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A jornalista Ana Claudia Paixão (@anaclaudia.paixao21) fala de filmes, séries e histórias de Hollywood
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O centenário de Doris Day:a lenda da música, do cinema e do ativismo

De queridinha do cinema a figura polêmica, a atriz, comediante e cantora segue em nossas corações

Por Ana
5 abr 2022, 09h36

Doris Day é ainda uma das maiores lendas de Hollywood, com um filme sobre sua vida a ser estrelado por Kaley Cuoco em produção para HBOMax. No dia 3 de abril de 2022, se estivesse viva, completaria 100 anos. E quase viveu para celebrar a data, porque nos deixou há apenas 3 anos, aos 97, por consequências de uma pneumonia. Será interessante ter uma biopic sobre ela e Kaley tem tudo para brilhar.

Igualmente respeitada como cantora e atriz, Doris teve uma imagem comportada que foi usada por muitos anos como referência em uma sociedade casta, uma espécie de antítese de Marilyn Monroe e, por isso, algo mais “alcançável” por mulheres “comuns”.  Porém, feministas a defendem porque sua persona nas telas era mais do que uma mulher reprimida, refletia temperamento forte, independente e que se recusava a se render às manipulações machistas da época. Não foi à toa que foi a primeira mulher a liderar as paradas de sucesso e as bilheterias de cinema simultaneamente. Era o caso de ser adorada por todos.

Doris Day ganhou o estrelato com os musicais da Warner, no final dos anos 1940, com suas sardas, sorriso perfeito, voz aveludada e cabelo intacto. No início dos anos 1960, mudou de estúdio, indo para a Universal, onde estrelou uma série de comédias românticas, fazendo par com Rock Hudson, que estava a anos luz de ter sua vida pessoal revelada pela AIDS. Com ele estrelou os clássicos Confidências à Meia Noite (Pillow Talk), pelo qual foi indicada ao Oscar, em 1959, Volta Meu Amor (Lover Come Back) e Não me Mandem Flores (Send me No Flowers).

A atriz tinha veia cômica e isso fez dela uma das preferidas do público. Suas personagens – modernas naqueles tempos – geralmente não queriam sacrificar sua independência pelo casamento, mas acabavam cedendo para ter o que era considerado um final feliz. Nos dramas também se saía bem, mas com menos destaque. Um dos filmes que é mais lembrada não é necessariamente um dos que mais gostou de fazer, justamente a refilmagem de O Homem Que Sabia Demais (The Man Who Knew Too Much), de Alfred Hichtcock, onde canta Que Será, Será. Segundo a atriz dizia, seu nervosismo na cena final aumentava a cada retomada, com o diretor sempre em silêncio sem ajudá-la. Ela não sabia o que estava fazendo de errado. E não era nada. Simplesmente Hitchcock gostou de captar sua ansiedade a atormentando psicologicamente.

Se a vida de Doris nas telas era toda doce, a realidade era diferente. Sua infância foi marcada pela separação dos pais, quando ainda tinha apenas oito anos. Embora o pai fosse professor de música, Doris Van Kappelhoff sonhava com as sapatilhas e uma carreira como bailarina, porém um acidente de carro, quando tinha apenas 15 anos, interrompeu os planos. Foi arrasador para ela, que já tinha até vencido algumas competições de dança e tinha certeza de seu sucesso, mas a perna quebrada levou meses para recuperar e apenas as aulas de canto a ajudaram a superar o trauma. Sua mãe sugeriu tentar o canto após ouvir Doris imitando Ella Fitzgerald.

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Doris Day em Calamity Jane.
Doris Day em Calamity Jane. (Reprodução/Reprodução)

Não demorou para que Doris, com 17 anos, passasse a se apresentar como cantora. Resistiu à ideia, mas adotou o sobrenome Day como seu nome artístico (reza a lenda que depois que fez sucesso cantando Day After Day) e se casou dois anos depois com o músico Al Jorden, pai de seu filho, Terry. O casamento foi marcado por abusos físicos e psicológicos, acabando em divórcio em apenas dois anos. Doris gravou Sentimental Journey com Les Brown, e o single virou um dos grandes sucessos no período pós-guerra. Seu segundo casamento, agora com o saxofonista George Weidler, também foi marcado por infidelidade do lado dele, levando a um segundo divórcio. Foi nesse período que o diretor Michael Curtiz, encantado com sua voz em Embraceable You a contratou para estrelar o filme Romance em Alto-Mar, o primeiro de vários musicais de sucesso.  Foi o período de gravações clássicas de canções como Tea for Two, Lullaby of Broadway, Young at Heart (com Frank Sinatra), entre outras. Quando deixou os musicais e passou para as comédias românticas, Doris já era uma estrela, mas sempre foi lembrada por sua voz. Um de seus papéis mais adorados foi o de Calamity Jane, onde cantou o sucesso vencedor do Oscar, Secret Love.

Casada pela terceira vez, quando “ousou” fazer o papel de uma cortesã em Ama-me ou Esquece-me – substituindo Ava Gardner – provocou a reação do público mais conservador, que não gostou de vê-la fumando, bebendo e com vestidos mais reveladores. Hoje pode ser irônico, mas estrelar um filme chamado Um Pijama para Dois também gerou reação negativa.

Assim como muitas mulheres antes e depois dela, os papéis no cinema e na TV foram reduzindo de acordo com o avanço da idade. Uma das mais famosas recusas de sua carreira foi a de interpretar a Sra. Robinson em A Primeira Noite de Um Homem, papel que foi para Anne Bancroft e virou um dos clássicos do cinema. Mais tarde, admitiu que não conseguia se ver na cama com um homem mais jovem.

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Ao ficar viúva, em 1968, Doris descobriu que o marido tinha gasto toda sua fortuna e que ficaram apenas dívidas. Sem surpresa, sofreu um colapso nervoso com a notícia. Quando se recuperou, se viu forçada a voltar para TV e cumprir um contrato de quatro anos assinado pelo marido em seu nome sem seu conhecimento. Somente em 1974 recebeu uma indenização milionária em um processo contra o advogado que ajudou o marido a fazer os contratos e maus negócios à revelia de Doris.

O quarto casamento acabou em divórcio justamente porque ela se dedicaria mais à filantropia do que sua relação pessoal. Nessa época, teria dito uma de suas frases mais famosas: “Animais nunca me desapontaram”. A partir de então, passou a se dedicar à causa de salvamento de animais e criando a Doris Day Animal Foundation, cuidando de gatos e cachorros abandonados.

Mesmo aposentada, Doris continuava adorada. Em 2011, lançou uma compilação de gravações inéditas, My Heart, seu primeiro álbum em quase 20 anos e rapidamente se tornou um bestseller. Ela faleceu em sua casa, em Carmel Valley, na Califórnia, no dia 13 de maio de 2019. Seus últimos anos foram passados longe das câmeras. Doris nunca se considerou uma mulher bonita, mas nunca perdeu sua popularidade. Em seu centenário, fica minha homenagem a uma das maiores de Hollywood.

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