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Juliana Borges Materia seguir SEGUIR Seguindo Materia SEGUINDO

Juliana Borges é escritora, pisciana, antipunitivista, fã de Beyoncé, Miles Davis, Nina Simone e Rolling Stones. Quer ser antropóloga um dia. É autora do livro “Encarceramento em massa”, da Coleção Feminismos Plurais.
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A louca da cozinha

Enquanto cozinho, minha cabeça se esvazia dos problemas, eu fico focada

Por Da Redação
Atualizado em 26 abr 2020, 09h31 - Publicado em 26 abr 2020, 09h28

Desde que a quarentena começou, eu não paro de cozinhar. Como se uma parte do meu corpo tivesse fosse área de emergência, só acionada em caso de pandemia. Sinto como se durante parte importante de minha vida, eu estivesse me preparando para esse momento. As diversas receitas que não davam lá muito certo, as outras mais que só ficavam na ideia, anotadas em um caderninho de receitas que eu construo com orgulho há dois anos, encontraram seu momento. Hora de testar tudo, todas as possibilidades. Exceto as que levam carne.

Pouco mais de 1 mês antes da quarentena começar, eu decidi pelo vegetarianismo. A decisão foi baseada pela reflexão que fiz de que comer é um ato político. Como comemos, o que comemos, a proveniência do que comemos, como é produzido o que comemos, pensar sobre tudo isso é muito importante para romper com esse processo de intensa alienação que temos sobre como determinados alimentos chegam às nossas mesas. E essa escolha acabou ampliando ainda mais a minha gama de pratos para experimentar cozinhar.

Para alegria de minhas irmãs, eu não consigo parar de ter ideias para cozinhar. Tortas salgadas variadas; bolos veganos de maçã, banana, limão e chocolate; “frango” frito vegano, uma das maneiras mais maravilhosas que encontrei para comer couve-flor; guacamole, em que as torradinhas para acompanhar são também caseiras; almôndegas veganas; “bife” vegano a parmegiana, ou a berinjela à parmegiana; lasanha de berinjela; cogumelos assados, refogados; e a lista não para. A compra para enfrentar uns dois meses de pandemia, só durou o mês.

E essa sanha não tem hora. Já decidi fazer um bolo de chocolate às onze da noite. E a família esperou para comer, claro. E essa vontade de cozinhar é diariamente alimentada por canais culinários. A gente vai de Rita Lobo, sou fã há anos; passa por Mohamad Hindi; vai para Luisa Motta e Larica vegana. Descansa, toma uma taça de vinho e retoma a programação: Presunto vegetariano; Tá querida; Tá na mesa vegg; Canal da Bela Gil; Irina Cordeiro; Nhac GNT. E muitos outros. Se antes da quarentena, eu deveria seguir uns 5 youtubers culinários, hoje, já devo ter passado de 20. And counting.

Pode ser ansiedade ou pode ser também apenas um aproveitamento do tempo da quarentena para curtir uma das coisas que eu já amava muito fazer, mas o tempo, maldito tempo, não permitia muito. Cozinhar é meio terapêutico. Enquanto cozinho, minha cabeça se esvazia dos problemas, eu fico focada. Todas as vezes que tentei cozinhar sem esse desprendimento, deu errado. A coisa é estar afim, entregue 100% para a cozinha, para a comida, para ter ideias com cada verdura, legume, fruta disponível.

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Nada que amplie a nossa ansiedade deve ser incentivado, “alimentado”, nessa quarentena. Eu me desligo do mundo quando escrevo e quando cozinho. E minha família que aguente ou se divirta com as variadas comidinhas que vão saindo da cozinha. Acho que é uma boa coisa para você exercitar nesse período. Já pensou em pratos que você tem frustração por não fazer bem? Que seja aquele feijãozinho de avó, o arroz branquinho e sem queimar o alho, não importa. Acho que a cozinha e pensar nos nossos alimentos, não ficarmos presos às fórmulas prontas e comidas super industrializadas é uma boa coisa para se fazer na quarentena. É um daqueles exercícios bons para quando tudo isso passar. Porque eu duvido que você queira voltar a ser como era. Vai do arrozinho que deu certo até um pão com fermentação natural, pensando cada processinho que isso envolve e o quanto pode ser prazeroso. A gente se desalienar do que come é um ganho maravilhoso para as nossas vidas. E o planeta agradecerá. 

Acompanhe o “Diário De Uma Quarentener”:

01/04 – A rotina do isolamento de Juliana Borges no “Diário De Uma Quarentener”

02/04 – O manual de sobrevivência de uma quarentener

03/04 – Permita-se viver “o nada” na quarentena sem culpa

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06/04 – O que a gente come tem algo a ver com as pandemias?

07/04 – As periferias e as mobilizações na pandemia

08/04 – Um exemplo de despreparo em uma pandemia

09/04 – Como perder a noção do tempo sem esquecer a gravidade dos tempos

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10/04 – Não é hora de afrouxarmos o distanciamento. Se você pode, fique em casa!

11/04 – 3 filmes para refletir sobre a pandemia da Covid-19

12/04 – Nesta Páscoa, carrego muitas saudades. Hoje, minha mãe completaria 54 anos

13/04 – Obrigada, Moraes Moreira!

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14/04- E aí, quais são as lives da semana?

15/04 – Como praticar autocuidado radical?

16/04 – #TBT da saudade do mar 

17/04 – Precisamos falar sobre a pandemia e violência contra as mulheres

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18/04 – Mulheres na política fazem a diferença também no combate à pandemia

19/04 – Quem cuida de quem cuida?

20/04 – Tempos difíceis

21/04 – Viva Hilda Hilst!

22/04 – Dia da Terra e o futuro da humanidade

23/04 – Dia do Livro e a menina que amava livros

24/04 – O País está de  ponta-cabeça

 

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