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Bissexualidade: a bifobia e as nuances da orientação

A bissexualidade do ator Gabriel Santana, participante do BBB23, levantou discussões acerca da invalidação da orientação

Por Kalel Adolfo
Atualizado em 24 abr 2023, 17h52 - Publicado em 3 fev 2023, 07h48

Desde que o ator Gabriel Santana se assumiu bissexual no Big Brother Brasil 2023, os internautas inundaram as redes sociais com comentários bifóbicos questionando a sexualidade do participante. Frases como “Ele deve estar confuso” ou “Apenas quer esconder que é gay” foram replicadas inúmeras vezes, invalidando a sexualidade do artista. Mas, infelizmente, não é de hoje que a bissexualidade segue sendo alvo de invisibilização e estereótipos.

Por um lado, a sociedade tenta rotular esta parcela da população LGBTQIA+ como promíscuas ou não confiáveis para um relacionamento. E do outro, há os famosos “fiscais de sexualidade”, que “ordenam” que, para alguém ser considerado bi, é obrigatório gostar de todos os gêneros igualmente.

Gabriel Santana, que se autodeclara como 'biromântico', vem sendo alvo de ataques bifóbicos na internet.
Gabriel Santana, que se autodeclara como ‘biromântico’, vem sendo alvo de ataques bifóbicos na internet. (Globoplay/Reprodução)

Todas essas falas e comportamentos, de acordo com a psicóloga e criadora de conteúdo Cah Fernandes (@eta.nega), são um reflexo da (ainda) naturalizada bifobia, que atinge quaisquer pessoas que não se identifiquem como monossexuais — hétero ou homossexual. “A bissexualidade abarca não apenas homens e mulheres, mas todos os espectros de gênero. Infelizmente, as pessoas não enxergam isso como uma possibilidade. Acham que é apenas uma questão de indecisão ou um período transitório”, diz.

Bifobia e invalidação dentro da comunidade LGBTQIA+

A criadora de conteúdo esclarece que, por ainda sermos orientados por um fundamentalismo cristão que endossa apenas uma forma de viver como correta, os bissexuais também acabam sendo, de certa forma, marginalizados. “Há quem acredite que vivemos em surubas, pegando a mesma quantidade de todos os gêneros para manter a ‘carteirinha bi’. Isso é tão intenso, que até mesmo a própria comunidade LGBT acaba perpetuando esses preconceitos, pois por sermos parte de uma estrutura opressora, acabamos reproduzindo a opressão”, esclarece.

Bissexualidade possui nuances, não regras

Fernandes aponta que ninguém precisa seguir normas quando o assunto é a bissexualidade: “Sim, é possível gostar mais de um gênero do que outro, e ainda assim ser bi. Também existem os ‘biromânticos’, que sentem, por exemplo, mais atração sexual por mulheres e uma maior ligação afetiva com homens, ou vice-versa”, declara.

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Outro ponto importantíssimo: ninguém precisa ter relações físicas ou sexuais com todos os gêneros para se declarar bissexual. “Podemos nos sentir apenas atraídos, mas sem de fato concretizar. Tá tudo bem, você ainda é bi. Há tantas nuances, que é difícil classificar. Nós nos forçamos a colocar tudo em caixas, mas não precisa ser assim. Bissexualidade é um espectro enorme”, afirma Cah.

Como a invalidação da sexualidade afeta a comunidade

Segundo Cah Fernandes, é extremamente comum que pessoas bissexuais sintam maiores dificuldades para compreender a própria sexualidade (inclusive, mais do que heterossexuais ou homossexuais).

O motivo é justamente a invalidação: “Aprendemos que precisamos gostar apenas do sexo oposto, e quando nos pegamos atraídos pelos dois, achamos que estamos confusos. É uma demora para entendermos que gostar de dois gêneros ou mais é uma possibilidade, e que não existe nada de errado nisso. Porém, ninguém nos ensina este pensamento, que apenas nos sentimos atraídos por pessoas. Eu mesma só compreendi que era bi depois dos 20”, compartilha.

Para a criadora de conteúdo, uma das consequências disso é a heterossexualidade compulsiva, resultado de décadas e décadas de invisibilização e repressão de outras formas de viver a vida.

Objetificação de pessoas bissexuais

Além da dificuldade de afeto, há a hiperssexualização e objetificação: “A partir do momento que você se assume bi, os caras se sentem à vontade para propor um ménage. Mas nem todos nós queremos isso. Somos pessoas normais, que vivem rotinas e relacionamentos corriqueiros. Não somos máquina de sexo. Por isso é tão importante que a comunidade tenha mais visibilidade e lugar de fala, pois estamos num processo de normalizar a nossa existência. A longo prazo, isso vai minando os tabus.”

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Cada um tem sua linguagem de amor

De acordo com a influenciadora, é essencial que bissexuais entendam a forma em que gostam das pessoas. Ela desabafa: “Por muito tempo, não aceitava que gostava de mulheres, pois eu não me sentia atraída por elas da mesma forma que os homens, que vêm com aquela pegada mais objetificante. Eu gostava mais por admiração, quase num tom de amizade, e eu não sabia que aquilo também era válido como amor. Mas essa é a minha linguagem, a forma que eu me envolvo. Precisamos identificar a nossa própria linguagem do amor, e logo em seguida, validá-la”, aconselha.

Combatendo a bifobia e a invisibilização

O primeiro passo para ajudar a luta é eliminar determinadas frases bifóbicas do dia a dia. Cah Fernandes aponta algumas das mais comuns:

  • “Tal pessoa é bi de balada”
  • “Desde quando você é bi, se nunca te vi namorar uma mulher (ou homem)”
  • “É só uma fase”
  • “Fulano tá na dúvida, uma hora se decide”
  • “Pessoas bissexuais não são confiáveis”
  • “Não se relacione com eles, porque o risco de traição é dobrado”
  • “Quem é bi tem mais risco de contrair IST”

Por fim, a disseminação de informação é importantíssima para que a naturalização da bissexualidade seja alcançada: “Faço questão de levantar a bandeira. Conheço indivíduos bissexuais que, quando estão num relacionamento hétero, ficam receosos de levantar a bandeira, como se não sentissem pertencentes à causa por não estarem vivenciando uma rotina bissexual. E aí, quando estão vivendo o afeto com o mesmo gênero, acreditam que se enquadram como lésbicas ou gays. Definitivamente precisamos mostrar mais sobre a pluralidade bi”, conclui.

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