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Soft skills: características essenciais para um novo ambiente de trabalho

Mais importantes do que as habilidades técnicas serão as chamadas soft skills, características que todos nós possuímos, mas precisam ser treinadas

Por Isabella D'Ercole Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
20 out 2021, 12h00
mãos segurando nuvens num fundo azul
 (| Fotos: Cottonbro /Pexels; Karolina Grabows/Pexels/CLAUDIA)
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Um novo modelo de trabalho desponta: híbrido, inédito e com transformações mais rápidas. Como nos faltam respostas no momento, é provável que tenhamos que, juntos, criar caminhos. Para isso, mais importante do que as habilidades técnicas serão as chamadas soft skills, características humanas que todos nós possuímos, mas que precisam ser treinadas

 

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escritório pré-2020 não existe mais. O sistema 100% remoto do isolamento, aos poucos, deixa de fazer sentido. O que nos espera é totalmente inédito e está sendo criado nesse momento, enquanto você e eu trabalhamos. Revoluções eram esperadas no ambiente profissional, mas elas foram aceleradas pela pandemia, a ponto de estarmos sem respostas agora.

A maioria das empresas já opta por um modelo híbrido, indicando que casa e trabalho nunca mais serão totalmente separados. Ao mesmo tempo, quem tem funções que exigem o presencial ainda se adapta a uma rotina com máscaras, reuniões com distanciamento, cuidados mil para evitar dar novas chances ao vírus da Covid-19 e um pouco de medo (tanto pelo risco de infecção como pela instabilidade da economia, que gerou muitas demissões no ano passado).

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Fazer gestão de tantos conflitos e conseguir navegar na incerteza vai valorizar cada vez mais as soft skills (numa tradução livre, habilidades suaves). A nomenclatura chegou a incomodar especialistas como Simon Sinek, que acreditam que o título reduz a importância delas. Ele prefere chamá-las de human skills, ou características humanas. São elas: a empatia, a capacidade de acolhimento, de comunicação e de trabalhar em equipe, a paciência, entre outras.

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Para além da pandemia, a automação e o desenvolvimento de inteligências artificiais também muda o cenário de empregos. De olho nesse contexto, no final do ano passado, o Fórum Econômico Mundial lançou o Relatório Futuro do Trabalho, no qual lista as habilidades essenciais para profissionais desenvolverem caso desejem continuar ativos no mercado até 2025. Destaque para a resiliência, a flexibilidade, a tolerância ao stress e a aprendizagem ativa, além da capacidade de resolver problemas complexos e de se comunicar.

“Muita gente acha que comunicação é algo fácil, mas há uma diferença muito grande entre falar e ter certeza que estou transmitindo a mensagem para que o outro entenda. Devo refletir sobre qual voz uso, os termos, se é uma linguagem de fácil compreensão. E do outro lado, eu preciso garantir que estou ouvindo com atenção e consciência”, explica Juliana Algodoal, especialista em comunicação corporativa, CEO e fundadora da Linguagem Direta.

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Um processo de troca muito aberto e participativo foi essencial para que a Mondelez Brasil, dona de marcas como Bis, Tang e Club Social, repensasse o esquema de trabalho com a chegada da pandemia. “Deixamos muito claro desde sempre que não temos todas as respostas e que seremos flexíveis até encontrarmos o melhor caminho”, afirma Betina Corbellini, diretora de recursos humanos da empresa. Rodas de conversa foram organizadas e um slogan foi criado como símbolo da iniciativa de combater o tabu sobre a saúde mental, #TudoBemNãoEstarBem.

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A liderança foi incentivada a compartilhar suas dificuldades, mostrando para todos os funcionários que aquele ambiente estava pronto para acolher quem precisasse de ajuda. “Eu contei sobre episódios de depressão, e vi que pessoas se identificavam. Incentivamos formas de criar vínculo, como fazer reuniões um a um, pois pessoas contratadas durante a pandemia não tiveram a oportunidade de conhecer pessoalmente ninguém de sua equipe, dificultando a relação. Também traçamos uma parceria com o Instituto Paulista de Psicologia, que montou uma pesquisa, cuja resposta era opcional. Com as participações, eles identificaram quem precisava de apoio e conseguimos oferecer tratamentos personalizados”, acrescenta Betina.

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(| Fotos: Cottonbro /Pexels; Karolina Grabows/Pexels/CLAUDIA)

Agora, de olho no futuro, a empresa repensa o escritório. O modelo híbrido, com home office misturado a dias presenciais, já era instituído para os funcionários administrativos. Quando iam para a empresa, eles encontravam grandes mesas com baias para trabalhar. Uma reforma vai transformar 70% do espaço em área de colaboração, onde equipes conseguem se reunir para conversar e criar projetos, ter interações e viver mais ativamente o coletivo, ato que se tornou prioridade para a gigante global de alimentos após entender o impacto da falta do encontro durante o isolamento.

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“A característica humana mais marcante de ser desenvolvida agora é o interesse genuíno em se conectar com o outro. Se essa não for a sua essência, você não conseguirá entregar o restante das human skills. O segredo da felicidade são as relações gratificantes que desenvolvemos, as conexões reais. Isso exige que estejamos dispostos a nos abrir, a nos ligarmos ao colega para além da utilidade dele no nosso dia a dia; e com o chefe para além do retorno da avaliação de desempenho”, fala Caroline Marcon, administradora e advogada, consultora organizacional e coach executiva.

Segundo ela, as habilidades humanas permitirão que as pessoas consigam mais facilmente falar como desejam ser tratadas e colocar limites. “A nova dinâmica vai exigir outro tipo de investimento de energia. Vamos precisar praticar a preocupação genuína com o outro, o olhar gentil, afinal, vai ter bastante novidade para todo mundo”, acrescenta. “Muitos voltarão ao trabalho presencial diferentes. Alguns descobriram no último ano e meio que há coisas mais importantes do que o trabalho, outros reviram a divisão de tempo que praticavam, amadureceram, resolveram que precisam ficar mais com a família. Eu gosto de propor uma reflexão. Questione-se sobre quem você é hoje e como difere da pessoa que era em março de 2020”, fala a especialista, que gosta de lembrar que produtividade depende de bem-estar e saúde, portanto que essas transformações pessoais e relações devem ser a preocupação maior das empresas no momento.

“Muitas pessoas voltarão ao trabalho presencial diferentes. Eu gosto de propor uma reflexão. Questione-se sobre quem você é hoje e como difere da pessoa que era em março de 2020”

Carolina Marcon, administradora e advogada
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Alterações históricas

A predominância do modelo soft vai contra o padrão por muitos anos instituído no ambiente corporativo. Era a autoridade, revelada por ordens, falas altas e grosseiras, a atitude soberana. “Esse é um estilo de gestão herdado da era industrial, tido como mais masculino. Inserimos isso no nosso cotidiano e passamos a acreditar que falar com amorosidade não gerava reações de respeito. A pandemia nos fez perceber que esse comportamento nos levou a adoecer. Lideranças que não respeitam outras pessoas, hoje consideradas tóxicas, causam estresse, ansiedade e burnout”, acredita Ligia Costa, mentora de líderes femininas, professora de mindfulness e autora de Líder Humano Gera Resultados (Gente).

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Para ela, houve um rompimento com a figura do líder egóico, que acreditava que todos deveriam servir a ele. “Sucesso agora ganha outro significado para além de dinheiro, poder e fama. Entendemos que há coisas que importam mais. Funcionários querem uma liderança congruente, que motive, acredite e crie uma relação de confiança”, acrescenta Ligia, que afirma que as mulheres são líderes naturalmente mais empáticas e humanas.

Como chegar lá

As chamadas habilidades humanas, para muitas pessoas, são as que nos diferenciam de robôs. Isso quer dizer que elas são naturais a nós, mas não que estão sempre desenvolvidas ou ativas. Permitir que elas fiquem à superfície e sejam usadas exige empenho e vontade de mudar. “Estudos indicam, por exemplo, que somos seres empáticos desde o nascimento. É por isso que quando um bebê chora no berçário, os outros acompanham. Eles sentem a dor do primeiro. Só que, conforme o tempo passa, vamos nos afastando dessa capacidade. Durante a infância e adolescência, fica mais forte o desejo de pertencimento, de fazer parte de um grupo. Para isso, vamos nos moldando em comparação aos outros. Perto dos 35, 40 anos, o processo de autoconhecimento aflora e voltamos para o interno. Desejamos alcançar nossa autenticidade na sua máxima potencialidade. Na evolução desse olhar, entramos em contato com as habilidades humanas. Desenvolvemos um olhar mais compassivo, coragem para assumir quem realmente somos e a capacidade de fazer o outro se sentir incluído, acolhido”, fala Ligia.

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Essa virada não acontece de uma hora para outra, obviamente. Antes de tudo, é preciso estar consciente para o trabalho interno. Em seguida, é fundamental se dispor a adotar pequenos hábitos que funcionam como treinos das habilidades humanas. “Dar bom dia para alguém, um ato tão singelo, é oferecer uma pequena gentileza, demonstrar um olhar para o outro. A compaixão aos poucos vai sendo elaborada e o altruísmo, em algum momento, talvez até leve você a se oferecer como voluntário em uma ação social. Esse é um exemplo de um caminho de um extremo bem simples a outro já desenvolvido”, explica Ligia.

Por fim, ela recomenda práticas de mindfulness. Segundo ela, as meditações são capazes de mudar a plasticidade do cérebro, evitando que tenhamos sempre atitudes impulsivas, reativas e passemos a pensar melhor em nossas ações. “Eu relaxo meus músculos, inibo a produção de cortisol, o hormônio do estresse, libero hormônios de prazer e conquisto a sensação de bem-estar, de gratidão. Essa postura também fará com que você se dirija aos outros de uma forma diferente”, garante.

 

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