Era para ser um vídeo comum de dois adolescentes brincando, mas a internet respondeu com ódio, o que pode ter levado ao suicídio do filho da cantora de forró Walkyria Santos, nesta terça-feira (3). Lucas Santos, 16 anos, foi encontrado morto na sua casa, em Natal, Rio Grande do Norte, conforme informação apurada pelo UOL.
Na postagem, o garoto simulou um beijo com um amigo. O objetivo era apenas fazer uma brincadeira, mas o vídeo foi visto mais de 10 mil vezes na plataforma TikTok, atraindo diversos tipos de comentários homofóbicos.
O menino chegou a gravar outro vídeo para explicar a brincadeira, mas mesmo assim os internautas seguiram destilando hostilidade e homofobia. “Provavelmente vai chegar na minha tia, que vai me dar um bofete. Somos apenas amigos e héteros”, disse Lucas no vídeo. “Tô fazendo isso para não tomar uma surra tão grande, tão merecida. A gente é só amigo”, salientou o jovem, que sofria com transtornos mentais, segunda a sua mãe.
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Em luto, a cantora de forró Walkyria Santos lamentou a morte do filho pelo Instagram, em um vídeo em que aparece totalmente abalada. Walkyria expressa sua tristeza por ter perdido o garoto deste modo e reprime os responsáveis.
“Hoje, perdi meu filho, mas preciso deixar esse sinal de alerta aqui. Tenham cuidado com o que vocês falam, com o que vocês comentam. Vocês podem acabar com a vida de alguém. Hoje sou eu e a minha família quem chora”, afirmou Walkyria nas redes sociais.
Homofobia mata
Só no Brasil, em 2020, o preconceito levou à morte mais de 5 mil pessoas LGBTQIA+, segundo dados do Observatório de Mortes Violentas de LGBTI+, levantados pelos grupos Acontece Arte e Política LGBTI+ e Grupo Gay da Bahia (GGB). A cada 23 horas uma pessoa morre por homofobia no país, de acordo com o GGB.
As mortes são provocadas por agressão física, mas também psicológica, já que a pressão e a violência levam ao suicídio muitas vezes. Mesmo se identificando como heterossexual, Lucas foi inserido na mesma lógica de letalidade do preconceito motivado por orientação sexual.
Como proteger crianças e adolescentes na internet
Para a psicóloga Marilene Kehdi, é urgente não só reconhecer como frear o discurso de ódio na internet. “Os comentários maldosos nas redes sociais, vindos de pessoas que descontam suas frustrações e situações mal resolvidas nos outros, acabam afetando muito o estado psicológico de quem recebe as agressões. As mais vulneráveis caem em depressão e até tiram a própria vida. A situação pode ser ainda pior na adolescência, fase em que buscamos muita aceitação do próximo”, alerta a especialista.
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Marilene ainda salienta que a adolescência é uma fase de descobertas, por isso os pais devem estar sempre atentos com quem o filho conversa, o que consome e posta.
“O jovem precisa se sentir à vontade para compartilhar suas angústias, frustrações e, assim que o responsável notar que algo não vai bem, deve levá-lo para a terapia. Assim evitamos que uma tragédia aconteça”, aponta.
Por isso, o contato entre responsáveis e menores de idade é uma das principais formas de proteção e prevenção para os desdobramentos dos ataques virtuais.
No caso de crianças, a advogada Karem Correia, vice-presidente da Comissão de Direito Digital, Startups e Inovação da OAB do Amazonas, afirma que “os pais, além de terem acesso a redes sociais dos filhos e senhas, precisam delimitar horários para os mesmos usarem a internet”.
Com os adolescentes, a imposição nem sempre é o melhor caminho, mas “com muito diálogo e transparência”, como afirma Karem, o acompanhamento nas redes se torna mais seguro.
A especialista lembra que recentemente foi aprovada a lei que alterou o artigo 147-A do Código Penal, que criminaliza o ato de perseguição, também conhecido como stalking. “Eventualmente, este novo artigo pode ser invocado a fim de penalizar quem tenha dado causa à ação do adolescente. Além da possibilidade, após apreciação mais detalhada, da inclusão nos crimes de homofobia e bullying digitais”, afirma.
Peça ajuda
Assim como a orientação da psicóloga Marilene, reforçamos a importância de buscar ajuda com qualquer desconforto emocional. Uma das formas de ter um atendimento rápido e anônimo é pelo Centro de Valorização à Vida (CVV), que funciona 24 horas e disponibiliza apoio emocional. Caso precise de ajuda, ligue no número 188. A ligação é recebida por um voluntário de forma sigilosa e gratuita.