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O universo artístico de Nathalie Edenburg

A modelo e empreendedora une moda, arte, joalheria e criatividade para não só inspirar quem a acompanha, mas também viver com um quê de surrealismo

Por Paula Jacob
16 out 2023, 10h57
O universo artístico de Nathalie Edenburg
Nathalie Edenburg veste full look Dior. Styling Alessandra Benenti | Beleza Marcela Hanna | Concepção Visual Catarina Moura (Lara Dias/CLAUDIA)
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B​​asta uma atenção ao feed de Nathalie Edenburg no Instagram (@natyedenburg) para captar o universo mágico do qual ela faz parte. Nascida em Juiz de Fora, Minas Gerais, e crescida em São Paulo, a modelo de 31 anos tem uma carreira frutífera que, a cada ano, se ramifica em novas possibilidades.

Hoje, também comanda uma marca homônima de joalheria, com peças que mais parecem obras de arte de vestir, pinta quadros com motivos surrealistas e inspira os seus seguidores com postagens que sintetizam as intersecções de tudo isso. Ah! Também está na aventura da maternidade, com a sua primeira filha, Sophie — na época das fotos e entrevista desta reportagem, ela estava com oito meses de gestação; agora, a bebê já está rodeada de amor dos amigos e familiares.

Nathalie começou a trabalhar jovem, aos 13 anos, viveu em Paris, Japão, Nova York e Londres, estampou editoriais em revistas, fez campanhas, desfilou em semanas de moda, tudo com apoio e suporte de sua mãe. “Ela foi modelo nos anos 1980, mas teve uma carreira breve porque engravidou de mim”, conta.

O universo artístico de Nathalie Edenburg
Nathalie Edenburg veste full look Dior. Styling Alessandra Benenti | Beleza Marcela Hanna | Concepção Visual Catarina Moura (Lara Dias/CLAUDIA)

“Demonstrei interesse no ramo, porque admirava a história dela. Brincava de desfilar em casa, essas coisas de criança (risos).” Apesar de achar a filha ainda nova, indicando que esperasse mais, a vida trouxe uma oportunidade que fez os olhos da menina brilharem. “Uma vizinha ofereceu dois ingressos para irmos em uma festa da Capricho. Aquilo foi um chamado”, diz. 

Chegando lá, uma olheira a notou e Nathalie foi convidada no dia seguinte para conhecer a agência. O início foi inevitável. Aos 14, foi lançada na São Paulo Fashion Week, no programa de new faces (que apresenta novas modelos ao mercado). Porém, pouco depois, precisou interromper a participação por conta de uma lei brasileira que proibia menores de 16 anos nas passarelas. A solução foi jogar Nathalie no mundo, literalmente, e mandá-la para o Japão.

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“Hoje, sei que as meninas começam mais tarde, mas, naquela época, era normal. Sorte que a minha mãe pôde me acompanhar nas viagens internacionais até eu completar quase 18 anos”, relembra. Apoio pelo qual ela não esconde a gratidão, por toda a mistura de pressão, ingenuidade e oportunismo que pode acontecer no meio. “Imagina ir para um país que você não fala a língua, sozinha, aos 13 anos? Ela foi fundamental para me colocar no lugar certo.”

O segundo impacto veio quando ela, entre duas temporadas Brasil-Japão, foi desbravar a Europa e os Estados Unidos. “Os japoneses são corretos, não largavam as modelos pela cidade. Sempre tinha alguém que ia te levar nos castings. Fiz grandes amigas nessa época. Já em Paris e Nova York, senti algo na linha do ‘se vira’. Era mais exposto e muito mais competitivo”, conta.

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Camisa, Dior; bracelete, Nathalie Edenburg. Styling Alessandra Benenti | Beleza Marcela Hanna | Concepção Visual Catarina Moura (Lara Dias/CLAUDIA)

É comum que tenham “apartamentos de modelos”, onde várias jovens convivem durante os meses de experiência e busca de trabalhos internacionais. “Os desafios se apresentam. Existe uma disputa, uma dificuldade, que é natural de qualquer profissão, mas essa, começando tão cedo… A gente se comparava, não tinha como, estávamos ali com o mesmo propósito.” 

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Lidar com isso é delicado, inclusive para o emocional. “Muitas acabam no caminho da inveja ou se colocam em lugares inferiores, achando que o corpo dela não está igual ao da outra. Eu mesma fiz isso, de me comparar, e não é saudável.” O que auxiliou na escapatória para não bitolar nessa frequência foi desbravar os países que teve a oportunidade de conhecer. Museus, parques e restaurantes viraram parte dos intervalos na rotina.

Contudo, a questão do corpo ainda era latente. Ela enfrentou uma pressão estética cruel. “Por volta dos 16 anos, meu corpo começou a mudar. O peito apareceu e as pessoas achavam que era silicone. Na verdade, eu só tinha menstruado. Foi muito difícil, passei por diversas fases, ouvi que precisava emagrecer ‘dois quilinhos’ para desfilar. Cheguei em casa chorando, pensando que o meu sonho poderia ser destruído por causa daquilo, daí parei de comer”, conta.

O universo artístico de Nathalie Edenburg
Nathalie Edenburg veste full look Dior. Styling Alessandra Benenti | Beleza Marcela Hanna | Concepção Visual Catarina Moura (Lara Dias/CLAUDIA)

A situação se agravou. “Não temos orientação, fiz dietas, tomei remédios. Eu sou magra, mas para estar no padrão exigido, eu tinha que passar do meu limite saudável. E sempre que conseguia, trabalhava mais, recebia elogios, a minha vida caminhava. Então, passei a associar magreza ao sucesso, à felicidade.” O que não é incomum, não só na moda.

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Segundo Nathalie, isso a levou para um looping de armadilhas. “Mexeu com a minha cabeça, porque a saúde física interfere na mental. Sentia culpa, vergonha. Minha mãe percebeu que eu não estava bem, me auxiliou no processo de entender que o meu corpo era lindo. Foi aí que mudei de agência e cheguei na nova falando: ‘Não quero fita métrica toda semana, estou bem, me gosto do jeito que sou.’”

Essa virada de chave desencadeou nela uma busca pelo autoconhecimento, um reencontro com o próprio corpo, com auxílio da meditação, yoga e terapias. “Só assim entendi tudo o que tinha passado. E tenho certeza que tantas outras passam por isso também”, pontua. “O que acho fantástico nos dias de hoje é a questão da aceitação dos corpos diversos e personalidades diversas. São milhares de belezas possíveis. Claro que problemas ainda existem, não podemos dizer que não, mas é mais sutil.”

O universo artístico de Nathalie Edenburg
Camisa e bolsa, ambos Dior. Styling Alessandra Benenti | Beleza Marcela Hanna | Concepção Visual Catarina Moura (Lara Dias/CLAUDIA)

Virada de ofício

Se depender de Nathalie Edenburg, ela vai modelar até os 80 anos, mas o interesse pela joalheria veio de maneira orgânica e avassaladora. “Desde criança, sou apaixonada por pintura. Quando viajava a trabalho, levava os meus cadernos de desenho. Só nunca imaginei ter habilidade para ser artista, sabe? Era um hobby, que evoluiu”, diz. Motivo o suficiente para fazê-la mergulhar na área. 

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Durante uma estadia em Londres, participou de uma experiência artística no ateliê de um criativo local, disposto a dar assistência aos presentes. “Eu acredito que todo mundo tem um potencial artístico, uma capacidade de se conectar com o estado criativo, seja ele manifestado pela música, pela pintura, pela fotografia, pela escrita.”

Do hábito de registro nasceu o primeiro projeto, How Do I Feel Today (em tradução livre, como eu me sinto hoje). Nele, Nathalie usava uma imagem replicada do seu rosto, a cada dia, e pintava sobre ela os seus sentimentos. “Foi assim, usando a arte como ferramenta de autoconhecimento e autoexpressão, que passei a acreditar que o artista não é um tipo especial de pessoa. E, sim, que cada pessoa é um tipo especial de artista”, defende.

A ideia se desdobrou em outra vertente, com crianças em workshops oferecidos para ONGs parceiras e comunidades. “Digo que esse projeto é a minha missão. A arte me salvou em vários lugares, e acredito que ela pode salvar outras pessoas também.”

O universo artístico de Nathalie Edenburg
Colar, Nathalie Edenburg. Styling Alessandra Benenti | Beleza Marcela Hanna | Concepção Visual Catarina Moura (Lara Dias/CLAUDIA)
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Do diário pintado, Nathalie também passou a elaborar quadros (na decoração das fotos desta reportagem), vendidos por ela mesma, de maneira intimista e despretensiosa. Um pulo natural para o desenvolvimento das peças da sua marca, fundada em 2019. “Trabalhei em Barcelona e pude imergir nos universos de Gaudí e Dali. Descobri que vários artistas faziam joias e pensei que elas poderiam ser uma extensão, enquanto objeto funcional.”

A ideia perfeita para unir a modelo, a artista e a empreendedora que vivem em Nathalie. Da Espanha, voltou para Nova York, fez um curso de joalheria artesanal, mudou-se para São Paulo, seguiu com os estudos também voltados para negócios — “Ter uma marca não é só ser criativa” — e profissionalizou a operação em 2020, com campanha, coleção e site. “Oscar Wilde disse: ‘Deve-se ser uma obra de arte ou vestir uma’. Eu acho tão bonito ver as pessoas usando as peças.”

E a criação também transbordou no corpo, à espera de Sophie. “O trabalho nunca parou. No começo da gestação, fiquei muito cansada, precisei postergar o lançamento de uma coleção, mas, depois, veio uma energia incrível. Parece que você está conectado com esse estado criativo. Eu estou criando um bebê, essa energia está em mim. Acabei explorando isso, não na pintura (pensei que fosse), mas em outros projetos, como os vídeos que faço para as redes sociais e os acessórios”, compartilha.

É nítida a alegria de Nathalie diante da nova etapa de sua vida pessoal e profissional. Daqui, nós torcemos para que a jornada seja ainda mais poética.

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