Parabéns, CLAUDIA
Quando a revista nasceu, as brasileiras casadas não podiam abrir conta em banco ou trabalhar fora sem o consentimento do marido
Idadismo é a tradução para o português do termo em inglês ageism, que significa atitude preconceituosa com base na idade de uma pessoa. É, entre outras formas de discriminação, achar que alguém pode ou não fazer algo em função da sua idade. Xuxa já foi uma vítima e precisou pedir publicamente: “Me deixem envelhecer”. Aos 57 anos, ela conta em livro sua transformação rumo à autoaceitação e, acima de tudo, à libertação do medo de decepcionar os outros. Uma vida de sucesso, aclamação e endeusamento, mas também de abusos – tanto de confiança quanto sexuais.
Nessa dor de ter o corpo violado, Xuxa, infelizmente, não é exceção. Ela a divide com milhões de mulheres. Desde que começamos a publicar em claudia.com.br, no fim de junho, depoimentos de vítimas de abusos (o primeiro deles foi o tocante relato da atriz Julia Konrad), vimos em nossas redes muitas mulheres compartilhando histórias pessoais similares de forma empática e corajosa. Decidimos, então, criar a campanha A Palavra de uma Mulher para que as leitoras que quisessem contar seus casos pudessem desabafar. Por mais que soubéssemos que a violência sexual é uma chaga enraizada na nossa sociedade, jamais podíamos imaginar a quantidade de relatos que receberíamos. Em três meses, foram mais de 300, e eles vêm sendo publicados diariamente em nosso site. São mulheres violentadas na infância e na adolescência, a maioria por agressores próximos (parentes, amigos, conhecidos). Em comum, as sequelas, os traumas, a dor guardada uma vida inteira. Não foram poucas as que disseram que era a primeira vez que conseguiam falar sobre o assunto.
Outubro é o mês de aniversário de CLAUDIA. E, nesta edição, vemos que no ano de lançamento da revista, 1961, as brasileiras casadas ainda não podiam abrir conta em banco ou trabalhar fora sem autorização do marido. Inaceitável, não é? Que em um intervalo muito mais breve que os 59 anos que nos separam dessa realidade, hoje absurda, a gente possa olhar para trás e considerar inadmissível o cansaço atroz das mulheres, fruto da desigualdade nas tarefas familiares, tema das reportagens “Ao seu dispor?” e “Grupo das #exaustas”.
Para saber sobre a velocidade dos nossos passos rumo à equidade, leia o delicioso texto da seção “Ponto final”, escrito por Vera, leitora da revista desde a edição número 1. Ela nos emocionou ao relembrar o papel de CLAUDIA nessa caminhada.
Ainda temos muito a percorrer, sim. Mas agora é hora de celebrar. Um viva a CLAUDIA e a todas as nossas conquistas!
Um beijo,
Guta Nascimento
diretora