A internet pode estar atrapalhando seu sono
Especialistas têm falado sobre os impactos da tecnologia na forma como você dorme; entenda o assunto
“Quando Thomas Edison inventou a lâmpada elétrica, indiretamente foi responsável por uma confusão no nosso relógio biológico, mais precisamente no ciclo vigília-sono”, diz Larissa Fonseca, psicóloga especialista em sono pela Unifesp. Hoje, então, onde checar o celular é a primeira coisa que fazemos ao acordar e a última antes de dormir, os impactos são ainda mais potentes.
O sono é um estado fisiológico complexo e vital para nosso organismo, pois é durante ele que acontece o relaxamento do corpo, além de processos de memorização, aprendizagem e metabolismo, segundo Taissa Ferrari Marinho, médica neurologista. “Sua ausência pode levar a alterações significativas no funcionamento físico, ocupacional, cognitivo e social do indivíduo, comprometendo substancialmente a qualidade de vida da pessoa.”
Com a luz elétrica, as telas, incluindo o celular ‒ mesmo com baixa luminosidade ‒ e a atividade ininterrupta da internet nos atraindo para esticar nosso dia, entretanto, afetamos parte importante desse processo. “Fisiologicamente, nosso corpo não entende que é noite e, portanto, hora de dormir”, lembra a psicóloga.
“Isso tudo está ligado ao ciclo circadiano, nome científico para o chamado relógio biológico. É ele que coordena os sistemas mentais e físicos, regula o nosso horário de dormir, acordar e o ritmo em que fazemos as nossas atividades”, afirma neurologista. Mas como isso está relacionado? “A claridade do dia estimula a liberação de cortisol, o hormônio que nos deixa despertos, enquanto a ausência de luz a noite permite a produção de melatonina, o hormônio que induz ao relaxamento e ao sono”, diz Taissa.
Prejuízos de não dormir bem
A falta de sono afeta o humor, aumenta a irritabilidade e diminui a capacidade de lidar com o estresse, prejudicando o comportamento e as relações interpessoais, ou seja, a interação entre indivíduos, segundo Larissa. “Isso tudo pode ser agravado e acabar resultando em ansiedade e depressão.”
Não é só a saúde mental que sofre as consequências, mas também a física. “A luz azul está presente em vários dispositivos tecnológicos, como celulares, computadores e TVs. A alta exposição a ela pode levar a problemas na visão”, pontua a médica. A ausência de sono também compromete a agilidade cognitiva e a memória, além de dificultar o processo de tomar decisões e aumentar as chances de ter doenças metabólicas.
Quais são as recomendações para reduzir a influência negativa da tecnologia no sono?
A tecnologia veio para facilitar a vida das pessoas: acesso rápido à informações importantes e comunicação instantânea são só alguns dos benefícios. Porém, ao mesmo tempo, o controle do tempo e do horário do uso da tecnologia é imprescindível para uma boa qualidade de vida.
“Para evitar prejuízos, uma dica é adotar a higiene do sono, mantendo o quarto com baixa percepção do barulho, temperatura agradável e evitar dispositivos luminosos, como celular, TV, computadores, despertadores digitais, antes de dormir”, indica Taissa.
A psicóloga completa: “perceba as situações que te levam ao uso dos aparelhos, anote as horas perdidas, tenha horários específicos para responder e-mails, mensagens e até usar redes sociais, tenha hobbies e selecione espaços de sua casa em que dispositivos eletrônicos não podem estar presentes.”
E se eu for viciada?
“Como qualquer vício, há uma dependência que provoca um efeito químico no organismo. No caso do uso de celular, é a dopamina”, conforme Larissa. Esse hormônio traz a sensação de que você está satisfeito e o dever está cumprido.
“A liberada pelo uso da tecnologia, seja através de mensagens recebidas, ou likes em redes sociais, é de fraca intensidade e faz com que o indivíduo queira cada vez mais, por esse motivo, pode levar ao vício”, contextualiza.
Para sair dessa, além ter acompanhamento profissional, é importante substituir parte do uso de celular por atividades físicas, alimentação correta e outras tarefas que fazem o prazer ser prolongado, sem acabar tão rapidamente, acrescenta a especialista.