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Livro discute racismo, LGBTfobia e gordofobia no balé clássico

Nas Sombras do Holofote – histórias de preconceitos no balé clássico, de Mélanie Layet, traz relatos e fotos de bailarinos que lutam por espaço na dança

Por Maria Clara Serpa (colaboradora)
Atualizado em 22 abr 2024, 11h47 - Publicado em 2 ago 2020, 14h00
 (Divulgação/Divulgação)
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Como uma boa parte das meninas de classe média de São Paulo, Mélanie Layet começou a frequentar aulas de balé clássico bem pequena, na época da escola. Porém, diferente da maioria, não deixou a prática de lado depois que cresceu e, mesmo na faculdade de jornalismo, continuou se interessando sobre o tema. “Além disso, sempre tive questões sociais, como machismo, racismo e homofobia, como temas de interesse e, nessa época de fim de faculdade, depois de muito estudo, comecei a refletir sobre as pessoas que faziam balé comigo. Todas eram muito parecidas – brancas e dentro dos padrões estéticos impostos pela sociedade -, não havia uma diversidade étnico-racial. Assim surgiu minha vontade de me aprofundar nos preconceitos na dança e, como jornalista, fui atrás de histórias que retratassem todas as dificuldades enfrentadas no balé clássico”, conta Mélanie em entrevista a CLAUDIA.

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Mélanie Layet, autora de Nas Sombras do Holofote – histórias de preconceitos no balé clássico (Arquivo Pessoal/Reprodução)

Depois de muitas pesquisas e entrevistas, a jornalista escreveu seu primeiro livro, Nas Sombras do Holofote – histórias de preconceitos no balé clássico, que reúne relatos e fotos de bailarinas e bailarinos que, seja por seu corpo, orientação sexual ou cor de pele, sofreram para conseguir encontrar espaço no balé, seja profissionalmente ou como hobby. O projeto surgiu, inicialmente, como o Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) de Mélanie, mas, posteriormente, foi publicado pela Editora Letramento.

Na obra, a autora discute como o balé clássico, que nasceu na Europa, ainda tem suas raízes presentes hoje. Por isso, o debate permeia não somente bailarinos e bailarinas que não se encaixaram nesses moldes de padrão estético, mas também suas lutas para quebrar essas barreiras, a fim de perseguir seus sonhos. “Quando o balé clássico surgiu na Itália, no século XVI, ele era praticado exclusivamente pela elite e por homens. Apenas muitos anos depois, as mulheres foram cavando e ganhando destaque. O objetivo dessa obra é entender como essas raízes de exclusões ainda estão presentes e se perpetuam ainda hoje. Além disso, convido todos os leitores a colocar um grande holofote nos bailarinos e bailarinas que, apesar de sofrerem preconceitos de gênero, raça e gordofobia, ainda são pouco vistos nas salas de aula e em espetáculos de balé clássico”, diz Mélanie.

O livro traz à tona discussões extremamente importantes e que passam despercebidas por grande parte da sociedade. Além da dificuldade em se encaixar, bailarinas e bailarinos que fogem do padrão considerado ideal para a dança clássica têm dificuldades para encontrar roupas e acessórios necessários para a prática. “Existem algumas marcas que já estão se atentando mais nisso, mas a grande maioria não produz collants em tamanhos maiores e só tem uma cor de meia calça, que serve apenas para peles claras. É preciso abraçar essa diversidade hoje em dia e entender que não existe só um tom de “cor de pele” ou “nude”, explica a autora.

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Luana Nazareth, 28 anos, uma das personagens do livro (Mélanie Layet/Divulgação)
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Os onze depoimentos coletados por Mélanie são escritos em primeira pessoa e reúnem histórias de pessoas entre 15 e 64 anos. A autora coloca-se apenas como um mecanismo para fazer com que as vozes dessas pessoas ecoem. Além dos relatos, Mélanie consegue ainda iniciar debates sobre representatividade e diversidade também no público-alvo do balé clássico no Brasil. É um público igual a quem está em cima do palco – majoritariamente branco, de elite e dentro dos padrões estéticos. Será que se as companhias passassem a incluir mais bailarinas negras ou gordas mais pessoas não teriam vontade de ir assistir aos espetáculos por se sentirem representadas?

Entre as histórias, Mélanie destaca a de Kadu Reis, bailarino negro e homossexual que diz ter encontrado no balé clássico, um espaço tão excludente, um lugar onde poderia ser ele mesmo. Na época das entrevistas, ele tinha apenas 18 anos. Sua família não gostava que ele dançasse devido ao estereótipo de que todo bailarino homem é gay. Atualmente, Kadu dança outras vertentes do balé além do clássico e se sente completamente realizado. “Ele enfrentou inúmeras barreiras em casa e também na indústria da dança por ser negro e homossexual, mas ainda assim encontrou no balé uma maneira de se aceitar, melhorar a sua autoestima e poder ser quem é. É uma história que me marcou porque foge do que a gente espera. Geralmente, o balé, por ser excludente, não é visto como uma saída para grande parte dos dançarinos”, diz a autora.

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Kadu Reis (Mélanie Layet/Divulgação)

Fotografia

A fotografia tem um papel tão importante quanto os relatos escritos em Nas Sombras do Holofote – histórias de preconceitos no balé clássico. Por falar de uma arte, a autora sentiu a necessidade de ter alguma representação imagética para que as pessoas se conectem ainda mais com as histórias e para tirar as personagens das “sombras”.

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Para deixar os participantes mais confortáveis, Mélanie que, além de escrever também fez todas as fotos, optou por fotografar fora das salas de aula de balé e levá-los a pontos turísticos da cidade de São Paulo. “Tomei essa decisão porque grande parte das exclusões, dos preconceitos, assédios e abusos ocorrem dentro das salas. Queria mostrar quem elas são além dos palcos e, em locais importantes da cidade, já que foi aqui que elas foram excluídas, mas também acolhidas pela cidade. São Paulo é o palco”, explica.

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Lucas Oliva, bailarino, no Minhocão (Mélanie Layet/Divulgação)

Futuro

Segundo Mélanie, os debates sobre questões de gênero, raça e padrões de corpo caminham a passos lentos no universo do balé clássico, apesar de já observarmos algumas mudanças – companhias importantes passam a dar mais espaço para bailarinos “fora dos padrões”, por exemplo. Mas isso ainda é muito pouco. No início de sua apuração, a autora foi ao Theatro Municipal de São Paulo e não encontrou um bailarino sequer que se encaixasse no perfil que buscava. Isso é apenas um reflexo de como a dança ainda é um ambiente extremamente excludente.

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>> Giovana dos Santos começou no balé clássico já vivenciando gordofobia por não se encaixar no padrão europeu de bailarina. Pela falta de diversidade de corpos, ela experienciou muitas pessoas que desistiram da dança. Ela nunca foi de se cobrar com o seu corpo, porém foi ofuscada dos espetáculos. Giovana atravessou muitas idas e vindas no balé clássico, mas não foi o corpo que a impediu de continuar (por um tempo) << #NasSombrasDoHolofote ➡️ Quer saber mais sobre a história? Compre o livro “Nas Sombras do Holofote – histórias de preconceitos no balé clássico” em bit.ly/nassombrasdoholofote Corre, porque a pré-venda está disponível até 22/08❗️

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Ainda assim, Mélanie é positiva quanto ao futuro e acredita que, seguindo os passos de outros países, que já conseguiram avançar muito na questão da diversidade na dança, a indústria da dança brasileira conseguirá se tornar um local mais acolhedor para todos. “Só dessas pessoas não terem desistido do sonho delas, já é um avanço. A participação de pessoas negras, por exemplo, ainda é muito pequena, geralmente só lembramos da Ingrid Silva, mas é maior que alguns anos atrás. É inspirador ver que, apesar de todas as adversidades, essas pessoas encontraram na dança uma maneira de se libertar de todas as amarras da sociedade, e tiveram coragem de compartilhar suas histórias”.

A pré-venda de Nas Sombras do Holofote – histórias de preconceitos no balé clássico está disponível aqui. No Instagram @nassombrasdoholofote, Mélanie Layet divide trechos de alguns relatos e fotos presentes no livro.

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