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Lado B por Vanessa Rozan

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Maquiadora, consultora e pesquisadora de beleza, fundadora do Liceu de Maquiagem.

A problemática por trás das trends do TikTok

Vivemos em uma sociedade na qual a juventude está obcecada com corpo, idade e aparência

Por Vanessa Rozan
17 jan 2023, 11h50
A problemática por trás da trend do TikTok
 (Getty Images/Getty Images)
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Eu passei 22 anos de carreira com a mesma pergunta toda nova temporada: “E quais vão ser as tendências de maquiagem?”. Para mim, sempre foi aquele lugar do qual a sociedade não poderia fugir. Um mundo pautado por duas ou três cores e formatos, deixando de lado (ou até mesmo ridicularizando) outros padrões — que, muitas vezes, eram a bola da vez meses antes. Ao estudar a história, vemos que, por exemplo, o novo look da Dior foi a grande tendência dos anos 1950 após uma editora ver a forma dos vestidos acinturados pela primeira vez e cravar: “this is a new look”!

A partir dos anos 1960, as coisas ficaram cada vez mais substituíveis. Não sou estudiosa do mercado de comportamento, então não posso dizer exatamente como funciona “a tendência”. O que posso dizer, enquanto consumidora, é que, agora, tem um raio de termo que vive nos rondando, é a tal de trend do TikTok. A nova trend do TikTok está nas unhas glaceadas da Hailey Bieber. Peraí, não é mais.

A nova trend do Tiktok é o blush aura, só que já virou outra, nem tente acompanhar. A nova-antiga trend do TikTok de ontem era ser “that girl”, um misto de herdeira, muito magra, branca, jovem e blasé, com a cama perfeitamente arrumada e roupa sem vinco. Agora, se preparem, a nova trend do TikTok é ser a Bridget Jones da Geração Z, clonando o estilo garota inglesa dos anos 2000. Atenção para o garota somado ao inglesa (claro) e branca (claro), mas chamada de “normal girl”, já que tem roupas amassadas. Mais uma trend acessível para todas nós, mulheres latinoamericanas, né?

Bom, talvez você e eu não sejamos o público do aplicativo. Quem habita essa rede são, em sua maioria, pessoas de 10 a 19 anos, que têm mais tempo para fazer uma maquiagem com mil passos, só para destruir em 15 segundos, ou gravar uma coreografia e até mesmo descobrir que a nova trend são lábios contornados com lápis de boca mais escuro, como as cholas mexicanas já faziam em 1990. Tudo muito novo (veja, minhas palavras contêm bastante ironia). Muitos que estão por lá até fazem da plataforma uma ferramenta de pesquisa, tal qual a geração anterior usou o YouTube para achar a solução mágica de um conhecimento que não tinham.

Mas o problema é que essa rede social tem também uma baita obsessão com o corpo, muito etarismo e bastante gordofobia. A questão não é a rede em si, mas como as trends viralizam e porque viralizam. Afinal, se ganham milhares de views, é porque têm público.

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Não sei se você acompanhou, mas, tempos atrás, teve uma trend usando a música “Young and Beautiful”, da Lana Del Rey, de fundo para uma montagem de fotos dela de antes e depois. A letra diz: “Você ainda vai me amar quando eu não for mais jovem e bonita?” É como se a gente não pudesse envelhecer, porque isso estaria intimamente ligado a nossa possibilidade de ser amada, bonita, vista e ter algum capital nesta sociedade. Você ainda vai me amar quando eu não for mais jovem e bonita? Que trend é essa e por que os jovens pensam que a vida acaba depois dos 25?

Além de não poder envelhecer, tem ali, no exemplo das imagens do “antes e depois”, que envelhecer está atrelado a engordar. Engordar e envelhecer são as piores condenações que uma mulher pode passar na vida segundo a nova-velha trend. Anotem aí, garotas: mulheres não existem para serem objetos conservados no tempo para a apreciação do outro. Me preocupa que essa juventude do TikTok vai atravessar a vida com esse chip do etarismo bem instalado, assim como eu vivi uma infância e adolescência vendo corpos magros das modelos do heroin chic sendo aclamados pela moda e pela publicidade.

Andamos bastante na discussão da inclusão de corpos reais, mas, nesse momento, me parece que estamos perdendo essas conquistas, em especial entre as mais jovens. É como se o processo natural de envelhecimento, algo que nosso corpo fará sim ou sim, nunca pudesse ser uma trend.

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