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Uma puxa a outra: mulheres relatam da admiração à parceria de negócios

A admiração entre mulheres faz surgir relações incríveis. Mais do que amigas, essas sócias contam como se uniram para criar iniciativas transformadoras

Por Gabriela Teixeira
20 mar 2021, 09h00

Como uma semente que brota entre os espinhos, o Figueira & Massoni surgiu com a proposta de auxiliar mulheres em meio ao aumento dos casos de violência de gênero durante a pandemia. Pesquisando sobre os reflexos da quarentena na vida das mulheres, a advogada Bárbara Massoni enxergou a necessidade de um atendimento jurídico voltado para o público feminino, e que atendesse sobretudo a área familiar, uma das mais marcadas pelas medidas de isolamento.

Mas tudo não passava de uma ideia até o momento em que um telefonema de uma amiga de infância fez o caminho de Bárbara cruzar com o de Larissa Figueira, uma advogada recém-formada em busca de oportunidades.

Assim surgiu o primeiro escritório de advocacia para mulheres de Santos, litoral paulista. Hoje, dividindo-se entre a capital e a Baixada, as duas prestam atendimento online e presencial, além de manter uma página no Instagram (@o_direitodelas), onde conscientizam seu público sobre os direitos da mulher.

Ao contrário de Bárbara e Larissa, as empresárias Paula Crespi e Flávia Deutsch já eram amigas de longa data quando, em 2019, decidiram se lançar no mundo do empreendedorismo. Familiarizadas com as vulnerabilidades que as mulheres enfrentam durante a gestação, somaram forças no setor tecnológico para criar a Theia.

Batizada em homenagem à deusa grega mãe do sol e da lua, a healthtech oferece suporte integral às gestantes, colocando-as no centro do cuidado. “A gravidez é uma jornada de muito medo e o sistema de saúde não está desenhado para apoiar as mulheres. Ele não só é ineficiente, gerando despesas, como também traz desinformação”, conta Flávia.

Protagonismo também é a chave do trabalho de Andrezza Rodrigues. Após sentir na pele o impacto da violência patrimonial durante o divórcio dos pais, ela firmou consigo mesma o compromisso de que faria o possível para que aquilo não se repetisse com outras.

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Fundou a Her Money, startup de gestão financeira que auxilia empresas de pequeno e médio porte. “Conversando com mulheres, percebi que elas se sentiam inseguras em relação a dinheiro. Não porque não sabiam, mas porque a sociedade faz elas acreditarem que não são capazes”, diz. Mas o negócio só pôde crescer porque a investidora-anjo Flávia Mello, fã das capacidades femininas e de soluções que ajudem mulheres, enxergou o potencial da Her Money e estendeu a mão para Andrezza.

Elas mostram como o espírito da sororidade pode criar não apenas laços de amizade, mas também transformações de grande impacto.

 

duas mulheres sócias com ilustrações relacionadas a trabalho ao fundo
(Fotos acervo pessoal; ilustração, Isabela Pina/CLAUDIA)

“Digo que a força do universo feminino conspirou para que eu e a Flávia nos conhecêssemos. Como a Her Money é uma plataforma disruptiva no mercado, eu queria muito conversar com alguém da Uber para saber como eles ensinaram a população a confiar no serviço.

Quando nos conectamos e ela se apresentou como a funcionária zero da Uber, pensei: ‘Preciso muito dessa mulher na minha vida’. Foi um super match, porque queríamos a ajuda de alguém com a experiência dela e a Her Money se encaixa em seus valores de investidora.

Hoje, a Flávia é muito ativa em nossa operação, acompanha tudo, oferece mentoria. Sempre que precisamos, batemos em sua porta e ela disponibiliza seu tempo. Valorizo as redes de apoio entre mulheres porque foi a partir delas que fiz conexões que me trouxeram até aqui. E estou formando outras que me ajudarão a dar o próximo passo.”

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Andrezza Rodrigues, CEO da Her Money

 

“Valorizo as redes de apoio entre mulheres porque foi a partir delas que fiz conexões que me trouxeram até aqui”

Andrezza

 

“Em meu último ano na Uber, comecei a fazer um podcast que me abriu os olhos para muitas questões e necessidades relacionadas a ser mulher. Com isso, surgiu a vontade de me envolver cada vez mais com empreendedoras que tenham o objetivo de melhorar as vidas de outras.

Porque, mesmo que existam dados que comprovam que startups com lideranças femininas performam melhor, o investidor tradicional negligencia essas fundadoras. No caso da Andrezza, além de possuir um background na área financeira, ela conhece de perto as dores das empreendedoras e tem paixão em fazer com que outras mulheres tenham uma experiência melhor do que ela teve. Para mim, isso é muito rico.

A Her Money já tem uma base de clientes muito sólida, o que é o maior sinal de que minha aposta foi correta. E se uma startup em que invisto tem um desafio relacionado à minha bagagem, claro que vou ajudar. Porque faz parte do meu propósito facilitar as trajetórias dessas fundadoras. Meu envolvimento vai além da expectativa de retorno financeiro.”

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Flávia Mello, investidora-anjo

 

duas mulheres sócias em um escritório de advocacia com ilustrações feministas ao fundo
(Fotos acervo pessoal; ilustrações, Isabella Pina/CLAUDIA)

“Após me formar pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul, voltei para Santos, onde vive minha família. Foi quando uma prima, que é amiga de infância da Bárbara, nos apresentou. Nos conhecemos pelas redes sociais e ela me contou sobre esse projeto que tinha, mas que não conseguia colocar em prática sozinha.

Mesmo com pouco contato pessoal, nos conectamos em prol desse ideal e juntamos forças para fazer um trabalho que atendesse Santos e também São Paulo. Deu muito certo! Começamos com posts nas redes sociais para conscientizar e alertar as mulheres sobre seus direitos e hoje somos o primeiro escritório de advocacia só para mulheres na Baixada Santista.

Vejo que, apesar da ideia ter partido dela, o projeto reflete um incômodo que eu já sentia como mulher trabalhando nesse meio. Mas eu não tinha a pretensão de agir sozinha, então, se não tivesse conhecido ela, não teria feito.”

Larissa Figueira, advogada

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“Existe também um déficit de direitos que acompanha as mulheres historicamente. Nosso trabalho é emancipá-las”

Bárbara

 

“É engraçado, porque somos muito diferentes em diversos aspectos. Mas, mesmo assim, nos juntamos. A Larissa tinha experiência como estagiária em Varas de Família, ela já sabia da dinâmica dos casos.

Aconteceu tudo muito rápido e ela foi muito corajosa, já que é um projeto ambicioso, sobretudo porque nos posicionamos politicamente a favor das mulheres, o que não costuma fazer parte do exercício da advocacia.

Sempre nos reconhecemos feministas, mas havia uma dúvida sobre entrar mascarada no sistema ou deixar claro qual era nossa bandeira. Escolhemos a segunda opção, o que trouxe, claro, uma série de resistências. Nosso trabalho vai além da defesa de direitos, ele envolve muita escuta, empatia.

Trabalhamos na quebra do silêncio, no despertar da consciência, porque muitas mulheres não reconhecem quando estão em situações de violência. Existe também um déficit de direitos que acompanha as mulheres historicamente. E nosso trabalho é lutar para emancipá-las.”

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Bárbara Massoni, advogada

 

Mulheres sócias abraçadas
(Foto acervo pessoal; Ilustração Isabella Pina/CLAUDIA)

“Conheci a Paula em um MBA em Stanford, nos Estados Unidos, que cursei já com o desejo de empreender. Éramos de turmas diferentes, mas eu fui a primeira pessoa a ligar para dar as boas-vindas a ela. Desde então, eu a admiro muito, como amiga e como profissional.

Voltamos para o Brasil, eu continuei acompanhando o trabalho dela e até conversamos sobre fazer algo juntas. Um ano se passou, meu filho nasceu e eu percebi que era hora de realizar o desejo de empreender. E se havia uma pessoa com quem eu adoraria fazer isso, era a Paula.

Eu a convidei para jantar, mas já com segundas e terceiras intenções. Falamos muito sobre montar um negócio de impacto e, olhando para nossas experiências, vimos como a área de atendimento da saúde não foi feita para a mulher. Eu tinha vivido duas gestações. Nesse meio-tempo, a Paula engravidou. Como a nossa escola é a tecnologia, começamos a pensar em usá-la para mudar a experiência das mulheres.”

Flávia Deustch, fundadora da Theia

Falamos sobre montar um negócio de impacto e vimos como o atendimento na saúde não foi feito para a mulher”

Flávia

 

“Depois de passarmos por startups, nós duas queríamos criar algo que impactasse mulheres dentro da área de saúde. Para nós, era um propósito. Com a maternidade, isso ficou mais evidente. Apesar de sermos privilegiadas em diversos sentidos – a Flávia vem de uma família de médicos e eu tenho uma irmã pediatra – e termos uma rede de apoio, sentimos na pele as dores da falta de um cuidado coordenado com a gestante.

Se nós enfrentamos isso, imagine as mulheres que não possuem os mesmos benefícios. Estudar o mercado só reforçou como existe desinformação e falta um olhar integral para a mulher. Nossa vontade é revolucionar a saúde feminina e, quando alguém se propõe a criar uma solução única, tudo se torna um pouco mais difícil, são muitas tentativas até achar a forma certa de resolver o problema. Porém, quando se encontra o caminho, é recompensador. E acredito que finalmente encontramos o nosso.”

Paula Crespi, fundadora da Theia

Leia as matérias do nosso especial de março:

Neste mês de março, celebremos as mulheres

Depoimentos de leitoras e celebridades sobre ser mulher

Feministas de várias gerações contam como renovam as forças para lutar

Jovens revelam as dificuldade de continuar lutas de antepassados em uma nova realidade

Como feministas encontraram nas suas redes apoio e acolhimento através do tempo

Os homens precisam escutar mulheres, ler mulheres, assistir filmes de mulheres – e apoiá-las

Silvia Federici: “Vejo uma oportunidade de mudar a situação das mulheres”

 

Convivendo com a endometriose

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