O lar da estilista Giulia Brown é recheado de obras de arte e objetos exóticos
Quadros de diferentes artistas, móveis antigos de família e itens garimpados em viagens criam a atmosfera aconchegante da casa da estilista paulistana.
Ao entrar no apartamento da estilista Giulia Brown Alterio, a sensação é de ter sido transportada para um espaço moderno em uma terra distante e exótica. O endereço dessa paulistana de 25 anos, no entanto, fica bem no coração dos Jardins, em São Paulo, e é onde a moradora revela sua imaginação e ousadia na mistura de estilos, cores e objetos pessoais. Esse olhar apurado acabou levando-a ao mundo da moda, depois de perceber que os cursos de direito e de relações internacionais não eram para ela. “Estava insatisfeita e larguei a faculdade. Pouco depois, entrei no curso de moda do Istituto Europeo di Design e adorei a área.” Na mesma época, Giulia começou a trabalhar com a mãe, Candy Brown, fundadora da marca homônima de roupas de festa, e, em 2012, lançou a linha Candy, destinada a um público mais jovem e descolado. Hoje, a marca oferece cerca de 200 vestidos feitos a mão e com estampas exclusivas. Embora sejam prêt-à-porter, os modelos recebem pequenas modificações segundo o desejo das clientes, como uma manga mais longa e a inclusão de um cinto. “Já tive ótimas ideias para novos vestidos conversando com as clientes no ateliê”, diz.
Há cerca de dois anos, a estilista decidiu sair da casa da mãe e ir morar sozinha. “Passamos muito tempo juntas no trabalho e eu queria ter um espaço só meu”, conta Giulia, que demorou seis meses para encontrar a morada de seus sonhos. Situado em um pequeno edifício dos anos 1940, o apartamento tem luz natural abundante, característica que gerou “o maior dilema” na hora de escolher a cor das paredes na área social. “Queria pintá-las de amarelo-ovo, mas minha irmã (a arquiteta Carolina Maluhy) disse que ficaria claro demais, já que bate muito sol na sala. Acabei optando por um verde-menta, mais suave e fresco.”
O tom forma a base que unifica as diversas influências expostas na sala, repleta de objetos interessantes. No centro de uma das paredes, duas imagens da fotógrafa Anna Silveira – uma em preto e branco e outra, colorida, que mostra a entrada de uma loja de tecidos no Butão – ajudam a criar uma atmosfera mágica e contrastam com o lustre de teto de cristal e o espelho dos anos 1920 – ambos pertenceram aos avós de Giulia. Na parede ao lado, é possível ver uma obra do artista Marcello Nitsche, uma pincelada gigante e vigorosa em vermelho. Móveis vintage – como a mesa Saarinen com tampo de madeira taqueada e o carrinho de chá, que exibe uma máquina de café expresso – fazem contraste com a luminária de design moderno da área de jantar. “Não queria que o ambiente ficasse muito clássico, então, coloquei este lustre para dar uma cara mais atual ao espaço.”
Praticamente todo o mobiliário do apartamento pertencia à mãe da estilista – Giulia escolheu a dedo o que queria levar quando Candy se mudou para uma casa menor, no Jardim Europa. “Não comprei quase nada. Adoro reaproveitar objetos de família”, diz Giulia. A riqueza de misturas que se veem por toda a residência, porém, se deve completamente à moradora, que adora viajar e ir a exposições. “Amo conhecer culturas diferentes e tudo me inspira: mercados, temperos, arte, moda, costumes. Meus pais vão muito aos Estados Unidos e à Europa, mas tenho uma tia que me incentivou a visitar outros destinos. Viajo com ela há quase dez anos.” Desde então, a dupla já se aventurou por locais como Namíbia, Botsuana, Egito, Turquia, Marrocos e Japão.
Todas essas vivências se refletem igualmente no quarto da estilista. O abajur que fica em cima do criado-mudo, por exemplo, tem como base um pequeno barril de saquê feito de porcelana azul e branca. A cúpula do objeto foi revestida de tecido ikat, assim como a cabeceira da cama, com uma estampa diferente. “O quarto tem uma vibe meio anos 1950. O rosa-antigo das paredes dá uma luz bonita e acalma”, opina Giulia. Em uma das paredes, quadros contam episódios da vida da estilista, a exemplo de uma fotografia pintada (feita pela artista plástica Patricia Magano) e uma foto em preto e branco dos anos 1920 garimpada em Veneza. A delicadeza do ambiente segue do outro lado do dormitório, onde uma cômoda guarda perfumes e mil acessórios, entre óculos, colares e pulseiras adquiridos em diversas partes do mundo.
Pintado na mesma nuance de rosa, o quarto ao lado acabou virando um closet extenso e superorganizado, com prateleiras e nichos abertos para que tudo fique à vista. As peças são divididas em grupos: coletes, vestidos, blusas, saias, calças, bolsas e chapéus. “Assim fica mais fácil me produzir no dia a dia”, explica. “Amo usar camisa, saia mídi e sapatilha. Esse é basicamente o meu uniforme.” Mas isso não a impede de investir em algumas produções diferentes, como um quimono usado com camiseta e jeans ou um blazer sobre uma camiseta. “Para não ficar muito caretinha”, diz. Roupas e acessórios de grifes famosas também habitam seu guarda-roupa. Stella McCartney, Céline e Chanel, entre outras, estão por lá, ao lado de peças herdadas do closet da mãe.
O mesmo espírito de organização encontra-se na cozinha pintada de branco e azul-cobalto, uma paleta que transmite leveza e frescor. Quando Giulia visitou o apartamento pela primeira vez, o azul já estava nas paredes e ela deu apenas uma nova mão de tinta. Prateleiras e armários suspensos foram instalados e expõem xícaras, taças, livros de receita, panelas, facas e temperos. “Amo cozinhar. Costumo fazer comida italiana e agora estou testando pratos tailandeses e indianos”, conta. Ainda na cozinha, a coifa de aço escovado, assim como as luminárias pendentes e feitas do mesmo material, dá um toque moderno ao ambiente, que possui um balcão central, com tampo de azulejos brancos e azuis, que combina com o piso original de pastilhas. Dois tapetes marroquinos de tamanho médio, um próximo à geladeira e outro sob uma mesa, deixam o ambiente mais acolhedor. “Gosto de morar sozinha”, diz a estilista, “mas sempre recebo pessoas em casa, sejam minhas amigas, seja minha família, seja minha professora de ioga.”