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Livro reúne cartas inéditas e pessoais escritas por Clarice Lispector

Todas as Cartas traz correspondências enviadas a familiares de Clarice, além de escritores brasileiros famosos, expondo um lado pouco conhecido da escritora

Por Gabriela Maraccini (colaboradora)
14 out 2020, 09h00
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  • No ano em que Clarice Lispector completaria 100 anos, os amantes de sua obra poderão conhecer um lado mais íntimo da autora, que não pode ser encontrado em outras fontes e nem mesmo em seus romances e contos. Todas as Cartas, lançado em setembro pela Editora Rocco, reúne centenas de cartas (muitas inéditas) que Clarice enviou a familiares e a outros grandes escritores da literatura brasileira.

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    João Cabral de Melo Neto, Rubem Braga, Mário de Andrade, Lygia Fagundes Telles, Paulo Mendes Campo, Nélida Piñon e Natércia Freire são só alguns dos destinatários das correspondências de Clarice presentes no livro.

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    O projeto nasceu em 2016 e a pesquisa, que durou dois anos, foi realizada pela jornalista Larissa Vaz em instituições públicas e particulares, como a Biblioteca Nacional, a Fundação Casa de Rui Barbosa e o Instituto Moreira Salles, além de arquivos familiares.

    “Clarice não guardava cópias das suas correspondências, de modo que foi preciso localizar as cartas por intermédio dos destinatários, muitos dos quais falecidos e com seus arquivos pessoais incorporados por instituições ou em mãos dos herdeiros”, contou Pedro Karp Vasquez, editor da obra de Clarice Lispector na Rocco e autor do posfácio de Todas as Cartas, a CLAUDIA.

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    O mito Clarice Lispector

    Clarice estreou no cenário literário brasileiro em 1943, com o romance Perto do Coração Selvagem. A obra, conforme explica Vasquez, representou “uma ruptura de peso em um ambiente literário dominado pelo realismo e o regionalismo”.

    A inovação, a sua forma única de escrita, com predominância de sensibilidade e sensações, a narrativa não linear de seus romantes e a presença do chamado “fluxo de consciência” fizeram com que ela fosse comparada com grandes nomes como James Joyce, Virginia Woolf,  Marcel Proust, Franz Kafka e Katherine Mansfield.

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    (Fundação Casa Rui Barbosa/Reprodução)

    “Quando Clarice publicou o primeiro livro, existiam pouquíssimas escritoras no Brasil e a grande dama de nossa literatura era Rachel de Queiroz. Não havia ninguém igual a Clarice, nem mesmo Guimarães Rosa, com quem ela depois seria comparada”, afirma Vasquez. Isso fez com que a escritora se tornasse um dos maiores autores (independente de gênero) de língua portuguesa de todos os tempos e uma das maiores escritoras brasileiras.

    Além disso, sua obra também é importante no que diz respeito à afirmação dos direitos da mulher. “Clarice foi, antes de tudo e sobretudo, uma libertária, desde o primeiro livro, no qual a jovem protagonista, Joana, já lutava pela própria afirmação como mulher livre e inteira, e não um apêndice de um homem”, reflete o editor. “Tanto Joana quanto Clarice não aceitavam ser metade de ninguém, queriam ser inteiras.”

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    Isso representou, também, certa ousadia, já que na época, a literatura era rodeada de escritores homens e a sociedade ainda matinha uma mentalidade fortemente machista. “Houve um crítico que se recusou a acreditar que se tratava de obra de uma estudante universitária de 22 anos, afirmando que Clarice Lispector era, na verdade, o pseudônimo de um escritor masculino”, relembra.

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    Uma outra face de Clarice

    Para quem já conhecia a obra de Clarice e sua importância, a novidade é o lado mais pessoal que Todas as Cartas traz, com as correspondências enviadas aos outros escritores da época, às irmãs Elisa Lispector e Tânia Kaufmann, seus filhos Pedro e Paulo Gurgel Valente e outros destinatários de seu ciclo familiar e social.

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    Isso porque, durante toda a vida, Clarice deixou os aspectos de sua vida pessoal bastante preservados. Ela deu apenas três grandes entrevistas ao longo da carreira e cumpriu com a promessa de nunca escrever uma autobiografia. Essa postura resultou em uma visão misteriosa e enigmática sobre a autora.

    “Acredito que as cartas familiares irão surpreender muitos leitores por revelar a existência de uma Clarice ‘mãezona’ e muito carinhosa, não só em relação aos filhos, mas também em relação às irmãs, que ela sempre tratava de ‘minhas queridas'”, opina Vasquez. “Esse é o verdadeiro lado secreto de Clarice, que chegou a declarar que, muito mais importante do que escrever, era ser mãe.”

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    Capa do livro Todas as Cartas, de Clarice Lispector
    Capa do livro ‘Todas as Cartas’, que reúne correspondências inéditas escritas por Clarice Lispector (Editora Rocco/Divulgação)

    Além disso, as cartas enviadas a outros escritores também oferecem detalhes biográficos ainda desconhecidos e também questões sobre a produção de alguns de seus livros nunca antes comentadas por ela. Mas, principalmente, os leitores poderão conhecer o vasto repertório intelectual que a própria Clarice negava ter.

    “Ela era, na verdade, uma leitora compulsiva, sempre sintonizada tanto com os lançamentos internacionais, quanto com a vida literária brasileira, que ela acompanhava de perto”, afirma o editor. “Clarice não era apenas boa leitora, costumava frequentar museus, ia com frequência ao teatro e a concertos, além de adorar cinema. Ou seja, o que as cartas de Clarice Lispector revelam é uma vida intelectual e artística intensa, que ela preferia esconder sob o manto de aparente indiferença e distanciamento.”

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    É inegável, portanto, que o leitor de Todas as Cartas terá a oportunidade de descobrir mais sobre a personalidade de Clarice e sobre seus interesses culturais. “Se a chave de todo escritor pode ser achada em sua escrita, tanto a chave para o coração, quanto a para o intelecto de Clarice Lispector podem ser encontradas em sua escrita íntima”, diz Vasquez.

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