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O abandono de mulheres com câncer por parceiros amorosos

Cerca de 70% de pessoas do sexo feminino sofrem uma separação ao entrarem em um tratamento

Por Lorraine Moreira
Atualizado em 14 set 2023, 17h40 - Publicado em 14 set 2023, 09h36

Quem cuida das mulheres quando elas adoecem? Ensinadas a amparar desde a infância, essas pessoas são as mais abandonadas em situações de extrema fragilidade, como durante o tratamento de uma doença grave. Prova disso é Preta Gil, que precisou lidar com traição, separação e terapia contra o câncer, tudo junto, neste ano.

A história da cantora reflete a de tantas outras brasileiras: 70% das pacientes oncológicas são impactadas pelo abandono, segundo uma pesquisa da Sociedade Brasileira de Mastologia (SBM), divulgada em abril de 2023. Ou seja, sete em cada dez mulheres com câncer no Brasil sofrem um término durante o tratamento.

“O diagnóstico de uma doença grave pode causar um impacto significativo nas relações amorosas, e os efeitos psicológicos do abandono após essa descoberta são profundos e variados”, afirma a psicóloga Nayana Ribeiro.

Abandono x saúde mental e tratamento

“O câncer é a multiplicação anormal das células”, explica a médica Marina Cambuy. Entre os principais tratamentos, aparecem as sessões de quimioterapia e radioterapia, responsáveis por uma série de efeitos colaterais. Enjoos, vômitos, cansaço, queda de cabelo, unhas fracas, pele sensível, enfraquecimento do sistema imunológico são alguns típicos da primeira, de acordo com a mastologista Karina Lima. Fadiga, irritação e alterações de cor na pele, além de sensibilidade no local, são da segunda.

“Os fatores emocionais devem ser reforçados, pois lidar com o diagnóstico e os efeitos colaterais é emocionalmente desafiador”, indica Marina. É nesse contexto de fragilidade que o abandono pesa ainda mais para a saúde mental.

“O abandono após o diagnóstico de uma doença pode ser interpretado como uma traição emocional”, afirma Nayana Ribeiro, que completa: “Ser deixada pelo parceiro em meio ao tratamento pode levar a uma intensa sensação de rejeição e inadequação.” Exatamente por isso, questionamentos sobre a sua própria autoestima e valor como parceira podem surgir.

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Mulher sozinha em meio ao vazio
Mulheres doentes são mais abandonadas (SHVETS production/Pexels)

“Outra consequência da separação nesse momento delicado é o estresse emocional e a ansiedade resultantes da separação, que podem ter efeitos adversos sobre a saúde física e emocional da pessoa doente, potencialmente piorando sua condição médica”, conforme a psicóloga.

Além disso, a separação também pode levar ao isolamento social. “O término após um diagnóstico de doença grave também é capaz de desencadear sintomas de depressão e ansiedade na pessoa afetada, tornando o processo de tratamento e recuperação mais desafiador.”

O abandono também é capaz de minar a confiança da pessoa doente nos relacionamentos que ainda estão por vir, tornando mais difícil estabelecer novos vínculos e confiar em outros parceiros em potencial, de acordo com ela. Outro ponto são as implicações financeiras dessa decisão, porque lidar com todas as despesas médicas, psicológicas e do próprio divórcio sozinha é uma possibilidade.

A retirada do seio

“O câncer de mama é uma neoplasia maligna, que ocorre quando uma célula atípica, diferente da normal, que têm a capacidade de invadir tecidos próximos cresce de maneira descontrolada. Essa capacidade de invasão é o que dá a ela a chance de se espalhar para outras partes do corpo e desencadear o que chamamos de metástases”, esclarece Karina.

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Cirurgia, quimioterapia, radioterapia, imunoterapia e terapia hormonal são tratamentos para a doença. Falar especificamente sobre a primeira opção é necessário porque, aliada às questões anteriores, a mulher pode sentir as consequências em sua saúde mental.

“A mastectomia é a cirurgia que envolve a remoção total de uma mama. A forma clássica incluía a retirada dos músculos peitorais e esvaziamento total da axila, mas hoje existem técnicas poupadoras de pele e mamilo onde fazemos apenas a retirada da glândula mamária, o que permite a reconstrução imediata da mama. Ela é frequentemente realizada como parte do tratamento para o câncer nessa região, mas também pode ser realizada como medida preventiva em casos de pacientes com alto risco de desenvolvimento da doença”, esclarece Karina.

O ponto negativo, porém, é o impacto emocional significativo nas mulheres, afetando sua autoestima, imagem corporal, vida sexual e saúde mental, segundo a médica. “As mamas são um símbolo de feminilidade e qualquer alteração nelas pode trazer sentimentos variados. Mas cada paciente é única, e o impacto da mastectomia pode variar de pessoa para pessoa.”

Diferentes casais, diferentes reações

“Nem todos os casais reagem da mesma forma a um diagnóstico de doença grave. Alguns podem se unir ainda mais durante esse período desafiador, demonstrando apoio mútuo e força”, pontua Nayana, que indica o acompanhamento psicológico e emocional quando há o abandono.

“Cada relacionamento possui suas especificidades, e as razões por trás de uma separação podem ser complexas e variadas. Às vezes, fatores externos, como pressões financeiras, podem desempenhar um papel na decisão de um parceiro de se separar, embora a doença seja um fator contribuinte. O aconselhamento profissional, tanto individual quanto em grupo, pode ser valioso para ajudar a pessoa a lidar com os desafios emocionais de uma separação após um diagnóstico de doença grave como o câncer”, termina a especialista.

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