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Testei positivo para HPV, e agora? Entenda o que fazer

O HPV é a infecção sexualmente transmissível mais comum no país. Como devo agir se me contaminar?

Por Julia Minhoto
20 dez 2022, 09h17

Você provavelmente já ouviu falar no HPV, apontado como um fator de risco para o câncer de colo de útero. E, acredite, ele não é realidade distante: de acordo com uma pesquisa feita pelo Ministério da Saúde, 54,6% da população brasileira é portadora do Papiloma Vírus Humano, a Infecção Sexualmente Transmissível mais comum no país. 2 a cada 3 mulheres já teve contato com o mesmo.

Mas se você se infectou, não é necessário entrar em pânico: existem diversas informações sobre o HPV que você deve saber antes de se desesperar. Beatriz (nome fictício), de 22 anos, testou positivo há 2 anos, e lembra-se até hoje que ao chegar no consultório médico e perguntar se seu caso era perigoso (mesmo não sendo) recebeu uma resposta fria e despreparada de uma profissional da saúde: “Todo HPV é perigoso, você deveria ter se prevenido.”

A desinformação sobre a contaminação por esse vírus e as respostas para perguntas básicas com histórias ilógicas encontradas no Google e em sites de busca, podem desesperar uma paciente que acabou de descobrir a infecção. Tendo isso em vista, a CLAUDIA conversa com a ginecologista e obstetrícia formada pela USP e especialista em HPV, Carolina Corsini, para trazer as respostas para as perguntas mais frequentes sobre o assunto.

O que é o HPV?

O Papiloma Vírus Humano, ou HPV, é um vírus de transmissão principalmente sexual que pode causar verrugas genitais ou lesões que têm potencial de levar ao câncer de colo do útero, vagina, vulva, ânus e no pênis. O HPV não pode ser considerado uma doença, isso porque em muitos casos existe a presença do vírus em sua forma latente, mas ele não se manifesta na maioria das pessoas infectadas.

Como posso contrair o HPV?

A principal forma de transmissão do vírus HPV é através de atividade sexual. A doutora explica que a contaminação se deve, em sua maioria, por um contato prolongado e com atrito, e não ocorre através dos fomities (objetos contaminados que carregam infecções) apenas pele a pele ou mucosa a mucosa. A existência de verrugas externas facilitam a transmissão do vírus pelo atrito, pois são muito contagiosas.

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Dá para pegar pelo sexo oral?

Sim, pode acontecer, mesmo não sendo a principal forma de transmissão. Geralmente ocorre quando há presença de verrugas. Os fatores de risco são baixa imunidade, tabagismo e alcoolismo.

Tenho chances de desenvolver câncer?

O vírus pode ser dividido em dois grandes grupos: o de alto risco e o de baixo risco. Os mais comuns de alto risco são os tipos 16 e 18, e para detectá-los é necessário fazer a cultura específica no exame de Papanicolau. O HPV de baixo risco não tem capacidade de provocar câncer e lesões malignas, pode apenas fazer lesões de baixo grau ou causar condilomas e verrugas. Já os de alto risco, não provocam lesões externas, mas estão associados às lesões malignas.

Todavia, a médica explica que mesmo os casos de alto risco quase nunca evoluem para um câncer. “Por volta de 90% das pessoas que tiverem contato com o vírus vão conseguir eliminá-lo espontaneamente. Os outros 10% não terão essa capacidade e podem ter progressão da doença, mas não necessariamente a nível de um câncer, pois a maioria, ainda dentro dessa porcentagem, consegue eliminar o vírus.”, conta Carolina.

A médica também ressalta a importância dos exames de rotina, do Papanicolau, Colposcopia e das idas frequentes ao ginecologista. “Hoje em dia com as técnicas que nós temos, é muito difícil que pessoas que têm acesso aos serviços de saúde e podem ser submetidas ao rastreamento com frequência venham a ter câncer, porque temos muitos meios de detectar e tratar as lesões anos antes.”

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Quais sintomas posso notar?

O HPV pode permanecer de forma latente por muitos anos e demorar para se manifestar ou nunca se manifestar, dependendo da capacidade de remissão e imunidade da mulher infectada. Entretanto, o HPV de baixo risco, como dito anteriormente, pode provocar as verrugas e condilomas acuminados, como também lesões transitórias de baixo grau. Já o de alto risco não pode ser detectado por conta própria, é mais comumente encontrado por meio de exames e provoca lesões de alto grau ou malignas, que podem ser microinvasivas ou invasivas.

Nos dois casos, essas recebem o nome de Neoplasia Intraepitelial Cervical, ou NIC, que são uma replicação anormal das células do trato genital a ponto das mesmas perderem capacidade de diferenciação. Ao acometerem o terço inferior do epitélio, são chamadas de Neoplasias de nível I, as lesões de baixo grau. As que acometem dois terços ou mais, são as de níveis II e III, consideradas de alto risco.

Como trato o HPV?

Existem tratamentos para as doenças causadas pelo HPV, mas não existem remédios contra o vírus. Uma pessoa que tem verrugas e lesões de baixo grau pode recorrer a tratamentos como o uso de ácidos e laser para cauterização ou imunomoduladores.

A especialista aconselha procurar um ginecologista o mais rápido possível em caso de surgimento de verrugas. “Elas espalham muito rápido e são muito contagiosas, portanto o ideal é iniciar o tratamento precocemente. Além de evitar a progressão e a transmissão, quanto mais rápido tratadas, menor o número de lesões e menores as chances de recidivas,  cicatrizes e menor a necessidade de precisar de tratamento mais prolongado ou doloroso.”

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As que possuem lesões de alto grau, principalmente no colo uterino, podem ser submetidas a um procedimento chamado conização, ou traquelectomia. Caso evolua para um câncer, deve ser tratado de acordo, no caso do colo do útero, é feita a setorectomia. “Muitas vezes, quando fazemos o tratamentos das lesões, dentro do processo inflamatório, o organismo acaba eliminando o vírus definitivamente. Sempre digo que não existe tratamento para o vírus, mas existe cura, e ela depende da imunidade: quem elimina o vírus é o nosso organismo. E mesmo que não consiga eliminá-lo, não significa que não teve sucesso no tratamento, porque esse sucesso é sinônimo da ausência de lesões”, pontua.

Em casos onde o HPV é detectado em exames de rastreamento, ou seja, a coleta do HPV é positiva, mas o Papanicolau e a Colposcopia vêm dentro da normalidade e a paciente não apresenta lesões, não é necessário tratamento específico, mas é preciso fazer acompanhamento a cada 6 meses ou anualmente, de acordo com a conduta do ginecologista.

A prescrição de vitaminas para reforçar a imunidade contribui com o tratamento do HPV, mas o trabalho de remissão do vírus é responsabilidade do organismo e sistema imunológico, portanto não existe nenhum medicamento capaz de eliminá-lo.

A prevenção

A notícia ruim é que mesmo que você já tenha contraído o vírus, pode contrair novamente caso não se previna, pois existem mais de 100 tipos de HPV. Nenhum método é completamente eficaz na prevenção do vírus, mas podem contribuir para que uma infecção não ocorra. A camisinha e a vacina são os principais métodos de prevenção. Em 2021, a campanha de adesão ao ciclo vacinal contra o HPV em meninas foi muito abaixo da meta no Brasil: apenas 55,5% se vacinaram.

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“A camisinha diminui em 70% o risco de infecção, mas a principal forma de prevenção é a vacina. Infelizmente não existe risco zero, mas a gente consegue minimizar muito a infecção e a progressão para um tumor”, ressalta a médica.

As vacinas são responsáveis pela prevenção de quase 95% dos casos de câncer do colo do útero pelo HPV. Hoje em dia existem vacinas bivalentes (que protegem contra os tipos 16 e 18, os de maior risco), as tetravalentes (que protegem contra outros dois tipos, mais comuns em clínicas particulares mas eventualmente dadas em postos de saúde), e as nonavalentes, que protegem contra nove variantes, mas são pouco encontradas no Brasil. Hoje, a vacinação está liberada para meninos e meninas entre 9 e 15 anos.

Meu namorado me traiu?

Não necessariamente. A doutora explica que é necessário ter certeza que seu status e o do seu parceiro eram negativos, porque o vírus poderia não estar latente no seu corpo ou no dele. O HPV pode demorar anos para se manifestar e antes dos 25 anos a maioria das ginecologistas e urologistas sequer exigem exames, pois a capacidade de eliminação do vírus é muito grande. Sendo assim, a maioria das pessoas mal sabem que são portadoras do HPV.

Preciso contar para o meu parceiro?

Essa é uma questão ética, sigilosa e delicada. “A paciente deve comunicar o parceiro sexual se houver lesão e/ou HPV de alto risco, em especial os tipos 16 e 18. Não há necessidade de contar a outras pessoas já que a transmissão é quase que exclusivamente sexual”, aponta Carolina.

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Muita calma nessa hora!

Depois de reconhecer a doença e tirar todas as dúvidas necessárias, é preciso ter calma. Pedimos para Carolina o maior conselho vindo de uma especialista na área para as mulheres e meninas contaminadas.

“Primeiramente eu diria ‘calma’. Eu sempre brinco que é mais fácil tratar a doença do que tratar a cabeça. O HPV é uma doença muito estigmatizante. O mais importante é: procure um ginecologista especialista na área. Hoje em dia existem muitas técnicas novas, e nós sabemos que o tratamento pode ser conservador na maioria dos casos, não vai comprometer fertilidade e a gente pode minimizar os riscos de cicatrizes. Manter uma boa qualidade de vida, também é importante.”

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