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Lucky Girl Syndrome: o que é e quais os perigos da nova trend do TikTok

Psicólogos problematizam a prática que viralizou nas redes sociais

Por Lorraine Moreira
20 jan 2023, 07h10
sorte
Trend do TikTok promete te tornar uma garota sortuda. (Foto: Reprodução/Pexels)
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Afirmações positivas te fazem conseguir tudo o que você quiser! Pelo menos é o que diz a nova trend do Tik Tok ‒ intitulada como “lucky girl syndrome” (síndrome da garota sortuda, em tradução livre). Quem acompanha a rede com certeza já assistiu alguém falando sobre como conquistou tudo o que desejava através de uma simples frase. Se você não foi uma das mais de 136,7 milhões de visualizações na hashtag #luckygirlsyndrome, fica calma que a CLAUDIA te atualiza!

O que é a Lucky Girl Syndrome?

Globalmente conhecida, a técnica foi popularizada pela brasileira Laura Galebe através de um vídeo em inglês, onde ela citava os motivos pelos quais ela acreditava no poder da prática. Basicamente, você deve dizer “tenho muita sorte. Não sei por que, mas tudo dá certo para mim”, mesmo quando acontecem coisas ruins com você.

@lauragalebe

The secret is to assume and believe it before the concrete proof shows up. BE DELUSIONAL. #bedelusional #luckygirlsyndrome #affirmations #lawofassumption #manifestationtiktok #manifestingtok #lawofassumptiontok #manifestation

♬ original sound – Laura Galebe

Lucky Girl Syndrome é uma combinação das leis da atração e suposição. De acordo com esta segunda, supor que algo é verdade torna isso realidade.  Na primeira, o pensamento positivo atrai resultados também positivos. Assim, uma garota de sorte não só confia que coisas boas vão acontecer, mas também que elas já estão concretizadas.

As controvérsias

“Tudo sai do meu jeito e, se não sair exatamente como eu quero, algo melhor surge depois”, afirma Laura em seu vídeo viral no TikTok, e em seguida explica que isso só passou a acontecer quando ela realmente acreditou que grandes coisas simplesmente aconteceriam. Depois dela, centenas de outras pessoas contaram como seguir a dica foi benéfico para elas. 

Parte dos usuários da rede, no entanto, questionaram a veracidade da prática, pois a maioria dos vídeos foram gravados por pessoas brancas, não deficientes e, geralmente, com alto poder aquisitivo, o que as tornariam privilegiadas, segundo os críticos, e, portanto, seria mais fácil alcançarem seus desejos. Além disso, a psicologia encontra questões no assunto, como a possibilidade da positividade ser tóxica.

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Seria viés de confirmação?

Não existem evidências científicas de que o fenômeno seja verdadeiro, mas muitas pessoas juram de pé junto que é verdade. Isso pode estar relacionado, segundo o psicólogo Guilherme Sauzen, a uma percepção tendenciosa da realidade. 

Um modo de distorcer o que nos cerca é a adivinhação do futuro, ou profecia auto realizante. Os problemas ‒ ou, nesse caso, coisas boas ‒ são previstos como se fossem fatos pelos indivíduos, e, com isso, eles ficam predispostos. Exemplo disso é quando seu parceiro demora para responder e você imagina que ele está prestes a terminar o casamento. Aí você começa a se distanciar, até brigar com ele mais vezes e, com isso, realmente torna a previsão real. O mesmo vale para o processo positivo.

“Nosso cérebro, que é o centro de processamento de informações, por mais evoluído e complexo que seja, ainda é suscetível a certos erros lógicos.” Esses erros, dentro da terapia cognitivo-comportamental, são chamados de distorções cognitivas, que podem ser equiparadas ao viés de confirmação, pontua o psicólogo. “Assim, o que percebemos e a forma como interpretamos o que acontece não é realista, mas sim está de acordo com crenças ou hipóteses pré-existentes que temos.”

@meganguilbeax

i wish i was making this up #luckygirlsyndrome

♬ original sound – megan guilbeax

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O pensamento positivo faz mal ou bem?

Para Guilherme, o problema não é ter pensamento positivos ou negativos, os dois são importantes, mas sim pensamentos disfuncionais ou não-realistas. “Expectativas irrealistas nos frustram, e são uma maneira muito eficaz de minarmos nossa motivação. Suas emoções mais positivas, ainda que sejam mais desejáveis, não são mais importantes que as negativas – porque todas as nossas emoções têm a mesma função: nos informar onde estamos”, pontua. Ao saber onde está e o que deseja, a motivação a mudar aparece. “Se onde ou como eu quero viver é sempre tão distante e inalcançável, pode ter certeza que minha vontade de realizar essa escalada vai diminuir bem rápido.” 

Esforçar-se para reconhecer e vivenciar apenas emoções positivas é navegar pelo mundo com uma bússola quebrada. É necessário ter emoções negativas para aprender a tolerá-las e reavaliá-las, conforme o psicólogo diz.

Ao pensar em técnicas de resolução de problemas, considerar o que pode dar errado e as possíveis dificuldades é importante para preparar-se realisticamente para isso, de acordo com ele. “Às vezes, confessar ‘eu não sei o que fazer’ e ‘vou ficar nervosa e vai me dar um branco’ são realistas, e pensar positivo não vai te aproximar de um bom desempenho, porque não te prepara o suficiente.”

O que fazer então?

Administrar os pensamentos e levar em conta os realísticos pode parecer uma tarefa difícil, mas existe uma maneira de facilitar o processo. “Dentro da terapia cognitivo-comportamental, os pensamentos são reavaliados de maneira realista: reconhecemos, validamos e normalizamos as emoções, e buscamos estratégias de regulação emocional e de enfrentamento dessas situações que sejam mais úteis e seguras para o paciente”, acrescenta. Isso permite que você “se encontre” e comece a dar valor às suas próprias experiências, aumentando sua autoestima, por exemplo.

Fatores culturais nos ajudam a lidar com nossas emoções e com a sensação de isolamento que podemos sentir às vezes. Estar conectado a um grupo, a um ritual ou a uma rotina, como a de pensamentos positivos, pode levar você a uma maior sensação de empoderamento e de alívio da sua situação, indica Guilherme. Mas é preciso ter cuidado para que o esforço e os pensamentos positivos não levem a ansiedade ou baixa autoestima. “Você não precisa gostar das suas experiências desconfortáveis, mas é muito útil aprender algo com elas para estar mais preparada para o futuro”, termina. A dica é o equilíbrio!

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