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Juliana Borges é escritora, pisciana, antipunitivista, fã de Beyoncé, Miles Davis, Nina Simone e Rolling Stones. Quer ser antropóloga um dia. É autora do livro “Encarceramento em massa”, da Coleção Feminismos Plurais.
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Como praticar autocuidado radical?

Ao optarmos pelo autocuidado radical, compreendemos que precisamos nos enxergar para conseguirmos enxergar o outro

Por Juliana Borges
Atualizado em 15 abr 2020, 21h14 - Publicado em 15 abr 2020, 21h14

“Cuidar de mim não é autoindulgência, é autopreservação, e isso é um ato de guerra política”.

Audre Lorde

O que significa praticar o tão famoso autocuidado? A palavra é citada 923 mil vezes em hashtags do Instagram. Se pensarmos na sua versão inglesa, selfcare, a citação sobre para a marca de 26,3 milhões. Mas o que significa essa palavrinha, que até já virou um culto?

Nunca foi tão importante praticar o autocuidado, principalmente em tempos tão difíceis e diante de tantas incertezas que temos sobre o futuro. Mas penso que o que vemos está bem longe do que Audre Lorde pensou ao fazer a afirmação da epígrafe.

O autocuidado, como é amplamente difundido nas redes sociais, parece ser algo apenas para um grande exército de it girls brancas e ricas, parecendo que tudo pode ser resolvido com a compra de uma série de 6 massagens, 2 idas ao spa ou coisas do tipo. Ou seja, temos visto a associação a um padrão, em que se promove mais o que se tem, o que se almeja ter. Uma complacência e indulgência diante das dificuldades, como se o autocuidado estivesse implicado apenas em uma perspectiva individual, em que problemas pudessem ser apagados com atos e atitudes superficiais e mais interessadas em como as pessoas nos veem.

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A escritora e ativista norte-americana Alicia Garza, co-fundadora do movimento Black Lives Matter, faz uma colocação importante do autocuidado radical, no qual são organizados um conjunto integrado de práticas que envolvem se colocar a frente, tirar um momento para perceber o entorno e poder dar um passo atrás diante de um mundo que não nos encoraja a nos manter vivas e a cuidar de nós mesmas. E ela vai mais longe, o autocuidado radical envolve essas práticas para nós mesmos e para os que estão em nosso entorno, como por exemplo iniciar reuniões de trabalho nas quais as pessoas possam falar sobre como estão, sobre bons momentos que experienciaram, sobre as coisas que causam ansiedade, nos percebendo de forma holística.

A prática do autocuidado radical, uma ideia que surge das discussões do ativismo negro, retoma a frase de Audre Lorde por entender a autopreservação como um ato de guerra, de estarmos preparadas para enfrentar longos desafios e jornadas. E não estamos exatamente em um momento como esse?

Ao optarmos pelo autocuidado radical, compreendemos que precisamos nos enxergar para conseguirmos enxergar o outro, como uma prática de amor-próprio, de construção profunda do amor por nós mesmas, de promovermos energia de positividade para que trabalhemos com o todo dos nossos sentimentos e possamos, então, exercer esse bem no coletivo.

O que quero dizer é que o autocuidado radical está mais relacionado a como você quer se sentir e como você vai usar essas respostas e direcioná-las positivamente, sem negar nossa verdadeira face, sem apagar nossos problemas, sem projetarmos estes problemas nos outros. O autocuidado radical se apresenta como práticas de fortalecimento para lidarmos com as inseguranças sobre nós e sobre os outros, para estabelecermos novas relações radicais e de cuidado coletivo.

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Para a filósofa Angela Davis, o autocuidado radical deve ser um processo de interesse a todos os que querem mudar o mundo, ao enfatizarmos o caráter coletivo do que significa o “si mesmo”, em como conectamos desafios, lutas e arte e criação. Apenas ao reconhecermos conexões e coletividade é que poderemos vislumbrar a liberdade. Ou seja, de nada adianta você buscar preservar sua saúde mental, praticar o seu autocuidado se isso interferirá negativamente em quem está ao seu entorno, se a sua preservação significar sobrecarregar e até mesmo anular o outro e a coletividade.

Esqueça esse autocuidado atrelado à hiperprodutividade e ao consumo, porque ele é destrutivo e vai te deixar exausta. Estabeleça uma rotina de amor-próprio, de conhecimento de si mesma, de construção de redes de coletividade seja com quem mora com você, seja online com amigas próximas e que também vão mergulhar no cuidado de uma e de outra. É isso que vai construir serenidade, calma e a possibilidade de prospectar. Declare guerra ao que te suga. Não tenha medo de mergulhar em você mesma para viver o melhor e também trocar o que há de melhor em você com o mundo.

Acompanhe o “Diário De Uma Quarentener”:

01/04 – A rotina do isolamento de Juliana Borges no “Diário De Uma Quarentener”

02/04 – O manual de sobrevivência de uma quarentener

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03/04 – Permita-se viver “o nada” na quarentena sem culpa

06/04 – O que a gente come tem algo a ver com as pandemias?

07/04 – As periferias e as mobilizações na pandemia

08/04 – Um exemplo de despreparo em uma pandemia

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09/04 – Como perder a noção do tempo sem esquecer a gravidade dos tempos

10/04 – Não é hora de afrouxarmos o distanciamento. Se você pode, fique em casa!

11/04 – 3 filmes para refletir sobre a pandemia da Covid-19

12/04 – Nesta Páscoa, carrego muitas saudades. Hoje, minha mãe completaria 54 anos

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13/04 – Obrigada, Moraes Moreira!

14/04- E aí, quais são as lives da semana?

Em tempos de isolamento, não se cobre tanto a ser produtiva:

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