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“Cadê o namorado?”: A romantização da dependência emocional

Não consegue viver sem o parceiro? Entenda a constante romantização da dependência emocional e como lidar com o problema

Por Adriana Marruffo
29 out 2023, 08h08
Gerações vem normalizando a impossibilidade de se separar do parceiro como se fosse uma verdadeira noção de romance (Everton Vila/Unsplash)
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Quantas vezes você já foi questionada sobre a saúde do seu relacionamento ao sair sem o seu parceiro(a)? Apesar de diversas conquistas sociais (que, claro, comemoramos muito!), este tipo de pergunta segue sendo realidade, reforçando um padrão tóxico que penaliza o tempo solo e aplaude os casais que conseguem dar um jeito de fazer absolutamente tudo juntos –  até sair com os grupos de amigos. Algo que podemos considerar, sem exageros, de uma romantização da dependência emocional

“Nos últimos anos, vemos uma crescente romantização da dependência emocional, à medida que as redes sociais e a cultura da ‘metade da laranja’ continuam a promover a ideia de que alguém precisa de outra pessoa para ser completa”, analisa Thiago Guimarães, psicoterapeuta com especialização pelo Instituto Junguiano de Ensino e Pesquisa de São Paulo.

Mas por que a diversão longe da pessoa que amamos tem se tornado uma crise na sociedade? 

O culto à dependência emocional

Não é raro vermos, na cultura pop e na vida real, a clara romantização de relacionamentos dependentes, nos quais o casal não pode se separar por um segundo sem que sinta que a vida não tem sentido.

Há também os casais que não conseguem se separar, e planejam cada aspecto de suas rotinas para que possam estar juntos  – desde a hora do café da manhã até o desligar as luzes. Pode parecer adorável e até invejável ter alguém que te ame tanto a ponto de precisar de você, mas a verdade é que a falta de tempo solo e a necessidade dessa companhia constante pode ser prejudicial.

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“A mídia e a cultura popular frequentemente retratam relações intensamente passionais, onde os parceiros não conseguem viver um sem o outro, o chamado ideal romântico. E quando pensamos individualmente, isso é visto de uma forma negativa, como egoísmo. Portanto, para muitos, se não há essa fonte total e absoluta de relação, não há amor”, explica Larissa Fonseca, psicóloga com abordagem cognitiva comportamental e Membro da Sociedade Brasileira de Psicologia.

Relacionamentos intensos são retratados como prova de amor verdadeiro, o que tem nos levado a acreditar que essa dependência é uma forma saudável de se relacionar, valendo para parceiros românticos, amizades e, inclusive, familiares. Não somente aplaudimos, mas sonhamos com viver algo assim, o que nos causa um certo desapontamento quando não recebemos essas mostras de amor exageradas e desmesuradas. 

Fonseca ainda destaca a carga carregada pela indústria cinematográfica, sendo uma das indústrias a frequentemente romantizar o problema, o que gera visões distorcidas de relacionamentos: “Veja a saga Crepúsculo, a menina (Bella Swan) abre a mão da própria vida, porém, não é uma relação abusiva, mas é uma forma de abrir mão de quem é para estar com outra pessoa”, brinca a psicóloga, referenciando a transformação de Swan em um vampiro para ficar com seu amado. 

A problemática por trás 

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A romantização da dependência emocional traz o perigo de perpetuar relacionamentos prejudiciais (Priscilla Du Preez 🇨🇦/Unsplash)

Não, esses romances dependentes não deveriam ser descritos como fofos ou, inclusive, metas de relacionamento. “A romantização da dependência emocional socialmente traz o perigo de perpetuar relacionamentos prejudiciais. A idealização do amor intenso e possessivo pode levar as pessoas a se submeterem aos relacionamentos não saudáveis”, alerta o psicoterapeuta.

E não somente isso, a normalizaçãopode disseminar ideais falsos de relacionamento, além de fazer diversos casais saudáveis se questionarem se suas visões de romance estão erradas, trazendo uma sensação de culpa cada vez que saem e aproveitam sua própria companhia.

Existir individualmente é visto como desinteresse no outro ou egoísmo. Precisamos nos recordar que as mulheres têm uma trajetória de existir a partir do marido: ela devia respeitar e ser submissa. Inclusive, quando relatado dentro da família que um cônjuge viajou separado, estar se divertindo com amigos causa uma estranheza nas pessoas com mais idade”, relata Larissa. 

Identificando a dependência emocional

Larissa descreve a paixão como uma dependência química, tendo “o poder de influenciar o colorido da vida”, sendo difícil se desintoxicar dessa liberação neuroquímica, resultando em relacionamentos dependentes.

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“A dependência emocional é caracterizada por alguém que confia inteiramente em outra pessoa para encontrar a felicidade. Isso significa que a felicidade não é cultivada internamente, levando a pessoa a buscar constantemente a presença do outro como uma fonte de validação da própria existência”, explica.

Dentre os sinais de alerta para possíveis casos de dependência emocional, Thiago destaca a necessidade constante de aprovação, medo constante da solidão, ciúmes excessivos e falta de autonomia.

E os perigos disso? “Os perigos incluem perda de autonomia, baixa autoestima, vulnerabilidade a relacionamentos abusivos e negligência do próprio bem-estar. O objetivo da pessoa é agradar e viver bem com o outro, porém, como sempre cede, essa paz na relação se torna muito breve”, enumera Larissa.

Quando não tratada adequadamente, a dependência emocional pode evoluir para sintomas graves, tais como depressão, transtornos alimentares, transtornos de ansiedade, estresse, abuso de substâncias, insônia e autodestruição. 

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Lidando com a dependência emocional

“Lidar com a dependência emocional envolve reconhecimento, autoconhecimento, apoio terapêutico e a busca por um equilíbrio entre a conexão emocional e a individualidade”, recomenda o psicoterapeuta.

Além disso, Larissa explica que é necessário compreender as origens da dependência, diferenciar relacionamentos saudáveis de tóxicos e aprender a se valorizar, colocando-se em primeiro lugar.

E lembre-se, o tempo a sós é valioso e extremamente saudável, inclusive, para o relacionamento.

“Aprimorar a comunicação e aproveitar momentos sozinhos são importantes. Desenvolver paciência, autoconhecimento e contar com uma rede de apoio auxiliam no processo. Compreender que a dependência emocional tem grande base na infância e para mudar essas crenças não se resolve de forma tão breve”, acrescenta ela.

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Há grandes diferenças entre a dependência emocional e um amor saudável. O amor saudável é baseado em respeito mútuo, autonomia, apoio e comunicação aberta, uma relação onde ambos se incentivam para o crescimento – enquanto que a dependência emocional envolve uma necessidade excessiva de aprovação e apoio de outra pessoa, constante às custas da própria autonomia, liberdade e bem-estar.

E aí, vamos praticar nosso tempo a sós?

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