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Stéphanie Habrich é CEO da editora Magia de Ler, apaixonada pelo mundo da educação e do jornalismo infantojuvenil. Fundadora do Joca, o maior jornal para adolescentes e crianças do Brasil e do TINO Econômico, o único periódico sobre economia e finanças voltado ao público jovem, ela aborda na coluna temas conectados ao empreendedorismo, reflexões sobre inteligência emocional, e assuntos que interligam o contato com as notícias desde a infância e a educação, sempre pensando em como podemos ajudar nossos filhos a serem cidadãos com pensamento crítico.
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Precisamos exercer mais a vulnerabilidade

Se não aprendermos a mostrar a nossa vulnerabilidade, não entraremos em contato com os nossos sentimentos

Por Stéphanie Habrich
Atualizado em 15 mar 2021, 09h33 - Publicado em 5 Maio 2020, 12h30

A quarentena não está sendo fácil para ninguém. Recentemente, organizei para o meu time do jornal Joca um encontro com dois coaches que nos ajudaram a lidar com as dúvidas e angústias que estamos enfrentando durante o isolamento social.

Algumas pessoas disseram estar frustradas por não renderem tanto em casa quanto no escritório; outras contaram que não estão conseguindo dormir direito; algumas falaram ter a impressão de que não descansam nos fins de semana; e houve as que compartilharam o fato de andarem sempre estressadas e brigarem com frequência com as pessoas próximas.

Da minha parte, eu também estou tendo que lidar com os sintomas do isolamento. Às vezes, parece que todos os dias são iguais, como se estivéssemos naquele filme “O Feitiço do Tempo”, no qual o protagonista é obrigado a repetir o dia 2 de fevereiro várias vezes.

Em meio a esse cotidiano repetitivo e conturbado, o meu rendimento com certeza também diminuiu. Há dias em que tenho dificuldade de me concentrar e dar conta das várias atividades que preciso realizar. Demorei, por exemplo, para engatar no texto desta quinzena. Tive que levantar da mesa, fazer outra coisa, parar e, só então, retomar a escrita.

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Além disso, tenho diversas preocupações, por exemplo: “Como vou fazer com que meu time continue motivado, mesmo durante a pandemia?”; “Como posso cortar custos para que a empresa não tenha problemas financeiros?”; “Como posso, durante o isolamento, ajudar meus filhos da melhor maneira?”. Todas essas dúvidas geram muita angústia e ansiedade.

Na verdade, creio que angústia e ansiedade é o que, nós, adultos estamos sentindo de uma maneira geral. Tivemos uma ruptura brusca no nosso dia a dia, algo que se impôs como uma barreira aos nossos sonhos e planejamentos. O que era a nossa vida foi, de alguma maneira, tolhido, paralisado. Ao mesmo tempo, temos que lidar diariamente com um vírus que nos obriga a tomar uma série de cuidados e que está ameaçando a saúde de toda a população mundial.

Mas, como já disse em outros textos da coluna, acredito que podemos aproveitar esse momento repleto de desafios para extrair coisas boas e passar exemplos significativos para os nossos filhos. Por isso, hoje quero falar sobre como esses sentimentos mais recentes podem servir de ponto de partida para ensinarmos às crianças e adolescentes sobre a importância de mostrarmos a nossa vulnerabilidade.

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Brené Brown, professora e pesquisadora da Universidade de Houston, nos Estados Unidos, estuda há duas décadas conceitos como coragem, vulnerabilidade, vergonha e empatia. Ao longo dos anos, ela focou em descontruir o significado amplamente disseminado de vulnerabilidade. Brown defende que vulnerabilidade é sinônimo de coragem e não de fraqueza, e que as pessoas verdadeiramente corajosas são aquelas que não têm medo de se mostrarem vulneráveis.

E é um pouco desses ensinamentos que eu também tento passar para os meus filhos. Faço isso por meio do exemplo, conversando com eles. Falo sobre os problemas que estou enfrentando, tento identificar o que estou sentindo e pergunto o que eles fariam no meu lugar, sem pressão para que tragam uma resposta.

Tenho três meninos adolescentes e acho muito importante que eles saibam dar nome aos próprios sentimentos e sejam capazes de falar sobre o que estão sentindo. Homens, geralmente, não são incentivados a falar sobre tais coisas, por isso o trabalho de fazer com que se abram, muitas vezes, é difícil e frustrante. Às vezes, sinto que estou falando sozinha – e não que estou em uma conversa com eles. Mas acredito que, de alguma forma, estou plantando uma semente e que a mensagem por trás das minhas falas está sendo assimilada por eles. Eu passei muitos anos da minha vida tentando me entender e dar nome a tudo o que sentia. Como não conseguia me entender, muitas vezes, fazia escolhas erradas e seguia um padrão que me veio de berço. Por isso, sempre falo para os meus filhos sobre a importância de saber reconhecer os próprios sentimentos e de recorrer a práticas que ajudam a identificá-los, como atendimento psicológico. Acredito que fazer terapia é tão importante quanto ter aulas de matemática.

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As vantagens de mostrar a vulnerabilidade

Acredito que, se não aprendermos a mostrar a nossa vulnerabilidade, não entraremos em contato com os nossos sentimentos e teremos mais dificuldade para identificá-los e aceitá-los. Ao mesmo tempo, o esforço que fazemos para negar a vulnerabilidade nos custa caro: muitas pessoas sentem-se sufocadas com tantas emoções mal compreendidas e acabam tendo crises de ansiedade, síndrome do pânico e depressão.

Ao contrário, como diria Brown, quando nos permitimos ser vulneráveis, nos damos a chance de viver com mais profundidade, ter acesso a sentimentos novos, nos abrir e até alcançar os nossos objetivos – para a pesquisadora, é impossível atingirmos as nossas metas se não aceitarmos quem somos, com todos os nossos defeitos, inseguranças e dúvidas.

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Infelizmente, muitos ainda acreditam que, para criar filhos fortes e preparados para encarar os desafios da vida, é preciso estimulá-los a focar no racional e esconder o lado emocional, comumente associado à ideia de fragilidade. A sociedade dita que o homem que expõe seus sentimentos não conseguirá ser bem-sucedido, sustentar uma família, entre outras “funções” que, durante séculos, foram responsabilidade do sexo masculino. Não à toa, até hoje, muitos têm medo de serem julgados se chorarem na frente dos outros.

Ao mesmo tempo, na sociedade patriarcal, as mulheres são as únicas que têm “permissão” para demostrar seus sentimentos e, com isso, acabam sendo rotuladas como frágeis ou instáveis. Por isso, mulheres que ocupam cargos de liderança no mundo corporativo sentem que estão sendo testadas o tempo todo. Elas foram condicionadas a acreditar que são mais frágeis do que os homens e, portanto, se sentem menos preparadas para ocupar posições de prestígio.

Por falar em mundo corporativo, os meus filhos se interessam muito pelo universo dos negócios. E o que tento explicar a eles é que temos muito mais chances de ter bons resultados no mundo corporativo quando entramos em contato com os nossos sentimentos. Afinal, se não entendermos o que sentimos, como poderemos ter um bom relacionamento com outra pessoa? Se não entendermos as nossas limitações, como poderemos aceitar as limitações dos outros? Quando começamos a olhar para nós mesmos, passamos a ter mais facilidade para compreender como o outro funciona. Assim, vamos, aos poucos, entendendo como funciona a complexidade humana – um preceito importantíssimo para criar um produto ou uma estratégia de sucesso.

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Por tudo isso, acredito que devemos aproveitar esse momento em que estamos todos vulneráveis para expor os nossos sentimentos mais profundos sem medo. O ser humano é vulnerável. A própria ameaça da covid-19 no mundo todo prova a nossa grande vulnerabilidade. Está tudo bem não estar sempre 100%. E nossos filhos precisam assimilar essa mensagem. Que exemplo melhor eles poderiam ter do que o das experiências dos próprios pais?

Em tempos de isolamento, não se cobre tanto a ser produtiva:

 

 

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