Jane Fonda: “Acho bem libertador ser velha”
CONTIGO! conversou com a atriz Jane Fonda, 77 anos, que brinca com a velhice, dá conselhos à leitora sobre separação (ela já foi casada três vezes) e agora vive uma divorciada ranzinza em 'Grace and Frankie'
Jane Fonda não é uma mulher qualquer. Ela foi ícone de beleza em praticamente todas as suas etapas da vida, incluindo agora, aos 77 anos – e brinca sem parar com isso. Ganhou dois Oscars, que mereceu, por Klute, o Passado Condena, de 1971, e Amargo Regresso, de 1978. Foi ativista política antiguerra nos anos 1970, o que lhe rendeu alguma dor de cabeça. Teve três casamentos com figuras radicalmente opostas, o diretor francês Roger Vadim (1928-2000), que a dirigiu no muito sexual Barbarella, de 1968; com o político ativista Tom Hayden, 75, e com o magnata da mídia Ted Turner, 76. E é um nome reluzente em uma família que fez história em Hollywood, começando com o patriarca Henry Fonda (1905-1982).
Agora, é mais uma veterana vendo com bons olhos a TV, na nova série da Netflix, Grace and Frankie. Fonda faz Grace, uma mulher fina e conformada que é abandonada por seu marido, Robert (Martin Sheen, 74) depois de décadas. O motivo? Ele mantém há mais de 20 anos um relacionamento com seu sócio, Sol (Sam Waterston, 74), igualmente casado com a esotérica Frankie (Lily Tomlin, 75). Grace e Frankie não se dão, mas acabam juntando forças para atravessar o período difícil, e isso é um prato cheio para o público feminino – e até o masculino!
A série mostra um pouco que a vida não acaba depois de uma separação. Como reagiria se acontecesse com você?
Na verdade, aconteceu. Eu chorei tanto, estava aqui por perto de onde estamos conversando para essa entrevista e não conseguia nem dirigir. Tive de parar o carro. Se saísse de casa e o céu estivesse azul, eu me sentia traída. Todos os clichês. Coração pesado? Meu coração parecia pesar 10 quilos. Eu sentia o sangue subindo para minha pele, não podia comer, não podia falar mais do que com sussurros. Foi horrível. É muito difícil. Achei que minha vida tinha acabado, que não havia futuro.
O que Jane Fonda diria para uma leitora que atravessa um divórcio?
Você fica com muita raiva e, do ponto de vista da mulher, quer matar o sujeito e escrever cartas raivosas. Mas é preciso pensar que haverá um tempo em que possivelmente vocês serão amigos novamente. Tive três maridos, um deles está morto agora, mas éramos amigos antes de ele morrer e sou amiga dos outros dois. E, na época da separação, queria assassiná-los. O perdão é importante, especialmente se você tem filhos. Não deixe seus filhos entrarem nesse campo de batalha e sempre reserve espaço para o perdão. Não mande as cartas, mas as escreva, porque você precisa extravasar.
As coisas mudaram para as mulheres no cinema e na TV?
Ainda estamos muito atrasados em relação às mulheres no cinema, na frente e atrás das câmeras. A maioria dos bons papéis é para homens. A maior parte dos estúdios faz esses filmes gigantes que são direcionados para os homens. As produções independentes lentamente abrem-se para vozes mais femininas, o que é ótimo, mas são muito difíceis de financiar e serem distribuídos. Então a televisão é o lugar onde as mulheres, especialmente de uma certa idade, podem encontrar um lar.
Acha que ter mais mulheres em posições de poder, seja nos estúdios, nas companhias ou mesmo nos países, vai mudar as coisas?
Quanto mais mulheres houver em posições de poder, melhor. Fazemos as coisas de maneira diferente. Incentivamos mais a colaboração. Somos mais democráticas. Somos menos afeitas a hierarquias. Todo o mundo se beneficia de mais mulheres em posições de liderança. E quanto mais mulheres nos estúdios, mais filmes sobre mulheres!
Você está interpretando papéis de mulheres mais velhas e sua aparência está fantástica. Qual o segredo?
Bons genes e muito dinheiro (risos). Mas durmo de oito a nove horas por noite, não funciono se não dormir isso. E não beba muito, especialmente quando você é mais velha (risos).
Em uma das cenas, você percebe ter se tornado praticamente invisível no supermercado. Imagino que nunca tenha tido problema para ser notada…
Nunca me incomodou não ser notada. Aliás, eu amo não ser notada! Acho bem libertador ser velha, por exemplo. Eu realmente acho isso.
Como assim?
Você não está nem aí. Quem se importa? Você não sai para conquistar um cara, os filhos já têm a própria vida, pode ser corajosa, audaz e o que você quiser. Com sorte, vai ter coragem o suficiente para isso. Essa é uma das razões pelas quais eu gosto da série, porque, se tivermos outras temporadas, vamos poder mostrar mais e mais como as mulheres se tornam mais corajosas e ultrajantes quanto mais velhas ficam. E existe uma vida inteira depois daquilo que você acredita ser sua morte.
Em um dos episódios, Grace diz: “Odeio minha vida”. Em algum momento se sentiu assim?
Quando você precisa acordar às 5h da manhã. E é velha (risos)… Não, na verdade, eu sou feliz há 27 anos. Não disse em nenhum momento ‘odeio minha vida’ em 27 anos.
O que aconteceu 27 anos atrás?
Conheci Ted Turner. Mas, antes disso, não sei. Olhe, alguém como eu odiar minha vida seria loucura. Tenho uma vida abençoada, complicada, completa e interessante, admito.
Como era o humor do set de Grace and Frankie, com Lily?
Ficamos famosas por nos transformarmos em histéricas ali pelas duas da manhã (risos), depois de trabalhar 15 horas em um episódio. Cada vez que uma olhava para a outra, caíamos na risada (risos)!
Como seria um dia perfeito para você, hoje em dia?
Eu estaria a 4 mil metros de altitude, provavelmente no Peru, sentada no topo de uma montanha, sozinha. Sem cupcakes (risos)!
*Com reportagem de Mariane Morisawa