob seu controle, a pessoa sobrecarregada muitas vezes não consegue dar conta de tudo e se sente frustrada e com o sentimento de desamparo. Ela começa a abraçar o mundo e isso a sufoca e frustra”, diz o psicólogo.
Ansiedade
Quando vivemos além dos nossos limites normalmente também estamos em estado de ansiedade. “O cansaço mental pode vir acompanhado de dores no peito, falta de motivação e crises de ansiedade. Com tantas preocupações é comum que os indivíduos fiquem mais ansiosos e comecem a criar diferentes cenários em sua cabeça, o que pode aumentar ainda mais os gatilhos para ansiedade.”
Depressão
Quando vivida por longos períodos de tempo, a sobrecarga é um dos principais fatores que desencadeiam ansiedade e depressão. Se você alcançou seus objetivos e, depois disso, fica pelo menos um pouco mais relaxada, está tudo bem. Mas se as demandas não cessam nunca e você começa a se sentir frustrada e paralisada, sem tempo e disposição para viver outras coisas além do trabalho ou das demandas, esse é um grande sinal de alerta. “A pessoa vai se sentindo pior, cansada, sem energia, não consegue ter uma vida pessoal nem um autocuidado, vai se sentindo desvalorizada, abandonada, e isso aumenta o nível de ansiedade e depressão”, alerta Luiz Mafle.
Isolamento
Em um nível mais avançado de sobrecarga, a pessoa começa a se fechar, abandonando o contato com familiares e amigos. “Ela se fecha e não conta com mais ninguém, quer se isolar. Tudo parece virar uma exigência, então ela acha que qualquer outra demanda vira uma tarefa e, assim, começam os problemas nas relações interpessoais”, explica o psicólogo.
Abandonar o autocuidado
A sobrecarga elimina qualquer tempo e oportunidade de olhar para si mesma. É comum que pessoas nessa situação percam o prazer em se cuidar. Em casos extremos, alerta o especialista, algumas pessoas deixam de lado até os hábitos de higiene. “Há quem deixe de se olhar com carinho e atenção, porque a exaustão tomou conta e o autocuidado se torna mais uma tarefa em meio a tantas”, revela.
Não buscar ajuda
“É importante buscar ajuda e se cuidar. Uma pessoa com sobrecarga tira muito proveito da psicoterapia, porque ela vai compreender quais os motivos levam-na a assumir todas essas responsabilidades de uma só vez e, provavelmente, sozinha”, ressalta Luiz. Ele explica que, muitas vezes, a pessoa sobrecarregada se sente menos valorizada, então, para mostrar seu valor, passa a assumir muitas tarefas. Assim, os outros podem ver que ela tem capacidade de realizar as coisas. “A psicoterapia é fundamental para ver até que ponto a responsabilidade deve ser assumida e até que ponto ela deve ser compartilhada com alguém, porque, muitas vezes, a crença de não ser amada e não ter valor nos fazem tomar decisões, atitudes e pensamentos que nos colocam em enrascadas sem saída. A terapia é um ótimo lugar para encontrar novas possibilidades de lidar com as situações, trazendo menos peso para nosso dia a dia”, recomenda.