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A busca de dois designers pelo conhecimento da madeira e da marcenaria

Toda segunda-feira, desde 2006, os designers Fernando Mendes de Almeida e Julia Krantz vão à oficina do mestre artesão Morito Ebine aprender sobre a arte da marcenaria

Por Reportagem Maria Helena Pugliesi e Rosana Grimaldi I Fotos Levi Mendes Jr
17 abr 2012, 13h32

Cercada por árvores e montanhas, a oficina/ ateliê de Morito Ebine se confunde com a paisagem bucólica da pequena Santo Antônio do Pinhal, um rasgo urbano na serra da Mantiqueira, próximo à turística cidade de Campos do Jordão, SP.

Conheça o mestre Morino Ebite

 

Num terreno de 5 800 m², a construção de tijolinhos por fora chama pouco a atenção. Por dentro, no entanto, o cenário muda de figura. Logo fica claro que se trata do território de um mestre da madeira: centenas de gabaritos bem talhados se equilibram pelas vigas do telhado, atestando o elenco de uma produção eclética – bancos, cadeiras, mesas, armários, cabideiros, luminárias… Há maquinário elétrico espalhado pelo lugar, mas são as ferramentasmanuais que capturam o olhar. Plainas, serrotes, formões, entre outros equipamentos, têm brilho próprio, geralmente feitos por Morito com as sobras de seus móveis maciços. Aliás, as próprias madeiras são outra atração do local. Apaixonado pela matéria-prima, Morito tem um mostruário de mais de 200 espécies. Acondicionadas como livros numa estante, as amostras revelam preciosidades, entre elas o brasileiro pau-violeta, que lhe tomou mais de dez anos de pesquisa para ser encontrado.

As aulas de Fernando e Júlia

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É nesse templo da madeira que os designers Fernando Mendes de Almeida e Julia Krantz vêm buscar conhecimento, descobrir técnicas milenares de encaixe e aprender a construir e lidar com ferramentas específicas para cada trabalho. “Eu também aprendo muito em nossos encontros semanais. Eles me mostram jeitos novos de modelar a madeira e me inspiram com a delicadeza de suas peças”, diz Morito, japonês nascido num subdistrito de Tóquio, formado em Desenho de Mobiliário e Marcenaria na Universidade de Kanagawa e que há 15 anos mudou-se para o Brasil estimulado pela mulher, brasileira. A amizade dos três se consolidou em 2006, mas foi no ano 2000 que Julia escutou pela primeira vez o nome de Morito Ebine. “Meu amigo e designer Sergio Fahrer me falou sobre a genialidade do trabalho do Morito, de como ele conseguia unir o artesanal em móveis de design absolutamente contemporâneo.

 

Só que ninguém tinha o seu endereço e por anos tentei encontrá-lo sem sucesso. Um dia li uma reportagem sobre suas peças, com um telefone de contato. Liguei e agendei uma visita. Era uma segunda-feira e o que vi me deslumbrou.Morito me recebeu com simpatia, mostrou com minúcias seu ateliê, ferramentas, desenhos, projetos, madeiras. Por mim não ia mais embora, mas ele me disse que podia voltar na semana seguinte. Passei, então, a visitá-lo todas as segundas”, conta Julia.

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Já Fernando conheceu o jovem mestre japonês na Craft Design, evento paulistano em que designers lançam seus produtos para casa. “Estava passeando pelos estandes quando fui fisgado pelas peças do Morito. Elas emanavam um respeito incomum pela madeira. Me identifiquei imediatamente com o seu trabalho e logo nos tornamos íntimos.” Foi Morito quem apresentou Julia a Fernando, e assim a confraria da madeira se formou. “Tínhamos tantas coisas para conversar, testar, compartilhar. Por que não nos reunirmos uma vez por semana na oficina em Santo Antônio do Pinhal? A proposta foi aceita e há quase cinco anos nos vemos às segundas-feiras”, fala a designer paulista. Quem pensa que tantos encontros já foram suficientes para esgotar o assunto se engana. Basta espiar pelas portas envidraçadas da marcenaria para perceber a animação dos três.

 

Eles analisam pedaços de toras, espalham croquis sobre as bancadas, palpitam nos projetos uns dos outros e desenvolvem peças em conjunto: Julia e Morito criaram a cadeira Weg, nas versões masculina e feminina; Julia e Fernando finalizam o croqui da cadeira de casal Grude; já uma peça assinada pelo trio ainda está por vir. As horas passam e a atividade continua intensa. O anfitrião se empolga e rabisca no chão (é sempre dessa forma que seus projetos começam) o esboço de uma poltrona. Os pupilos se entusiasmam e sugerem curvas, encaixes, cavilhas… Entardece lá fora e mesmo com muito ainda para discutir é preciso encerrar o dia, afinal Fernando tem que voltar para o Rio e Julia, para São Paulo. Tudo bem, a próxima segunda-feira está logo aí.

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