Cleo fala sobre TDAH em exclusiva à CLAUDIA
"Me sinto mais no domínio do meu destino, sem me sentir tão controlada pelas emoções", revela
Cleo transpira talento: ela canta, atua e ainda produz cinema. Poucos artistas transitam tão bem entre as diferentes performances artísticas, mas é assim com ela. Todo esse destaque faz parecer que seu trabalho é isento de desafios, pelo menos para quem está fora das câmeras. Mas a famosa tem TDAH (Transtorno de Déficit de Atenção com Hiperatividade), um transtorno neurobiológico que inclui problemas com atenção, hiperatividade e impulsividade, trazendo dificuldades inclusive na hora de trabalhar.
A descoberta do transtorno, tão estigmatizado pela sociedade, aconteceu na pandemia da covid-19, depois de uma conversa entre ela e seu nutricionista, que a recomendou procurar um psiquiatra para descobrir a causa da sua dificuldade para dormir e se concentrar por muito tempo. O segundo profissional deu o diagnóstico, que respondeu às dúvidas que ela sempre teve sobre si, e o tratamento foi a chave para melhorar sua qualidade de vida.
Uma experiência tão pessoal e, ao mesmo tempo, compartilhada por tantas pessoas não pode ser silenciada. Por isso, ela usa sua voz para falar sobre a doença. Em uma entrevista exclusiva à CLAUDIA, Cleo conta um pouco sobre como foi passar por isso tudo e como está agora.
CLAUDIA: Você recebeu o diagnóstico de TDAH durante a pandemia da covid-19. Como foi lidar com essa descoberta naquele momento?
Cleo: Assim que o médico falou que faria o teste, eu reagi com susto. Perguntei “será que eu sou louca?”. E na pandemia estávamos mais sensíveis, então os sentimentos e as sensações se apresentavam de forma maior do que eles são de fato. Mas depois foi um momento de libertação! É bem melhor você ter uma justificativa fundamentada para algo que está sentindo e poder tratar isso do que apenas sofrer sem respostas. Inclusive, hoje eu sei que muitas coisas que já passei antes foram ocasionadas por conta do TDAH sem tratamento.
CLAUDIA: Você passou quase 40 anos sem saber que tinha TDAH. O diagnóstico foi uma forma de entender o que você havia vivido ao longo da sua vida?
Cleo: Com toda certeza foi uma forma de entender o que havia vivido ao longo da minha vida. Como eu disse, foi uma espécie de libertação, porque ajudou com o diagnóstico de diversas outras questões que eu não entendia e por isso me afligiam. Descobrir que eu tenho TDAH me tirou do lugar de refém dessas questões. Ele é só mais um ponto em minha vida. Não é algo que me define.
CLAUDIA: Pessoas que têm TDAH geralmente não se encaixam no modelo da escola tradicional. Como foi para você, que nem sabia do transtorno naquele período?
Cleo: Era bastante difícil eu me encaixar. Nada fazia sentido para mim e eu me sentia muito burra com o padrão daquele sistema. Cheguei até a repetir o maternal e achava que não gostava de estudar. Precisei sair da escola para entender que não era isso, mas, sim, que minha cabeça funcionava diferente daqueles métodos dos ensinos tradicionais.
CLAUDIA: Além da escola, o TDAH também afeta a vida profissional das pessoas, ainda mais quando é um trabalho que exige muita concentração, como o de atriz. Como foi para você? Houve momentos em que você sentiu que suas dificuldades eram maiores do que as dos outros?
Cleo: Eu sou uma pessoa muito autocrítica, me cobro bastante. Então qualquer questão derivada do TDAH já era motivo de agravar essa autocobrança e autossabotagem. Mas acho que além das dificuldades, podemos usar o TDAH como uma ferramenta também positiva. Com o hiperfoco, por exemplo, a habilidade para resolver questões muito complexas… E assim eu faço no meu trabalho. Inclusive, tenho usado das minhas redes também para falar sobre o assunto.
CLAUDIA: A descoberta do TDAH foi importante para o tratamento de outras doenças, como a depressão, no seu caso?
Cleo: Sim, porque eu descobri que algumas dessas doenças, como a depressão mesmo, eram ocasionadas pelo TDAH. Então saber a fonte delas fez toda a diferença no processo de tratamento e até prevenção dessas outras doenças.
CLAUDIA: Passaram-se alguns anos desde o diagnóstico. De lá para cá, o que mudou?
Cleo: Me sinto mais no domínio do meu destino, sem me sentir tão controlada pelas emoções. Sem ser jogada para cima e para baixo como numa montanha russa de emoções extremamente intensas.
CLAUDIA: O que você diria para pessoas que também têm TDAH e estão lutando para lidar com os sintomas?
Cleo: Primeiro, se você puder, procure um psiquiatra que possa te dar um diagnóstico. Junto com seu psiquiatra, trace estratégias simples que no dia a dia vão te ajudar a ter uma rotina mais organizada e pacífica emocionalmente.