Recentemente, esteve no Brasil o pesquisador americano Charles Fadel, fundador e presidente do Center for Curriculum Redesign (CCR), uma organização que busca adaptar o sistema educacional às exigências do século XXI. Ele é uma autoridade reconhecida internacionalmente na área de currículo e educação para o século XXI e há anos vem se dedicando a pesquisas para compreender como as escolas precisam se adaptar às mudanças tecnológicas.
Ele está lançando o livro “Educação na Era da Inteligência Artificial”, disponível para download gratuito. A obra aborda as transformações que a inteligência artificial vem provocando no cenário educacional. E me chamou atenção por incluir trechos de consultas feitas à IA sobre diferentes assuntos. Logo no início já há um parágrafo sobre o que o ChatGPT e o Claude acharam sobre o livro (apenas para diversão, claro).
A IA chegou às escolas de forma acelerada – e irreversível – num momento pós-pandemia, em que estudantes e professores ainda buscavam se adaptar ao tal do novo normal (quem lembra desse termo?). Diferentemente de outras tecnologias, a inteligência artificial tem potencial para automatizar não apenas tarefas repetitivas, mas também processos cognitivos complexos, o que traz implicações profundas para o processo de ensino-aprendizagem.
Charles Fadel alerta que já havia um atraso de 40 anos no sistema educacional. E agora a IA adiciona ainda mais pressão por mudanças. Para ele estamos em um momento crítico e existe o risco de não adaptarmos os sistemas educacionais rápido o suficiente às mudanças tecnológicas. E se a tecnologia não chegar a todos os estudantes e professores, há o risco de aumento da desigualdade na educação.
Entre os riscos apontados estão a dependência excessiva da tecnologia, a perda de habilidades humanas fundamentais, a ampliação de desigualdades educacionais, questões éticas sobre privacidade e uso de dados e a resistência à mudança por parte de educadores.
As vantagens da IA na educação
Mesmo alertando para os riscos, Charles Fadel é um entusiasta da utilização da IA na educação. Na sua visão, essa tecnologia permite adaptar o conteúdo e ritmo às necessidades individuais dos estudantes e desenvolver novas habilidades digitais essenciais para o futuro. Além disso, a automação de tarefas administrativas, libera tempo do professor para interações mais significativas.
Ele apresenta um experimento da Harvard Business School, com consultores utilizando a IA. Os 50% com pior desempenho sem IA melhoraram 43% com IA, enquanto os 50% melhores sem a ajuda tecnológica, melhoraram apenas 17%. Isso sugere que a tecnologia pode ajudar a reduzir lacunas de aprendizagem, desde que haja acesso adequado e capacitação para seu uso.
As duas competências fundamentais que precisam ser desenvolvidas neste contexto são a adaptabilidade e aprendizagem autodirigida. Ele defende que os estudantes devem estar sempre conectados ao mundo físico, especialmente nos anos iniciais. No ensino fundamental é necessário priorizar atividades práticas e manuais, deixando o uso da tecnologia para o ensino médio.
Já os professores vão precisar atualizar constantemente seus conhecimentos, desenvolver novas competências digitais e aprender a mediar o uso da tecnologia, mantendo o foco na dimensão humana do ensino. O maior obstáculo atual não é a falta de conhecimento, mas o medo da tecnologia, que precisa ser superado através da experimentação.
“A vigilância é necessária para gerenciar e reduzir os riscos associados a tecnologias como a IA. No entanto, as percepções alimentadas pelo medo impedem o progresso e a inovação. Adotar a tecnologia com um equilíbrio entre cautela e abertura permitirá que a sociedade aproveite seus benefícios enquanto se prepara para seus desafios. Os capítulos a seguir abordarão o que tais mudanças, seus impactos e nossas atitudes em relação a elas significarão especificamente para a Educação em um mundo de IA”, escreveu o pesquisador.
Como em tudo na vida, a chave do sucesso está no equilíbrio. É importante aproveitar o potencial da IA, sem perder o foco no desenvolvimento integral dos estudantes, preparando as novas gerações não apenas para usar a tecnologia, mas para fazê-lo de forma ética, crítica e humanizada.
Para Fadel, os sistemas educacionais devem ser rapidamente adaptados, sem perder de vista o papel fundamental da escola como espaço de desenvolvimento humano em todas suas dimensões.
Esse processo exigirá um esforço conjunto de educadores, gestores, famílias e toda sociedade. Será que estamos preparados?
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