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Mesmo na pandemia, o câncer de mama não pode ser negligenciado

Especialistas fazem alerta sobre os perigosos impactos na redução dos diagnósticos e a importância dos exames preventivos

Por Gabriela Teixeira (colaboradora)
22 out 2020, 18h33
 (cienpies/Getty Images)
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As estimativas preocupam: segundo estudo realizado pelo Instituto Nacional de Câncer José Alencar Gomes da Silva (INCA), é esperada a ocorrência de mais de 66 mil novos casos de câncer de mama por ano até 2022. Segundo tipo mais incidente nas mulheres, ele fica atrás apenas do de pele e, de acordo com a Organização Mundial da Saúde, é a causa mais frequente de morte por câncer entre a população feminina. 

Mas a pandemia do coronavírus trouxe impactos que podem tornar o cenário ainda mais crítico. Um levantamento da Sociedade Brasileira de Patologia (SBP) mostra que, entre março e junho deste ano, 70 mil diagnósticos de câncer deixaram de ser realizados. Com isso, é possível que haja um aumento nos índices de descobertas de tumores em fase já avançada.

Raphael Brandão, chefe de oncologia da Clínica JB Oncologia, conta que existe uma estimativa de aumento de até 30% da mortalidade por câncer em geral no próximo ano por causa do que chama de “terceira onda de problemas associados a Covid-19”, que envolve a não detecção de doenças crônicas.

Além da queda de diagnósticos em pessoas até então saudáveis, o médico aponta casos de pacientes que já estavam curados e em fase de seguimento, mas que ficaram alguns meses sem fazer os exames necessários e acabaram se deparando com eventuais progressões da doença para estágios mais avançados.

Muitos procedimentos cirúrgicos para retiradas de tumores malignos também foram cancelados ou adiados: de acordo com a Sociedade Brasileira de Mastologia (SBM), quando comparado ao mesmo período de 2019, houve uma diminuição de 75% das operações realizadas nos grandes centros hospitalares de oncologia nos meses de abril e maio deste ano.

Urgência necessária

Na contramão das estatísticas, a dentista Carol Pimentel, de 38 anos, preferiu não deixar a pandemia ser obstáculo ao tratamento. Diagnosticada em julho, ela notou os primeiros sinais da doença logo após o nascimento da filha, quando ainda estava no hospital.

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Durante a visita de uma consultora de amamentação, enquanto fazia uma massagem para ajudar a drenar o leite, ela sentiu que uma região da mama esquerda estava diferente do resto. Ao comentar com consultora e com a médica que acompanhava o procedimento, ouviu que poderia ser alguma coisa nos ductos mamários e que era preciso aguardar para ver como aquilo iria evoluir, mas que deveria ficar tranquila.

“E eu desencanei. Mas quando minha filha ia fazer um mês, eu não conseguia mais amamentar. Percebi que minha produção de leite tinha diminuído muito e aquele negócio ainda estava lá”, relata. Carol imediatamente procurou sua médica de confiança, que solicitou um ultrassom. “Na hora do exame, eu já sabia. A cara do médico já dizia tudo.”

Além do ultrassom, a dentista passou por uma punção e uma biópsia. Quem primeiro soube do diagnóstico, porém, foi seu marido, que é médico. Curiosamente, ela ligou para o laboratório quase que ao mesmo tempo que a chamada dele. Confirmando que o resultado havia saído, a atendente disse que não poderia dar mais informações por telefone e que era preciso que ela fosse buscar pessoalmente.

Carol então chamou o marido, já sentindo um peso no estômago. “Foi quando ele me levou para o quarto, sentou na cama, segurou minhas duas mãos e, olhando bem fundo nos meus olhos, falou: ‘Amor, eu já sei o que é. O doutor me ligou e é câncer. Mas estou com você e vamos enfrentar isso juntos. Vai dar tudo certo. Você confia em mim?’. E eu respondi que sim”, conta com a voz embargada.

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Uma vez confirmada a doença, Carol não perdeu tempo. Paciente de Raphael, a primeira coisa que ela disse ao encontrar o médico foi que gostaria de retirar as mamas de imediato. Ele então a tranquilizou, explicando que antes de mais nada, era preciso saber as características do tumor para montar as estratégias de tratamento.

Por se tratar de um câncer do subtipo HER2+ e sem sinais de metástase, o tratamento que Carol tem feito consiste inicialmente em sessões de quimioterapia, alinhadas com técnicas da medicina integrativa, que visa atender as necessidades de cada pessoa de acordo com suas particularidades.

Nesta prática, explica a médica Indianara Brandão, diretora da Clínica First, se olha o paciente como um todo, não apenas a doença. “Não vamos tratar apenas o câncer de mama, mas também oferecer medidas de conforto para que a pessoa passe melhor por esse momento. E usar as práticas alternativas para controlar os sintomas que podem aparecer. Não se deixa de fazer o convencional, mas sim o complementa com outras possibilidades de tratamento.”

Prestes a ir para a quinta das seis sessões de quimioterapia, Carol planeja remover a mama esquerda em dezembro e, meses depois a direita, colocando próteses definitivas. “Os médicos falaram que não precisava, mas eu quis remover a mama sadia também por precaução. Com prótese ou sem, lisa como uma tábua, está tudo bem. Eu quero ficar viva e plena!”

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Com essa leveza de espírito, ela compartilha a jornada em seu perfil no Instagram, buscando inspirar as pessoas de maneira positiva. “Sei que é uma doença desafiadora e que muitas pessoas têm medo e não conseguem lidar dessa forma com ela. Então se minha experiência pode impactá-las, por quê não? Quero que isso transborde na vida das pessoas. Já fui criticada até por pessoas da família, que dizem que estou me expondo demais, mas é algo maior que eu.”

“Escolhi lidar com isso de maneira leve”, continua a dentista, que, além da família, encontra no lado espiritual forças para enfrentar a batalha contra a doença. “É o que me sustenta, me faz sorrir, me fortalece e me dá a certeza de que tudo já deu certo. Ficar em desespero não vai resolver o problema ou me ajudar em nada. Tenho uma família linda, um marido que me ama e me apoia, dois filhos maravilhosos. E tenho Deus presente na minha vida, que é o mais importante. Então não tem porque eu não estar sorrindo e feliz.”

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4ª quimioterapia!!! Com Deus no comando 🙏🏻🙏🏻🙏🏻 Bora #derreterotutu ! #cancer #cancerdemama #cancerdemamatemcura #outubrorosa #autoexame #cancerawareness #tchautchaututu

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Previna-se

Oncologista do Grupo Oncoclínicas, Aline Gonçalves explica que a descoberta precoce do câncer é crucial, pois implica em 95% de chances de cura. Por outro lado, quando diagnosticado tardiamente, além da menor chance de recuperação, é preciso empregar tratamentos mais radicais e cirurgias mais agressivas, como a mastectomia, por exemplo.

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“Nesse contexto, é fundamental o papel da mamografia, pois esse exame é capaz de detectar o câncer de mama mesmo antes de ser palpável pelo exame clínico ou pelo autoexame”, diz a médica. De acordo com as orientações da Sociedade Brasileira de Mastologia, a mamografia deve ser realizada anualmente a partir dos 40 anos. Além dela, exames de ressonância magnética, ultrassom das mamas, check-ups oncológicos e o autoexame de toque também podem auxiliar no diagnóstico.

A manutenção de hábitos saudáveis também interfere nas chances de ocorrência da doença, uma vez que obesidade, tabagismo e alcoolismo são considerados fatores risco. Assim, prossegue Aline, são consideradas medidas primárias de prevenção ter uma boa alimentação, fazer atividades físicas, evitar o consumo excessivo de bebidas alcoólicas e não fumar. “Para pacientes que já têm o diagnóstico de câncer de mama, essas medidas ajudam no combate aos efeitos colaterais do tratamento e, principalmente, diminuem a chance do câncer voltar.”

Por fim, a médica ressalta a importância de buscar ajuda especializada. “Ao longo do período de pandemia, os médicos, clínicas e hospitais foram se preparando e se organizando para oferecer exames e tratamentos com segurança, obedecendo todas as recomendações das autoridades para seguirmos em frente no tratamento e diagnóstico de câncer. É importante que quem precisa de auxílio médico, saia de casa e se cuide!”

Estou com câncer de mama. E agora?

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