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Futuro Planejado: A importância de se preparar financeiramente

Com base em suas vivências, limitações, fortalezas e introspecções, mulheres em diversos momentos da vida definem rotas para um amanhã próspero

Por Angelica Mari
19 out 2023, 07h38

Ao alto de um edifício em São Bernardo do Campo (SP), Rita de Cássia dos Santos observa o vai e vem dos pacientes e funcionários do hospital onde um dia ela mesma trabalhou. A vida em apartamento é uma novidade, assim como não ter mais a rotina frenética que manteve por décadas cuidando da casa, da família e de dois empregos em que atuava como auxiliar de enfermagem.

As jornadas de trabalho sem folga para acelerar a construção de patrimônio em meio ao divórcio, bem como a decisão de dividir a própria casa em duas para gerar renda de aluguel, são algumas das estratégias que Rita — hoje com 62 anos e aposentada — encontrou  para não somente sobreviver, mas ter dinheiro para investir no futuro. 

“Sempre tive vontade de ter uma vida boa e disposição para correr atrás desse objetivo, e empreguei meu dinheiro com propósito”, diz Rita, que nasceu na comunidade do Cachorro Assado, em Itororó (BA). Tudo ali girava em torno da possibilidade de emigrar para São Paulo, diz ela, que não pestanejou quando teve a chance de morar com parentes no interior paulista, aos 14 anos de idade. 

Recém-chegada, logo conseguiu o primeiro emprego para cuidar de uma idosa em São José dos Campos (SP). A experiência abriu os olhos de Rita para a importância de se planejar financeiramente.

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“Eu analisava muito a velhice de outras pessoas e queria que a minha fosse tranquila”, pontua. Ela concentra seus investimentos na poupança e na casa, que pretende vender para comprar o apartamento que atualmente aluga, além de outro imóvel. 

Garantir uma velhice sem sobressaltos financeiros também foi o foco da assistente social aposentada Sonia Rodrigues da Penha, de 67 anos, que se formou psicóloga aos 55 e hoje atua em Vitória (ES) com pacientes que têm sofrimento psíquico em decorrência do racismo. “Na condição social da qual venho, o dinheiro sempre foi muito desejado — e quando alcançado, segurado com muita determinação”, frisa. 

Atualmente, Sonia, que além do trabalho em consultório atua como gestora cultural, tem imóveis e poupança que viabilizam sonhos, como idas anuais ao continente africano. “Ter dinheiro sempre foi algo muito significativo”, diz a psicóloga sobre as boas escolhas profissionais que fez e a atitude cautelosa com dinheiro ao longo da vida. “Sempre tive meu plano de ascensão: digo isso sem medo de ser feliz.”

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Apesar de não pensar muito na velhice, quitar o próprio imóvel é parte da rota para a prosperidade da analista de marketing sênior Amanda Leite, de 27 anos: “Paguei o equivalente a 11 anos de financiamento nos últimos dois anos, e ainda assim consigo economizar. Tenho uma vida muito mais confortável do que a minha mãe conseguiu ter, mesmo trabalhando a vida inteira”. Ela foca na renda fixa para investir, além de ter ações da empresa onde trabalha e um pequeno aporte em cripto. 

Eu analisava muito a velhice de outras pessoas e queria que a minha fosse tranquila

Rita de Cássia dos Santos, 62 anos

Histórias como a de Rita, Sonia e Amanda ilustram uma transformação, ainda que tímida, no cenário de investimentos brasileiro: o número de mulheres que possuem alguma aplicação financeira subiu de 28% em 2021 para 33% em 2022, segundo um estudo da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima), divulgado este ano em parceria com o Datafolha. O estudo também revela que a maioria das que não investem (79%) enfrentam entraves como a falta de dinheiro e o salário baixo. 

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Entre as diversas nuances que explicam o baixo percentual de mulheres investidoras também está a falta de educação financeira
Entre as diversas nuances que explicam o baixo percentual de mulheres investidoras também está a falta de educação financeira (Alexander Grey/Unsplash)

Entre as diversas nuances que explicam o baixo percentual de mulheres investidoras também está a falta de educação financeira. Isso faz com que mulheres “tateiem no escuro” em decisões financeiras equivocadas, que se agravam quando somadas aos desafios do trabalho, maternidade e cuidado com os mais velhos e a casa, diz Amanda Dias, consultora financeira e criadora do Grana Preta, canal de emancipação econômica para pessoas de baixa renda. 

“O dinheiro — e principalmente a falta dele — constrói memórias de escassez relacionadas a eventos muito traumáticos da vida de algumas mulheres, e isso faz com que elas queiram evitar ao máximo lidar com aquele recurso”, pontua Amanda, acrescentando que um dos efeitos negativos para mulheres que carecem de educação financeira é a tendência de delegar decisões de investimento a uma pessoa parceira que se mostre mais apta. 

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Depois de entrar em um destes relacionamentos, que culminou em abuso patrimonial, Ana Elisa de Rizzo tomou as rédeas do próprio dinheiro. Após o fim do casamento, que também a afastou da própria profissão, ela retomou as qualificações e a atividade como professora de inglês autônoma, aos 46 anos.

“Tive uma educação de princesinha’, em que o marido era responsável pela gestão financeira, e quando jovem não pensava além do momento presente”, diz Ana Elisa, 58. Ela financia um apartamento e investe na renda fixa, além de ter uma reserva de emergência para segurar a onda nos meses de férias, em que os alunos tendem a desacelerar as aulas.  

Outro entrave para que mulheres consigam investir é o endividamento. Um estudo deste ano, da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo, mostra que mulheres lideram o endividamento no país, sendo que mais de 86% das endividadas têm pendências no cartão e 19% em crediário de lojas.

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Acumular dívidas não é uma exclusividade das mulheres mais pobres, diz Evelin Bomfim, educadora financeira com foco em endividadas: “Talvez seja mais fácil se endividar com uma renda maior. Os gostos vão se sofisticando ao longo da vida, e fica mais difícil dar conta de tudo isso”.   

Apesar destes fatores externos, é importante olhar para dentro de forma pragmática, diz Evelin. “O dinheiro é um recurso escasso, então escolhas precisam ser feitas sobre como alocá-lo. Isso exige uma reflexão anterior, sobre o que é prioritário agora e o que vai ser lá na frente”, pontua, acrescentando que desenvolver essa visão de mundo requer uma revisão de valores. “Ter paciência e resistir ao imediatismo exige muito amadurecimento financeiro. Bancar estas decisões não é fácil.”

O que pode ajudar mulheres a contornar as barreiras estruturais que as atravessam e adotar uma mentalidade investidora é o autoconhecimento, diz Ana Minuto, especialista em diversidade e inclusão, e coach que atua com foco em profissionais negros. Para ela, que até os 33 anos de idade “ganhava muito dinheiro, mas vivia dura”, o que virou a chave foi um processo contínuo que incluiu o entendimento da sua própria relação com o dinheiro e padrões financeiros familiares. 

“Hoje, aos 47 anos, entendo que o dinheiro precisa ter um propósito, que é trazer qualidade de vida”, ressalta Ana. Segundo a especialista, também é preciso refletir sobre a finitude da vida como um bom motivo para investir.

“Não dá para achar que chegaremos aos 80 anos com a mesma vivacidade de quando éramos jovens. As coisas vão mudar, apesar da ciência, então cabe um entendimento de qual será o fim que queremos vivenciar”, frisa. 

Para virar o jogo e incentivar mais mulheres a pouparem, Ana destaca a responsabilidade do governo, com a criação de políticas públicas que fomentem a educação financeira feminina — e de empresas, que precisam difundir a pauta entre seus públicos internos e externos. Ela ressalta ainda a importância da autorresponsabilidade no processo. “[A mulher] precisa se apropriar da própria educação financeira, entender que é sobre ela. Precisa trabalhar, realizar, buscar: não dá para esperar pelo marido, pelo filho ou pelo Estado. O governo precisa fazer sua parte e as empresas também. Mas você, enquanto pessoa, tem que fazer o seu movimento, senão as coisas não acontecem”, finaliza.

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