Torneiras de vermutes artesanais são atração no Trinca Bar Vermuteria
Com drinques autorais, o casal de bartenders do Trinca Bar transforma esse vinho fortificado em sinônimo de paixão pela coquetelaria
sucesso chega em três partes. Ou pelo menos é assim que se atinge o sabor inconfundível do vermute, bebida milenar criada a partir de três ingredientes: álcool, açúcar e ervas. Esse trio, infusionado na medida certa, foi o pontapé inicial para os bartenders Tábata Magarão, 35, e Alê Bussab, 36, realizarem o sonho de abrir o Trinca (daí o nome).
A recém-inaugurada vermuteria fica no bairro paulistano de Pinheiros, e concretiza a ideia do casal de oferecer vermutes artesanais em drinques apaixonantes (também pelo visual, vide as fotos desta reportagem), junto ao sócio e amigo Jorge Saraiva Neto.
Nascida em Duque de Caxias, no Rio de Janeiro, Tábata se encantou cedo pela mixologia, e encontrou nela uma motivação para ampliar seus horizontes. “Eu fui mãe muito nova, então estava focada em cuidar do meu filho. Com 18 anos, quando ele já estava um pouco crescido, realizei a vontade de fazer meu primeiro curso sobre coquetéis”, conta. Em seguida, conseguiu um emprego num albergue e, após o expediente, fazia drinques numa casa noturna. A partir de então sua carreira só avançou: passou por bares, restaurantes, champanheria e estudou mixologia na Argentina.
Já no caminho oposto, Alexandre sequer havia preparado um drinque até conhecer Tábata. Foi num táxi, na Bahia, a caminho de um festival de música eletrônica, que eles se esbarraram pela primeira vez. Ao final da viagem, ele voltou para São Paulo, onde vivia, e ela para o Rio de Janeiro. “Nos conhecemos durante minhas férias – eu era produtor e atuava nos bastidores do programa do Raul Gil. Quando voltei, refleti sobre o que estava fazendo ali. Eu tinha me formado em rádio e TV para trabalhar com cinema”, relembra ele, que decidiu, então, pedir demissão e partir para o Rio ao encontro de sua futura esposa.
“O bar sempre permeou a vida da Tábata. Ela é minha professora, começou a me treinar para fazer os drinques preferidos dela; e, agora, dividimos essa paixão’’
Juntos, fizeram de tudo um pouco, de terem uma empresa de eventos e até vender sushi na praia para financiar uma viagem pelo Brasil e aprender mais sobre gastronomia. Com a pandemia, os planos precisaram mudar, e foi daí que surgiu a decisão de abrir na capital paulista um local especializado em vermutes, mistura que não saiu da cabeça do casal desde que provaram suas variedades em descobertas pela América Latina.
“Um dos pontos altos dessas viagens foi aprender a não ter medo de experimentar. Às vezes, ficamos com receio de críticas, de alguém falar que nosso vermute não é o clássico. O que vimos na linguagem de países latinos é que eles não têm medo de nomear suas criações, existe a liberdade de não se prender às obrigações de certos dogmas. A ideia do Trinca foi trazer um produto ainda pouco disseminado no Brasil e fazer do nosso jeito”, defende Alê.
Além do vinho aromatizado, o cardápio apresenta coquetéis autorais – muitos feitos a partir dos vermutes da casa. Para acompanhar, os sócios apostaram no talento das chefs Dani França Pinto e Fernanda Camargo, que trazem uma gastronomia moderna e com frescor. Um exemplo é o ceviche de lichia, feito com a fruta temperada com suco de limão cravo, pimenta dedo-de-moça, cebola roxa, sal Maldon e laranja.
VIAGEM NO TEMPO
A casa oferece três versões de vermutes artesanais, acessados por torneiras instaladas no cantinho do bar. O primeiro, Rosé oriental, representa o Império Chinês, período em que aparecem os primeiros vestígios da mistura hoje conhecida como vermute – à época, os fermentados de frutas e cereais tinham função religiosa, social e medicinal. A criação do Trinca leva chá verde, hibisco, camomila e flor de sabugueiro. Já o Italiano remete à região onde o vermute se transformou no que conhecemos hoje – a bebida foi criada em 1786 pelo destilador Antonio Benedetto Carpano, em Turim. A fórmula usada na base do Negroni da casa (à esquerda, ao lado da torta de chocolate) leva casca de laranja, gengibre, pimenta-do-reino e folhas de oliveira. Por fim, o Sulamericano reúne nibs de cacau, erva-mate, cumaru e jurema preta.
“O vermute expressa o terroir de cada lugar onde é produzido. No Sulamericano tem nibs de cacau; no Oriental tem chá verde; no Italiano, folha de oliveira. Queremos sempre dar um toque de cada lugar que homenageamos’’
Como se trata de uma infusão, há quem se aventure a fazer a bebida em casa. Entretanto, acertar o sabor exige paciência. Tábata e Alê contam que foram necessários 28 testes de cada vermute até chegar no ponto ideal. “Nossa infusão é feita com vinho, açúcar demerara e especiarias, incluindo obrigatoriamente a artemísia, planta que caracteriza o vermute. A infusão deve acontecer de 20 a 25 dias, no escuro e em temperatura ambiente, sempre agitando o recipiente. Aqui, aceleramos o processo com o uso de um termocirculador: o que levaria 25 dias transforma-se em algumas horas”, explica o casal.
Outra dica é ter cautela, já que as ervas aromáticas tem o sabor intensificado no contato com o álcool. “A canela, que é comumente usada, pode se sobressair muito. Por experiência própria, recomendamos sempre usar bem pouco.”
Aprenda a fazer as receitas de drinques do Trinca Bar:
Spritz de Primavera
Verde Smash
Tropical Club
Jerez Jerez Jerez
Negroni Trinca
Texto Marina Marques | Fotos Giuliana Nogueira | Concepção visual Catarina Moura