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Juliana Borges é escritora, pisciana, antipunitivista, fã de Beyoncé, Miles Davis, Nina Simone e Rolling Stones. Quer ser antropóloga um dia. É autora do livro “Encarceramento em massa”, da Coleção Feminismos Plurais.
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E aí, quais são as lives da semana?

O que será desse instrumento quando a quarentena passar? Vamos sentir falta?

Por Juliana Borges
Atualizado em 14 abr 2020, 19h48 - Publicado em 14 abr 2020, 19h30

São Paulo, 14 de abril de 2020.

Quais as lives de hoje? Essa é uma pergunta já usual nos papos de Whatsapp. Desde o início da quarentena que nós, seres humanos, estamos reinventando a maneira de viver várias experiências. O isolamento pode ter nos separado, mas, ao que parece, ferramentas como as redes sociais estão sendo exploradas dos modos mais criativos possíveis para nos aproximar.

Uma constatação já clichê, mas importante: o novo coronavírus tem das mais incríveis contradições por nos separar no momento em que mais precisamos recriar pontes de coletividade para passar por isso. Ficar em casa não é apenas preocupar-se consigo mesmo. Mas, fundamentalmente, garantir que os casos sejam graduais e, portanto, que todo o sistema de saúde tenha condições de atender a demanda de infectados, tratar a todos e saiamos mais fortes disso tudo. É a dicotomia indivíduo e sociedade em exemplo prático, direto nas nossas vidas. Você se preserva, cuida dos seus, mas também contribui para a coletividade. De um ato que poderia ser visto como egoísta, o isolamento, podemos extrair justamente o que nos faz comunidade e seres sociais.

Já se vão 30 dias de distanciamento social e a gente já vai ajustando a rotina diária. Por incrível que possa parecer e,  apesar de ter assistido várias lives sobre isso, lancei mão de um calendário organizacional, o tal “planner”, apenas ontem. Eu confesso que julgava quem dizia que home office impunha o desafio da organização. Mas, eu sou pisciana, o que significa que eu sempre subestimo processos organizativos e demoro a internalizá-los. Não que a organização não seja importante. Mas me parece estranho, até desumano, não garantir que tenhamos tempo para simplesmente vislumbrar um bem-te-vi cantando pela manhã, se espantar com a beleza do azul do céu, poder se perder sem tempo previsto para terminar em algumas crônicas do Rubem Braga. Por que não? E como manter a organização com tantas lives para acompanhar?

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Nestes tempos, certamente, assisti mais shows do que já pude ir em um ano inteiro. A curtida nas páginas e perfis dos meus ídolos musicais, intelectuais, das minhas marcas de cosméticos favoritas ficou mais interessante. Não se trata mais de apenas ver uma foto documental de algum momento do dia destas pessoas, nem a simples divulgação de um show, palestra ou novo produto. Agora, é possível ver shows diários, diálogos e palestras ao vivo e interacionais, ter tutoriais de maquiagens e dos benefícios de produtos de skincare na mão. Ou melhor, na tela do computador ou do celular. Mas o mais interessante disso tudo, para mim, é a possibilidade de interação. A pessoa que você admira está logo ali, lendo comentários em tempo real e interagindo com elas. Há músicos que eu adoro e sequer vejo-os fazendo shows intimistas todo tempo. Aliás, a maioria das lives de um dos músicos que eu mais gosto, até agora, foram de papos sobre tudo o possível com os seguidores. Desse “boom” das lives, algumas me preocupam. Como as megaproduções que estão se alastrando. Se a orientação é pelo isolamento, como que a pessoa convoca toda a sua produção para fazer uma live que mais parece uma imensa festa? E a saúde dos outros músicos, dos produtores e toda a equipe envolvida naquele entretenimento?

O que me parece mais interessante neste universo de lives é justamente o potencial de aproximar pela intimidade que oferece. Você vê a pessoa não tão produzida, no conforto de seu lar, despojada e sem muitos compromissos, cantando em pura voz, com o acompanhamento digital ou o bom e velho violão, fazendo pausas inesperadas, reclamando da imensidão de corações que deixam a conexão mais lenta e podem colocar em risco a live, ou mesmo rindo de comentários das pessoas. A ideia de live na quarentena, de processo de isolamento que nos aproxima, é justamente esse. Não estou dizendo de fazer da vida das pessoas um livro aberto e hiperexposto. Mas dessa possibilidade de convívio mais aproximando, fazendo a gente entender que somos, simples, humanos. Aquele seu ídolo também enche a cara e diz que ama, aquele outro também não entende aulas começando às 7h, aquela outra é tão notívaga quanto você e também usa moletom.

Já me interessa saber o que será desse instrumento quando a quarentena passar. Vamos sentir falta? Vamos continuar lançando mão desse mecanismo? Como vamos integrá-lo em nosso cotidiano? Como vamos aperfeiçoá-lo? E aí, quais serão as lives da semana? Eu vou de Colbie Caillat, Wesley Safadão, One World Together at Home e, claro, Raça Negra e Belo. E você?

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Acompanhe o “Diário De Uma Quarentener”:

01/04 – A rotina do isolamento de Juliana Borges no “Diário De Uma Quarentener”

02/04 – O manual de sobrevivência de uma quarentener

03/04 – Permita-se viver “o nada” na quarentena sem culpa

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06/04 – O que a gente come tem algo a ver com as pandemias?

07/04 – As periferias e as mobilizações na pandemia

08/04 – Um exemplo de despreparo em uma pandemia

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09/04 – Como perder a noção do tempo sem esquecer a gravidade dos tempos

10/04 – Não é hora de afrouxarmos o distanciamento. Se você pode, fique em casa!

11/04 – 3 filmes para refletir sobre a pandemia da Covid-19

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12/04 – Nesta Páscoa, carrego muitas saudades. Hoje, minha mãe completaria 54 anos

13/04 – Obrigada, Moraes Moreira!

Em tempos de isolamento, não se cobre tanto a ser produtiva:

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