Uma imersão Ayurveda na paisagem deslumbrante da Lapinha
No Paraná, a Imersão Ayurveda do Vida Veda propõe mudanças profundas de estilo de vida rumo à longevidade
Daqui uma semana, o que pode acontecer para te fazer pensar: “Uau, que dias incríveis”? No final de novembro, prestes a embarcar num programa de imersão sobre um milenar sistema de conhecimento de vida que surgiu na Índia, o ayurveda, essa foi a reflexão que Matheus Macêdo, idealizador do Vida Veda, maior portal sobre ayurveda do Brasil, me propôs.
A expectativa era alta ao chegar na Lapinha, spa médico pioneiro no interior do Paraná onde seria realizado o retiro de sete dias com o instigante subtítulo “4 Pilares para Longevidade”.
Queria experimentar uma sensação de vitalidade diferente da do cotidiano, uma que me ajudasse a encontrar determinação para fazer as mudanças que eu já sabia que precisava no estilo de vida. Evitando o suspense: foi exatamente isso que encontrei, e compartilho aqui.
Na proposta de Matheus Macêdo, que estava acompanhado do professor de yoga Caio Corrêa e da psicóloga Gabriela Casotti na condução do programa, os participantes devem passar por uma “desintoxicação”. Questionadora, como gosto de ser, perguntei em uma das nossas rodas de conversa, chamadas de satsang, se esse era o termo mais adequado. Afinal, se houvesse algo tóxico de verdade, como um veneno, no nosso corpo e o fígado ou rim não estivessem dando conta de filtrá-lo, o ideal seria ir correndo para o pronto-socorro, não um spa, certo?
Com firmeza e paciência inabaláveis, Matheus respondeu: “Do ponto de vista da medicina moderna, de fato, desintoxicar não faz sentido. Mas para o ayurveda, temos a mesma palavra para algo venenoso, como a estricnina, e para um alimento ou pensamento que não foi bem digerido. Tudo é ama, ou toxina”.
Ao dividir como foi a experiência, então, posso contar o que foi acrescentado de diferente na minha rotina nos quatro pilares da saúde: alimentação, movimento, silêncio e sono. A comida, toda vegana, estava dividida em apenas três refeições: café da manhã, almoço e jantar (servido sempre às 18h), de preferência sem celular.
Longas caminhadas e duas práticas de yoga eram compromissos diários. Formas variadas de meditação e no mínimo oito horas de sono (esqueça o wi-fi durante a noite ou a televisão no quarto) também estavam garantidas.
Convém olhar atentamente, porém, para o que foi deixado de fora nessa equação. No meu caso, aquelas scrolladas nas redes sociais já deitada na cama, os beliscos açucarados no meio da tarde, as quase infinitas horas sentada, e só sentada, no computador, sem falar no café. Sim, nada de cafeína por sete dias.
O resultado das mudanças aparece primeiro no agni, palavra em sânscrito usada para descrever o fogo digestivo. Quando sobrecarregamos o nosso sistema com coisas demais — a generalização é de propósito, para dar conta da comida, das informações, dos sentimentos e tudo mais que colocamos para dentro —, os sinais de cansaço e desregulação aparecem. Com o agni fortalecido, lidamos melhor com todos os percalços.
Para botar lenha nessa fogueira (quase que literalmente), outra etapa fundamental dos dias era a combinação de auto-oleação + sauna. No ayurveda, os óleos vegetais têm um importante papel de nutrição do corpo de fora para dentro, através da pele.
O ritual, um tanto melecado, é verdade, consiste em aquecer em banho-maria o óleo de gergelim e espalhar por toda a superfície do corpo, com especial atenção às articulações, em movimentos circulares.
A prática, feita em silêncio, aumenta nossa consciência corporal (quando foi a última vez que você fez carinho atrás do seu joelho?) e prepara o corpo para suar as tais toxinas na sauna.
A hotelaria exemplar da Lapinha, assim como a gentileza de todos que trabalham na imersão, são um convite para repensar hábitos. Afinal, com quanta gentileza nós temos nos tratado? A pergunta só não é mais complicada do que a próxima que vem à mente: como manter essas rotinas no cotidiano para experimentar o mesmo vigor no corpo e serenidade de espírito?
Trazendo talvez a sabedoria mais ancestral possível, o ayurveda nos coloca de frente com nossas escolhas: o que é possível diante dos cenários que se apresentam. Uma maneira bem efetiva de tomar melhores decisões hoje? “Eu converso muito com o meu eu de 82 anos”, conta Matheus, aos 39, autor do ótimo livro Os 4 Pilares da Saúde, publicado pela Planeta.
Numa conversa com a Helena de 82, consigo me ouvir: “Lembra daquela imersão? Valeu a pena dormir cedo, comer melhor, silenciar os ruídos e se mexer mais, né?”. Eis uma semana para reiniciar a vida, um dia de cada vez.