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Livro “Na Sala dos Espelhos” analisa a sociedade da autoimagem

Com humor e muito embasamento teórico, a quadrinista Liv Strömquist nos convida a refletir sobre as atitudes sociais contemporâneas

Por Paula Jacob
26 abr 2023, 09h37

Não é muito difícil ter uma crise existencial em 2023. Basta olhar em retrospecto, digamos, os últimos dez anos e tudo o que aconteceu entre avanços tecnológicos e uma pandemia mundial que não foi processada por ninguém até hoje. Estamos apenas vivendo, embalados na ânsia de resolver as coisas e querer tudo “do nosso jeito, no nosso tempo”, inclusive o make da vez, o corpo da vez, a vida da vez (caso não se lembre, entre as trends do TikTok, vimos vários tipos de lifestyle sendo compartilhados como se fosse algo comprável ou meramente mimetizado, assim, num piscar de olhos). Dentro de tudo isso? Bom, um ideal de beleza (no seu sentido mais amplo) sendo comercializado entre algoritmos e marcas para nos fazer cada vez menos autônomos de nossas escolhas e desejos.

A quadrinista Liv Strömquist, então, se questionou: “Por que as fotos que vemos rolar no feed das nossas redes sociais podem nos levar a sentimentos de ansiedade, raiva, tristeza e frustração?” É a partir dela que desenvolveu o argumento e raciocínio do seu terceiro livro Na Sala dos Espelhos: autoimagem em transe ou beleza e autenticidade como mercadoria na era dos likes & outras encenações do eu (Companhia das Letras, R$ 79,90).

Livro
(Companhia das Letras/Divulgação)

A história em quadrinhos começa com uma tirinha sobre as irmãs Kardashian-Jenner, ressaltando especificamente a mais nova delas. Empresária e dona de uma marca de maquiagem, Kylie já postou na sua conta do Twitter que “não quer incentivar garotas a se parecerem como ela”, mas, apesar disso, ainda o faz (não por culpa própria, mas de todo o cenário). As pessoas (em sua vasta maioria, já que ela tem 387 milhões de seguidores só no Instagram), no fim do dia, querem essa vida, esse corpo, essas roupas, esses rolês etc etc, e acabam desenvolvendo sentimentos ruins em relação as imagens compartilhadas por ela, e não uma forma de encantamento ou admiração genuína.

Para encontrar respostas, Liv recorre ao conceito de desejo mimético, cunhado pelo filósofo francês René Girard. “[Ele] propõe que, uma vez satisfeitas as necessidades básicas, as pessoas sempre desejam o que os outros desejam”, pontua ela, exemplificando com o uso de tendências de moda: alguém usa uma coisa, o outro vê e quer igual, de repente, todos usam a mesma coisa – olá, #thatdressfromzara. E aí vem com a gloriosa frase de Girard, “o homem deseja intensamente, mas não sabe o quê”.

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Por isso, fica tão fácil para o capitalismo colocar um valor ilusório em algo banal, associar isso a algum tipo de status e vender como uma forma de cada um construir a sua autenticidade. “Tomamos emprestado nosso desejo do Outro, em um movimento tão fundamental, tão original, que o confundimos com a vontade de sermos nós mesmos”, de novo René Girard. Já deu para entender que Na Sala dos Espelhos é daqueles livros que você começa dando gargalhadas e termina marcando uma sessão extra de terapia na semana.

Livro
(Companhia das Letras/Divulgação)

Na sequência dele, a sueca de 45 anos emenda conceitos e estudos de grandes nomes, tais quais a historiadora Stephanie Coontz, os sociólogos Zygmunt Bauman, Eva Illouz e Hartmut Rosa, a escritora e ensaísta Susan Sontag (representada no quadrinho acima), os jornalistas Naomi Wolff e Richard Seymour, e os filósofos Byung-Chul Han e Simone Weil, para construir profundas análises da vivência contemporânea. Usando a mesma fórmula das publicações anteriores (ótimas, diga-se), Origem do Mundo e A Rosa Mais Vermelha Desabrocha, Liv Strömquist usa o desenho em quadrinhos para quebrar a estética academicista que tais temas podem ganhar a partir do momento que se propõe tal discussão – na minha visão, até uma forma de ironizar tudo isso.

Ela é capaz de costurar argumentos sobre o nosso vício nas redes sociais e os efeitos disso na vida – consumo compulsivo, cultuação de um eu ideal e competição desenfreada – sem que o livro em si se torne também mais um fardo durante a leitura. Um humor com tamanho refinamento merece sua atenção! companhiadasletras.com.br

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