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Série faz justa homenagem ao SUS quando mais precisamos dele

A produção, que irá ao ar no canal Universal, expõe o cotidiano de quem enfrenta todo tipo de vulnerabilidade para cuidar da saúde pública

Por Letícia Paiva Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 7 Maio 2020, 14h00 - Publicado em 10 abr 2020, 08h00
 (Divulgação/CLAUDIA)
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Compartilhadas aos milhares nas redes sociais desde o início da transmissão do novo coronavírus no Brasil, postagens fazem, com algumas variações, o alerta: “Lave as mãos a cada duas horas. Se puder, fique em casa. E defenda o SUS”. Enquanto as duas primeiras orientações são, obviamente, para estancar a disseminação do vírus, a última é a constatação de que o Sistema Único de Saúde (SUS) será necessário para enfrentar a demanda do alto número de infectados, desde o primeiro atendimento até uma possível internação. Em todo o país, 70% da população depende do SUS, que mantém a maior parte dos leitos de unidade de terapia intensiva (UTI) e atende todos os municípios, inclusive comunidades isoladas. Ainda que apresente diversas fragilidades, o complexo sistema é estruturado para ir longe e tem como alicerce as Unidades Básicas de Saúde (UBS).

“Estamos ouvindo falar sobre elas o tempo todo durante a epidemia, já que, ao apresentar sintomas, o indicado é a pessoa procurar por uma UBS, e não pelos hospitais. Mas pouca gente sabe como é o dia a dia desses equipamentos em situações comuns”, diz a atriz Ana Petta, 44 anos. Ela é cocriadora da série Unidade Básica, ao lado da irmã, a médica infectologista Helena Petta, 41 anos, e do roteirista Newton Cannita. No canal a cabo Universal, os episódios da segunda temporada estarão disponíveis na última semana de abril, com direção geral de Carolina Fioratti. Assim como Ana, o ator Caco Ciocler atua na série, no papel de médico de uma UBS na periferia de São Paulo – ele também estreia na direção de um episódio. “A produção é uma homenagem aos profissionais da saúde pública, pouco valorizados por muita gente que despreza o serviço, mas que, agora, são desafiados a conter uma enorme crise”, afirma Ana.

As irmãs esperaram seis anos para levar à TV a ideia da série médica, surgida em 2010. Na época, Ana havia terminado de gravar o programa policial 9 mm: São Paulo, que foi ao ar pela Fox, e Helena atuava na atenção primária de saúde em Campinas (SP). A médica havia feito a escolha pouco usual – e considerada de menor prestígio pela maior parte dos colegas, segundo ela – de trabalhar em uma unidade básica. Logo que terminou a especialização na Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, retornou ao atendimento generalista. “Não queria seguir a tendência de me superespecializar, tratando uma determinada doença a vida toda e tendo cada vez menos contato com as pessoas”, conta Helena. “Quando voltei para a rotina na atenção primária, me sentia um pouco como a Laura, protagonista interpretada por minha irmã, que tem enorme bagagem de conhecimento da universidade, mas ainda não entende o impacto dos contextos sociais para a saúde”, diz.

Após o lançamento da série, ela passou também a se dedicar a levar a realidade da medicina para o audiovisual e agora lança um livro sobre o tema, Unidade Básica – A Saúde Pública Brasileira na TV (Hucitec Editora). Para Helena, o programa estimulou mais estudantes a escolher a área da atenção básica, caminho frequentemente descartado. “Recebo mensagens de professores que estão apresentando esse setor aos estudantes de medicina por meio da série.”

Nova fase

Enquanto na primeira leva de episódios o foco está nas relações entre médicos e pacientes, os que estreiam agora vão mais fundo nas vulnerabilidades que caracterizam o trabalho dos profissionais de saúde pública – principalmente os agentes comunitários e enfermeiros do Programa Saúde da Família, que visitam residências em todo o Brasil e fazem monitoramento constante da população. Logo no início da temporada, o que preocupa os médicos é uma potencial epidemia de tuberculose em uma ocupação irregular próxima à UBS, acompanhada pela equipe apesar da falta de aval burocrático.

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Questões de gênero, como violência doméstica, aborto e transexualidade, também serão tratados. “Desde que criamos a série, amadurecemos como feministas. Então estamos mais atentas à urgência de levar esses temas para a TV”, diz Ana. “Especialmente em momentos de epidemia, a saúde pública precisa lidar com uma série de vulnerabilidades anteriores, incluindo gênero”, completa Helena. A dupla se debruça agora nos roteiros da próxima temporada, que deve ter um episódio sobre o início da pandemia de coronavírus e apresentar motivos de sobra para defendermos a saúde pública.

 

Ouça ao podcast de CLAUDIA sobre como desenvolver resiliência 

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