A importância de 50% da programação da SIM São Paulo ser feminina
Diretora da Semana Internacional da Música, Fabiana Batistela acredita que mudança no olhar da curadoria contribui para todo o mercado musical
Cinquenta por cento de presença feminina na programação. Essa exigência pautou a curadoria da quinta edição da Semana Internacional da Música de São Paulo (SIM) – uma das mais importantes feiras de negócios da música da América Latina. O evento acontece entre os dias 6 e 10 de dezembro em diversos pontos da capital paulista, tendo o Centro Cultural São Paulo (CCSP) como base.
“Essa regra é para prestarmos atenção não só no primeiro nome que vem à nossa cabeça, que normalmente é masculino”, conta a paulistana Fabiana Batistela, 40 anos, diretora da SIM São Paulo. “Tem muita mulher no ramo da música e normalmente elas não são protagonistas. Na maioria das vezes, é um sócio homem com as mesmas responsabilidades que fala pelo projeto”, explica.
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Há mais de 18 anos no mercado musical, Fabiana acredita que basta pensar um pouco mais para encontrar um bom nome feminino para aquilo que se procura. Por isso, a imposição dos 50%, implantada desde a edição passada da feira. “Foi uma forma de orientar o nosso olhar e procurar essas mulheres que já se destacam no setor.”
Ao longo dos cinco dias de programação intensa, acontecem mais de 50 palestras, debates e workshops sobre o novo mercado musical no CCSP. Além disso, 27 artistas e bandas se apresentam no palco do Centro Cultural e outros 130 se dividem entre festas e shows em 40 eventos distribuídos pela capital paulista. Tudo com 50% de presença feminina.
A diretora da SIM São Paulo tem esperança de que essa taxa seja uma exigência provisória. “Ela é importante como incentivo até o dia em que a gente não precise mais pensar nisso, em que será natural esse equilíbrio de gênero na musica.”
Fabiana é também fundadora e diretora da Inker, agência de comunicação e projetos focada em música e artes, que realiza a feira com a Prefeitura de São Paulo e o CCSP. São 15 anos comandando a empresa e, de lá para cá, ela percebe certa evolução no cenário musical quando o assunto é equidade de gênero.
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“Durante muito tempo eu era a única mulher na sala de reunião. Eram os homens e eu. Hoje é bem diferente, mas ainda tem muito a mudar”, conta. Como reflexo dessa solidão, a paulistana precisou superar muita desconfiança ao longo da carreira, preconceito enfrentado até hoje. Ela já perdeu as contas de quantas vezes ouviu a frase: “Acho que essa menina não vai dar conta”. “Eu não sou menina. São duas décadas nesse ramo. Parece que a gente sempre precisa fazer mais esforço para se provar”, rebate.
Trazer outras mulheres para o seu entorno foi a forma instintiva que Fabiana encontrou de combater tudo isso. Antes mesmo de exigir uma programação com equilíbrio de participações feminina e masculina na SIM São Paulo, a maior parte dos funcionários da sua agência já eram mulheres. “Sempre foi assim, aconteceu sem eu perceber.” Sua expectativa é de que esse movimento se torne natural e que, em breve, homens e mulheres tenham as mesmas oportunidades em todo o mercado da música. Esperamos que esse dia esteja próximo!