No hospital, fizeram dois tipos de tratamento com antibióticos. No início, ela não conseguia nem abrir o olho, tadinha. Quando o inchaço diminuiu, a enfermeira conseguiu abrir o olho da Lariza, bem devagar. Quando finalmente abriu, vimos que a íris estava esbranquiçada. Depois de 23 dias no hospital ela recebeu alta. E o medo de a bactéria ir pro outro olho? Minha mulher não dormia, passava a madrugada secando o olhinho dela. Tivemos muita ajuda dos meus colegas motoboys e da família. Como foi difícil o dia em que descobri que ela já estava cega! Não foi o médico que falou, eu é que percebi. Um dia vi que ela torcia a cabeça de lado para assistir TV. Eu a chamei pra perto de mim e, quando ela estava distraída, fui aproximando o meu dedo da pálpebra esquerda. Quem enxerga tem o instinto de tirar a cabeça. Ela não se moveu. Quando eu toquei o olho, ela resmungou: “Cuidado, papai, meu dodói”.
Eu percebi que a minha filha estava cega
“Você está mentindo pro papai? Se mentir, não vai para o Colégio Militar. Você já não está indo à aula, não anda mais de bicicleta. Você tem de falar a verdade para eu ajudar você a ficar boa”. Aí ela confessou: não estava enxergando mais com o olho esquerdo, mas tinha medo de operar. Ela disse que não queria que cortassem o olhinho dela. Expliquei que ela dormiria e acordaria boa.
A última ultrassonografia revelou que a córnea estava perfurada pela bactéria. A gente já esperava o momento em que os médicos diriam que ela perderia o olho completamente. Até que recebemos o telefonema que nos devolveu a alegria.