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Crônicas de Mãe Por Ana Carolina Coelho. Feminista, mãe, escritora, poeta, dançarina, plantadora de árvores, pesquisadora e professora universitária
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“Tempo rei” ou “vida que segue”

"O imediato é a medida do nosso possível e o passar do tempo a costura do que nos faz humanos, ao refletirmos, mudarmos e crescermos", reflete Ana Carolina

Por Ana Carolina Coelho
31 jan 2022, 18h58
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  • “O tempo passou, pode ir pegar, papai!”, gritou minha filha mais nova pela casa ao ouvir o alarme do celular tocando. Eu ouvi a frase e consegui imaginar a cena: um imenso relógio com pernas sendo perseguido por milhares de pessoas gritando “PEGA!”, SEGUREM ELE!”.

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    Precisamos de tempo nesses dias de fardos tão pesados. Precisamos de tempo para sentir nossos ombros doerem, nossas lágrimas escorrerem e nossos gritos ecoarem. Em vez disso, continuamos a seguir adiante, aos tropeços e despedaçadas. Somos uma horda de pessoas traumatizadas por um tempo roubado pelo isolamento, pelas demoras nas decisões que custaram vidas e encontros nunca realizados; por todos os pequenos e grandes danos que ainda não tivemos tempo para processar.

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    Veja também: As escolhas que não são escolhas da maternidade

    Dias atrás, estava conversando com minha filha mais velha sobre o mito do Titã Kronos e de sua força inexorável, fonte de medo constante da humanidade, que inevitavelmente será “devorada”. Eu disse a ela que o tempo é, também, um grande curador: precisamos essencialmente dele para que nossas vidas ganhem novos sentidos, espaços e experiências. O imediato é a medida do nosso possível e o passar do tempo a costura do que nos faz humanos, ao refletirmos, mudarmos e crescermos.

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    Minha filha mais velha está em uma nova escola e a professora de História dela é uma das minhas queridas ex-alunas, sempre dedicada e muito inteligente: um excelente exemplo de como o tempo conta com tecelãs hábeis para montar bons bordados.

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    Aliás, “tempo” foi o tema de muitas conversas que tive esse mês, que já acabou, escorrendo de nossos dedos como uma nascente de apreensões: as festas de final de ano sinalizavam um 2022 melhor e a esperança vibrava no ar, lançando fios de alegria para nossas almas. Um mês depois, estamos lidando com variantes, aumento de casos de COVID, lotação de leitos, novos sintomas e muitas mensagens novamente dizendo “por favor, se cuida!” Esperança encolheu para dar espaço a novos pontos de dor.

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    Olho as crianças e temo por tudo que elas estão perdendo agora. Fico imaginando o que vai acontecer até que esse horror tenha fim e pudermos dizer definitivamente: “acabou”. Hoje, vivemos uma infância de máscaras e medos. Uma infância que sorri, apesar de tudo, mesmo lidando com a morte, o distanciamento e a impossibilidade dos abraços.

    Eu adoro abraços. Eu era uma criança que abraçava todas as pessoas de quem eu gostava, e eu tenho grande facilidade de gostar das pessoas. Minha filha mais velha nasceu com essa mesma característica: somos “abracentas”. E ela, agora, não pode deixar seu corpo expressar sua imensa ternura e carinho. Eu odiei ter que ensinar isso a ela. Sentia cada célula do meu corpo se contorcendo e gritando “isso é errado!”, mas o eu racional continuava dizendo “precisamos do distanciamento, por favor não abrace as pessoas na rua.”

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    Estamos no segundo mês do terceiro ano da pandemia. Essa agora tem sido a nefasta contagem do tempo em nossos dias. Estamos cansadas, muitas pessoas estão doentes e precisamos de tempo para olhar com calma todos os estilhaços que essa guerra está promovendo. Continuamos a dizer: só mais um pouco e voltaremos ao “normal”. O “normal” é o que nos trouxe até aqui. O que precisamos é tecer uma boa colcha de retalhos costurada com escutas e abraços. Só assim encontraremos, não a cura, mas o acolhimento necessário para tecermos bons bordados de conexão. É possível sermos melhores, sempre!

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    Dias Mulheres virão!

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    Vamos conversar?

    O “Crônicas de Mãe” vai virar livro e quero pedir o seu apoio para esse projeto se tornar realidade e termos uma publicação inédita sobre maternidades na literatura nacional brasileira. Posso contar contigo nessa? Entra no site do Catarse e garanta além do livro, recompensas e brindes exclusivos!

    Se quiser entrar em contato comigo, Ana Carolina Coelho, mande um e-mail para: ana.cronicasdemae@gmail.com ou mensagem pelo Instagram: (@anacarolinacoelho79). Será uma honra te conhecer! Quer conhecer as “Crônicas de Mãe”? Leia as anteriores aqui e acompanhe as próximas!

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