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Ana Claudia Paixão

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A jornalista Ana Claudia Paixão (@anaclaudia.paixao21) fala de filmes, séries e histórias de Hollywood

Alguém me passa o contato da vidente de Ted Lasso?

Tish foi precisa na previsão do futuro, mas desviou o foco de Rebecca e, de certa forma, das mulheres da série “Ted Lasso”

Por Ana Claudia Paixão
21 abr 2023, 06h00
última temporada ted lasso
Na temporada final, 'Ted Lasso' anda derrapando com as personagens femininas.  (Divulgação/Divulgação)
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Ainda na 2ª temporada de Ted Lasso, a mãe de Rebecca Welton (Hannah Waddingham) citou as previsões certeiras da guru “Tish”, e como eram importantes para ela poder tomar decisões importantes em sua vida. Assim, sem surpresa, a dona do AFC Richmond acabou cedendo e indo para uma consulta secreta com a vidente. Ouviu que vai se apaixonar e se casar novamente, mais ainda, que será mãe. Aos 50, Rebecca reagiu mal à previsão e saiu da sala chorando, considerando as palavras de ‘esperança’, efetivamente, cruéis. Logo mudou de opinião. Me desculpem, eu quero uma consulta com a Tish! Alguém me passa o contato dela, por favor?

Tish deu várias dicas à Rebecca e TODAS se confirmaram até o momento: ela ganhou a caixa de fósforo verde, um ex-namorado foi chamado de “cavaleiro”, ela caiu na água, ficou encharcada, de cabeça pra baixo, mas segura… só não sabemos ainda se ouviu trovões e relâmpagos e se será mãe biológica ou adotiva. Com apenas um dos acertos eu já teria voltado correndo para terminar a consulta que a empresária largou no meio. Quem nunca? E aqui mudo um pouco o tom da minha visão de Ted Lasso, ainda deixando claro que AMO a série, mas que nessa temporada final ela anda derrapando com as personagens femininas.

Por questões de transparência, assumo que faço parte do time “#tedbecca”, aquele que sonha em ver Rebecca se unindo romanticamente à Ted Lasso (Jason Sudeikis) e acuso os roteiristas de trollagem semanal alimentando as esperanças da gente. Dito tudo isso, já tinha elogiado aqui como os roteiristas colocaram duas mulheres aparentemente opostas como amigas, e adorei como vimos uma “Maria Chuteira” se transformar em uma grande mulher de negócios à frente de um time de futebol. Porém, na parte final da história, nada disso tem destaque. Ao contrário, como vimos na consulta com Tish, tanto Rebecca quanto Keeley Jones (Juno Temple) estão mais focadas no assunto do coração, voltando aos velhos e restritivos papéis românticos reservados para as mulheres. Que pena, Ted Lasso!

A começar por Keeley. Entrou na história como uma mulher que é celebridade por aproximação, “famosa por quase ser famosa”, e efetivamente uma mulher que se anulava pelos homens em sua vida. Estava em um relacionamento desequilibrado com Jamie Tartt (Phil Dunster), mas conseguiu superar as amarras que a prendiam nesse papel limitante. Foi uma trajetória deliciosa de acompanhar. Seu relacionamento com Roy Kent (Brett Goldstein) também ajudou Keeley a se reinventar, mas eles esbarraram nas demandas profissionais no caminho da vida pessoal e ela já sinalizava estar vivendo a Síndrome de Impostora.

Essa desordem psicológica que é conhecida como uma linha de pensamentos que reforça a perda de confiança em si mesma, questionando se tem algum merecimento pelo que alcançou, que tem sido estudada e afeta em especial – que surpresa – as mulheres. Mais de 50% das executivas temem que as pessoas de sua equipe e trabalho a considerem ineptas para a posição onde estão. Claro que é resultado direto de uma cultura machista que alimentou a insegurança feminina.

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ted lasso
Tanto Rebecca como Keeley Jones (Juno Temple), estão mais focadas nos assuntos do coração, voltando aos velhos e restritivos papéis românticos reservados para as mulheres. (Divulgação/Divulgação)

Não é vitimismo, é realmente complicado superar. No caso de Keeley, era uma boa história para contar, mas ficou na promessa. Isso porque, como esperado, ela se envolve com Jack Danvers (Jodi Balfour), a investidora de sua empresa. Há uma forte química entre elas, mas o que me incomoda é que Keeley jamais é retratada como uma mulher independente que não mistura trabalho com o coração ou, menos ainda, que se envolva com seu ou sua chefe.

O paradoxo de Keeley é parecido com o de Rebecca. Em vez de seguir mostrando como as mulheres têm expectativas diferentes, como superam o machismo ainda reinante – em especial no universo do futebol – Ted Lasso optou em colocá-las mais preocupadas com seus romances do que carreiras.

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Rebecca é uma mulher de 50 anos, que passou 12 anos em um casamento abusivo, que se vingou do marido ficando com o time de futebol que era a única paixão dele e que embora tenha começado a série como “vilã”, se revelou grande empresária. Tanto que o odioso ex-marido comprou outro time para poder (tentar) ultrapassá-la no campo e fora dele. Rebecca teve romances com jogadores mais jovens, com outros homens e nós ainda gritamos porque é perfeita para Ted, mas a série tem evitado o obvio casal. A visita à Tish, no início da temporada, a desviou dessa trajetória inspiradora. O AFC Richmond está para ser rebaixado, de novo, ela perdeu o principal jogador, só passa por derrotas, mas o que ela faz? A dona do time está mais preocupada com o que a vidente falou sobre ser mãe e se apaixonar.

Keeley e Rebecca são mais do que “namoradas” de plantão. Eu só perdoo o derrape porque acredito em Ted Lasso, ainda mais quando Rebecca (que canta muito!), se despede nos tranquilizando ao som de Three Little Birds, de Bob Marley. Aquela canção que nos assegura que “Every little thing will be all right” ( “tudo vai ficar bem”). Estamos contando com isso!

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