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Mulheres precisam estar mais arrumadas que os homens! Tá certo isso?

As mudanças na moda combinadas e transformações sociais impactaram os vestuários femininos e masculinos

Por Lorraine Moreira
Atualizado em 2 out 2023, 17h35 - Publicado em 2 out 2023, 10h15

Elas vestem um closet inteiro, eles preferem camisas, calças e tênis. A distância demarcada por um simples ponto final representa a realidade na moda: mulheres apostam em visuais superproduzidos, enquanto homens vão no basiquinho. À primeira vista, não há nada de errado nessa dinâmica, mas ela esconde estigmas e fala sobre papéis de gênero.

Perucona, salto alto, maquiagem e joias pesadas eram comuns aos homens europeus até o século 18. As vestimentas ornamentadas dos aristocratas demonstravam suas riquezas ‒ quanto mais adereços caros, mais poder possuíam. A moda é associada ao contexto social e a quem veste a peça, capaz de diferenciar gêneros e classes sociais pela linguagem visual”, explica a consultora de estilo Aline Calamita.

O racionalismo, valorizado pelas revoluções Francesa e Industrial, mudou bastante a lógica vigente. O homem se estabelece como responsável pela produção e trabalho nos espaços urbanos, criando a necessidade de um visual neutro e sóbrio para transmitir uma vida pautada na lógica. Enquanto isso, as mulheres, sem ocupar o espaço social, tornam-se símbolos de status para o marido: quanto mais ornamentada, maior a reputação de riqueza do homem, praticamente uma espécie de capital social. Veblen, em seu artigo The Economic Theory of Women’s Dress, é quem teoriza essa relação econômica e da moda. 

“Um modo de produção diferente implica em uma rotina diferente para o dia a dia das famílias. O homem burguês, ao ocupar o espaço urbano frequentemente, com diversas tarefas ao longo do dia, precisa de um visual prático, mais neutro, e o mais importante: diferente das mulheres”, afirma a especialista. Esse momento é conhecido como a Grande Renúncia Masculina, exatamente porque eles abandonam as roupas espalhafatosas e, paralelamente, as mulheres tornam-se cada vez mais enfeitadas.

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A cobrança é maior para as mulheres

Não demorou muito para a moda ser vista como “coisa de mulher”, no sentido pejorativo e machista da frase, segundo Aline. Conforme Veblen, de acordo com nosso sistema social, o lugar da mulher tornou-se um meio de gasto conspícuo improdutivo. Mas o que isso significa? A consultora de estilo traduz: “A função do homem era produzir, enquanto a da mulher era exibir. Nessa lógica, gerar riqueza era nobre, valioso, e útil. Enquanto exibir, ainda que extremamente importante para o homem socialmente falando, seria fútil.”

Estar sempre arrumada, então, tornou-se praticamente uma obrigação para as mulheres serem validadas.  “Embora tenham acontecido mudanças no vestuário feminino e no espaço social que elas passaram a ocupar, existe uma intensa cobrança estética para esse grupo”, pontua a profissional. É nesse contexto que passar um blushzinho e trocar de roupa antes de ir à padaria ou ao mercado passa a ser quase necessário.

Celebridades também estão sujeitas a esse problema: ainda que possuam fama similar – ou mais expressiva –, estejam nos mesmo evento e fazendo o mesmo trabalho, precisam de produções mais elevadas. Beyoncé e Ed Sheeran, por exemplo, ilustram bem essa situação, pois a distância do visual ficou marcada quando cantaram juntos – ele, com peças do cotidiano; para ela, uma supercomposição. Em casais, a cena se repete. Uma foto de Hailey e Justin Bieber viralizou porque ele estava de moletom e, ao mesmo tempo, ela vestia roupa de festa. 

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Quem decide sair dessa dinâmica é vista como desleixada. Naomi Wolf, em O mito da beleza, explica a que isso se deve: alguém, em algum lugar, percebeu que mulheres comprariam mais se fossem mantidas “no estado de ódio a si mesmas, de fracasso constante, de fome e insegurança sexual em que vivem como aspirantes à beleza”. Ou seja, esse grupo, ao se preocupar sempre com a aparência, torna-se um consumidor significativo, o que é importante para quem vende.

No escritório, o problema fica intenso

Mulheres em cargos de liderança, para serem levadas a sério, muitas vezes abandonam elementos ditos femininos e incorporam instantaneamente códigos do vestuário masculino – tons neutros, linhas retas, visual sóbrio –, pontua Aline. “Essa ação é conhecida como power dressing, como se precisássemos ‘nos vestir de homem’ para ocupar lugares como eles ocupam.”

Roupas penduradas em um guarda-roupa
Associar a moda a futilidade e ao feminino é machista (Ksenia Chernaya/Pexels)

Ela reflete: “Não pode estar arrumada demais que é fútil, mas também não pode estar confortável, que é vista como desleixada demais.” Para pensar em uma realidade que não nos aprisione, ela sonha que essas pessoas “consigam ocupar esses espaços se ‘vestindo de mulher’ e estando confortáveis. Não por pressão, mas por expressão da própria identidade.” 

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