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Ana Claudia Paixão

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A jornalista Ana Claudia Paixão (@anaclaudia.paixao21) fala de filmes, séries e histórias de Hollywood

Cancelando Mr. Big, o exemplo de um homem tóxico

“Sou a única que lembra como ele foi um horror com ela?” - por que toleramos relacionamentos tóxicos em "Sex and the City"?

Por Ana Claudia Paixão
Atualizado em 21 dez 2021, 08h44 - Publicado em 20 dez 2021, 14h43
And Just Like That
 (HBO MAX/Divulgação)
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Há uma cena em meio às lágrimas do segundo episódio de “And Just Like That” em que uma amiga de Carrie, indignada pelo heroísmo rendido à memória de Mr. Big, pergunta à outra mulher: “Sou a única que lembra como ele foi um horror com ela?”. Uma frase muito importante que fez – e faz – toda diferença.

A relação de Carrie e Big foi tóxica em todos os sentidos. Um homem que não assumia compromissos, que jamais a incluiu em planos imediatos (fosse quando foi para Paris ou quando decidiu ir embora para Califórnia), e que  acompanhamos a escritora tentando arduamente esquecer, quase conseguindo algumas vezes, mas sempre caindo na armadilha da amizade ou sexo casual. Por anos, Mr. Big empatou a vida de Carrie, enquanto a dele seguia muito bem, obrigado. Como torcemos pelo final feliz dos dois?

Porque o elemento Charlotte de todas nós sonhava com Carrie “mudando” o homem errado em certo. Big teve todas as chances do mundo de fazer Carrie feliz, mas precisou que ela fosse embora para a França com outro homem para que – mais uma vez – a impedisse de seguir em frente. Porém aí os dois engataram em um relacionamento aparentemente saudável, tranquilo e que virou casamento.

Ah… o casamento. Vamos lembrar que Mr. Big abandonou Carrie no altar porque teve medo de se comprometer novamente? Tudo porque queria um casamento praticamente escondido? Ela foi humilhada publicamente e ainda assim, um ano depois, o aceitou de volta, nos termos dele. Quando vi o filme, até achei que houve muito pouco espaço para que Carrie entendesse que ser abandonada no altar – com um pássaro na cabeça – depois de ter sido a noiva do ano da Vogue, não possibilitava perdoar com e-mails usando cartas de amor de outras pessoas e falando apenas “me perdoa”. E ela perdoou.

Mas ali, Big foi Big. No segundo longa é que ele apareceu muito descaracterizado, como o maridão tranquilo, que aceitou que Carrie quase o traiu e argumentou que “faltava a aliança certa”   Os dois seguiram “felizes para sempre”. Honestamente, alguém poderia questionar se Carrie era mais apaixonada pelo lifestyle do que o homem que só causava dor.

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Assim chegamos a And Just Like That, no qual o primeiro episódio mostra o casamento idílico que a escritora sonhou, interrompido pelo coração do marido (uma péssima metáfora, mas o coração dele pifou). Em meio às lágrimas (sim, chorei), o segundo episódio foi todo conduzido para nos fazer pensar apenas nos momentos bons (eu mesma fiz uma lista deles!) e, quando chegamos ao terceiro, Carrie volta a ver Mr. Big como ele era: um homem de segredos, de personalidade indomável e que ela jamais compreendeu completamente. Precisava demorar tanto?

And Just Like That
(Jose Perez/Bauer-Griffin/GC Images/Getty Images)

Em tempos de cancelamento, como Mr. Big estava escapando tão facilmente? E como parece karma, ao decidirem trazer vários elementos reais para a trama de “And Just Like That” (a briga entre Sarah Jessica Parker e Kim Cattrall, transportada para Carrie e Samantha, o homossexualidade de Miranda, entre outros) as acusações de estupro e assédio contra Chris Noth vieram alinhadas  com o episódio que pretendia desconstruir a imagem romântica de Big.

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Até o momento, duas mulheres acusam o ator de as ter violentado durante encontros e uma delas quando ele já estava casado com a atual mulher. As vítimas admitem que se aproximaram de Chris Noth com a imagem romantizada de Mr. Big na cabeça, apenas para se descobrirem em meio a um pesadelo violento. O ator, claro, nega o estupro (mas admite as relações sexuais), e novas testemunhas de seu comportamento inadequado estão vindo à público.

A lua de mel com ator e personagem parece ter chegado ao fim, com muitas mulheres agradecendo a sua morte. Aliás, se pensarmos que uma das críticas da estreia foi o detalhe de que Carrie, em vez de chamar por ajuda, apenas olhou o marido morrer na sua frente, parece até castigo!

Chris Noth e Sarah Jessica Parker são amigos na vida real e, pelo que vimos, ainda filmaram mais cenas românticas entre Carrie e Big, mesmo que aludindo à entrada de um novo amor para a personagem. É, and just like that, cancelamos Mr. Big. Já era hora.

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