A resposta para o ato bizarro da Daenerys sempre esteve nos looks dela
Se o roteiro falhou em indicar o que estava por vir, o mesmo não pode ser dito do brilhante figurino da série.
Atenção: esse texto contém MUITOS spoilers do quinto episódio da oitava temporada de “Game of Thrones”.
No último domingo (12), muitos fãs de “Game of Thrones” assistiram em choque ao penúltimo episódio da série, chamado “Os Sinos”, quando Daenerys Targaryen (Emilia Clarke), a Filha da Tormenta, a Não Queimada, a Mãe de Dragões dá uma de ~Rainha Louca~ e resolve queimar a cidade de Porto Real – com todos os habitantes dentro -, mesmo após os sinos de rendição tocarem. A decisão dos roteiristas foi uma surpresa para muitos, já que, no início da produção, ela foi praticamente vendida como escrava sexual, conquistou por méritos próprios (e com a ajuda de três dragões) poder, libertou escravos, aniquilou estupradores e escravocratas e, principalmente, nunca havia demonstrado sinais de loucura, além de sempre agir com compaixão aos mais pobres e inocentes.
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Se o roteiro falhou em construir uma base mais sólida para o que estava por vir, o mesmo não deve ser dito do figurino da produção. Nem sempre pode parecer muito claro, mas roupas contam histórias, elas não estão lá por acaso, seja no dia a dia do seu trabalho, no tapete vermelho ou em um mundo fantasioso como o de Westeros. Michele Clapton, figurinista responsável pelos looks dos personagens, sempre deixou essa preocupação de comunicar uma ideia por meio das indumentárias muito clara em entrevistas.
Em uma conversa com o Buzzfeed, pouco depois da estreia do 7º ano da série, em 2016, ela explicou como as cores tinham/ têm papel fundamental no guarda-roupa de Dany. Nas primeiras temporadas, por exemplo, era tudo sobre azul para mostrar a lealdade dela para com Khal Drogo e os Dothraki, mas, com a crescente autonomia dela, começou a se aventurar em tons de branco, cinza e carvão e essa mudança tinha como objetivo acentuar como ela estava se tornando ela mesma. E, já na 7ª temporada, uma outra cor começou a dar as caras nos looks dela no seriado: o vermelho.
Vermelho, vermelhaço, vermelhusco
Em “Game of Thrones”, vermelho sempre foi muito associado aos Lannisters e desempenhou um papel importante no guarda-roupa de Cersei (Lena Headey) – que descanse em paz. “No começo, ela não estava sempre de vermelho. Porém, assim que o poder dela começa a crescer, ela passa a usar cada vez mais a cor em um tom vibrante, bem Lannister. Depois, começou a ir para um vermelho mais sangue e, finalmente, o preto, para mostrar o luto dela pelos filhos”, disse Michele na entrevista. Só um adendo: assim que assume o Trono de Ferro, Cersei volta a usar vermelho, mas, desta vez, presente em looks mais militarizados e em uma tonalidade bordô – para combinar com as taças de vinho, o acessório favorito dela na fase como Rainha.
Mas adivinhe qual outra tradicional casa de Westeros divide o vermelho com os Lannister? Os Targaryen, e de forma bastante clara:
No 7º ano da série, no qual a história de Dany começa a se cruzar com a de Jon Snow e o Trono de Ferro parece cada vez mais perto, quando ela incorpora ainda mais a cor ao figurino. No início, de forma tímida, em alguns pequenos detalhes no busto, depois, um tanto mais pronunciada, como nesta capa usada já no fim da temporada:
A capa, aliás, é uma espécie de homenagem tanto à Casa dela, quanto ao irmão dela, Viserys, conhecido pela tirania e narcisismo. “Acho muito interessante finalmente vê-la abraçar a ambição do irmão. E o que mais posso dizer? É o início mesmo de algo, quando nós começamos a enxergar quem de fato ela é“, disse Michele em entrevista bastante reveladora ao Uproxx.
Corta para a 8ª temporada. Já nas primeiras fotos promocionais, ela já aparecia com pitadas de vermelho nos looks.
Aliás, e um minuto de silêncio para esse casaco fantástico usando por ela no período em Winterfell:
No momento decisivo, quando os sinos tocaram e ela precisou decidir o que fazer, qual cor estava bastante presente no figurino dela? Sim, o vermelho.
É como se, por meio do figurino, ela estivesse tentando mandar sinais de que, enfim, tinha abraçado o legado da família dela, a tal “loucura Targaryen”, seja pela modelagem das roupas que ela começou a usar e faziam referência aos antepassados, seja pela predominância do vermelho, tom que pode representar o amor e ser associado ao poder, guerra, perigo e violência.
Se a ideia é ser ainda mais literal, a Mãe dos Dragões disse com todas as palavras que iria tomar o que era dela “com fogo e sangue”. Qual a cor do sangue? Bem…
A principal questão não é a de concordar se as atitudes da personagem fazem sentido com a trajetória construída para ela até aqui (spoiler: não fazem), mas é preciso tirar o chapéu para Michele Clapton: as respostas sempre estiveram nos looks criados por ela, apesar do roteiro sempre tentar levar o público a acreditar em outra coisa, que Daenerys Targaryen, a Filha da Tormenta, a Não Queimada, a Mãe de Dragões era uma heroína.