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Gordofobia no Papo Aberto: O florescer da resiliência

Elas são inspiração para milhares de pessoas. Aqui, revelam como construíram suas autoestimas apesar da gordofobia

Por Em depoimento a Gui Takahashi
Atualizado em 11 jul 2023, 19h10 - Publicado em 25 abr 2023, 06h25
gordofobia
Gabi Menezes, Mabê Bonafé e Letticia Munniz falam sobre autoestima e gordofobia.  (Getty Images/Getty Images)
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Aqui, no Papo Aberto, reunimos relatos de mulheres que inspiram milhares de pessoas nas redes sociais e na vida real, e que foram capazes de elevar suas autoestimas apesar da gordofobia que, infelizmente, ainda é comum.

Gabi Menezes (@gabimenezes)

gabi menezes - papo aberto sobre gordofobia
GABI MENEZES (@gabimenezes) é psicóloga e fundadora do movimento Saúde Sem Gordofobia. (Mayra Azzi/CLAUDIA)

“Um dos dos episódios mais difíceis de gordofobia que passei foi quando descobri que estava grávida, já na décima quarta semana de gestação, aos 25 anos. Como não estava menstruando, fui ao ginecologista. Enquanto falava o que vinha sentindo, ele olhou o meu pescoço, sem sequer olhar nos meus olhos. Percebeu que era um pescoço gordo, da forma como sempre foi, e deduziu que eu não menstruava por uma alteração na tireoide. Ele simplesmente descartou a possibilidade de estar grávida e pediu só um ultrassom da tireoide, explicando que seria algo comum ‘por conta do meu peso’.

Na hora, aceitei sem questionar porque a gente confia na conduta médica. No entanto, busquei outra ginecologista que acabou fazendo o ultrassom na minha barriga. Eu estava tranquilíssima, até a hora em que vi uma criança lá dentro. Fiquei sem acreditar. Tinha ido sozinha, considerando que seria uma consulta de rotina. Depois, ao examinar a tireoide, claro, não tinha nada. Mais tarde, contando isso para uma amiga, ela me apontou que eu tinha sofrido gordofobia pelo primeiro médico. Só então me dei conta. Vi jogado em mim um estigma de que mulheres gordas não engravidam, não transam, não se casam. Naquele momento, me deu uma sensação de impotência, revolta e raiva.

Essa experiência toda virou um trauma para mim. Ano passado, fui fazer novamente um ultrassom e tive crise de ansiedade porque eu estava com muito medo de um exame novo. Só que não parou por aí. Com um terceiro médico, o que acompanhou minha gravidez, também passei por constrangimentos. Não ganhei peso durante a minha gestação, mesmo sem seguir dieta. Mas todas as vezes que eu ia nas consultas pré-natal, esse médico via que eu não tinha engordado e insistia em dizer: ‘Não é porque você não engordou que vai comer McDonald’s ou pizza’. Foram pequenas violências gordofóbicas constantes durante toda minha gestação. Eu acho que não superei esse episódio porque os traumas ficam. Mas fui ler mais sobre gordofobia, ser mais ativista e fazer terapia.

Fico feliz de ter meu filho que me fala que estou linda todo dia, que repara nas minhas roupas, na cor das minhas unhas, quando troco o óculos; de ter meu marido, uma pessoa que me ama como eu sou e se orgulha de mim; ter amigas gordas que me fazem sentir bem na companhia delas. Hoje, como psicóloga, tento proporcionar acolhimento para minhas pacientes. É importante entender que aquela pessoa gorda não está errada, como é imposto e visto, já que a gordofobia é estrutural. Por isso, criei o Saúde Sem Gordofobia e atendo só mulheres, em especial mulheres gordas.”

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Mabê Bonafé

Mabê Bonafé - papo aberto sobre gordofobia
Mabê Bonafé (@ma_b) é escritora, roteirista e podcaster. (Mayra Azzi/CLAUDIA)

“A minha relação com o meu corpo nunca foi só sobre o peso em si, até porque variava de tamanho, entre ser magra e ser gorda. Mas demorei para me achar bonita porque passei muito tempo tentando ser o que eu não era para caber numa caixinha de estilo, de sexualidade, de mundo que não combinava comigo. Mudei algumas vezes de cidade e de escola durante a adolescência. Estudei em colégios católicos e escolas religiosas, e vivi no interior de Minas Gerais. Lá, as pessoas tinham uma cabeça mais fechada.

Eu era uma menina que gostava de jogar RPG com dez amigos, sendo a única garota. Lembro de ser tachada de masculina, de não ser tão vaidosa como minhas outras colegas. Havia comentários das pessoas ao meu redor e eu sofria porque não via o meu comportamento como ‘de homem’ ou ‘de mulher’, simplesmente fazia o que eu gostava.

Amadurecer me fez mergulhar num processo de autoconhecimento. Hoje, sou vaidosa, vejo a moda como um instrumento para mostrar minha essência. Por isso, a minha autoestima estampa minhas roupas, minha vida, meu trabalho. Autoestima, para mim, é encontrar uma forma de você viver a sua verdade. Parte disso se completou já perto dos meus 30 anos de idade.

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Comecei a me sentir orgulhosa do meu trabalho, dos conteúdos que eu produzia, dos roteiros que escrevia. E ter publicado um livro [Modus Operandi] foi a realização de um sonho. Fiquei emocionada quando teve a Bienal do Livro. Principalmente porque nosso podcast [hômonimo ao livro, feito com Carol Moreira] surgiu durante a pandemia, então não tinha como a gente sair na rua, encontrar os amigos e falar que tinha lançado um projeto como esse. A forma de divulgar era, até então, só pelas redes sociais. A reabertura, em 2022, me fez encontrar pessoas que me ouviam. Senti que tem gente que me acompanha, que gostou do livro, que curte o conteúdo que eu produzo, que eu acredito. Foi muito especial.”

Letticia Munniz

Letticia Munniz - papo aberto sobre gordofobia
Letticia Munniz (@letticiamunniz) é apresentadora, modelo e influencer. (Mayra Azzi/CLAUDIA)

“Hoje, depois de ter odiado muito meu corpo, me amo bastante e por completo. No entanto, ainda existem coisas que me afetam. Apesar de não ser considerada uma mulher magra, não sofro a retirada de direitos e até de respeito que uma pessoa gorda maior sofre. Então, por exemplo, eu caibo nos assentos, se eu precisar fazer um exame os aparelhos suportam, eu caibo num banheiro de avião, dentre outras coisas que a gordofobia tira das pessoas gordas maiores.

Assim, vejo que o que eu sempre sofri foi uma pressão estética dos espaços que eu ocupei ou queria ocupar. Mas o que me marca muito é como eu, que sou uma mulher fora do padrão de magreza, em alguns ambientes que frequento, não sou desejada. Enquanto umas pessoas ficam com as outras e beijam e têm as coisinhas, eu nunca estou nesse lugar do desejo. Não sou requisitada nem considerada. É basicamente como se eu fosse eternamente a ‘amiga gorda’. Eu sou sempre ‘bonita para uma gorda’. Só que, ao mesmo tempo, sou sexualizada pelo formato do meu corpo, por ter peito e bunda grande, coxas grossas. Isso fica nítido em determinados espaços.

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Apesar disso, me sinto feliz em ver o que conquistei. Uma das coisas mais marcantes para mim, nesse sentido, foi quando passei a fazer os merchans do Domingão. Desde nova, sabia que meu sonho era ser apresentadora. E o mundo me fez aprender pelas revistas, pela TV ou até pelas coisas que eu ouvia dos outros que com o corpo que eu tinha, não conseguiria. Por muitos anos, foi assim. Existiu um padrão de beleza criterioso e inalcançável para mulheres estarem na televisão.

Por isso, quando recebi a ligação com a notícia da minha aprovação para o programa, chorei. Depois de dez anos ouvindo ‘não’, escutei um ‘sim’. Ali, senti que toda minha luta tinha valido a pena. E cheguei lá pelo meu talento, por tudo que eu estudei, pela faculdade e cursos que fiz, pela mulher que eu cultivei aqui dentro. Mais ainda em se tratando do Domingão, que teve um apresentador gordo. O Faustão é um homem, então a pressão recai muito diferente sobre eles e sobre uma mulher. Essa conquista foi um divisor de águas.”

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