Ganho R$ 3 mil como a aeromoça
Me tornar aeromoça foi a realização do meu maior sonho! Eu amo essa profissão tão glamorosa
Por admirar a profi ssão desde a infância, me tornei uma comissária de bordo exemplar
Foto: Arquivo Pessoal Sou mais Eu!
Lembro como se fosse hoje do meu primeiro dia como aeromoça. Eu terminava de fechar os compartimentos das bagagens de mão quando, de repente, quase caí por causa de uma forte turbulência, talvez a maior que peguei até hoje. Foi uma gritaria. Os passageiros ficaram desesperados. Sentei na primeira poltrona vaga que vi. Quando virei para o lado, dei de cara com um rapaz que passava muito mal. ”Está tudo bem”, eu disse, para acalmá-lo. ”Só estamos atravessando algumas nuvens. Respire fundo e levante a cabeça.” No meio daquele caos, tive a certeza: ”É isso que quero fazer por toda a minha vida”. Eu tinha 28 anos. Desde então, já passei por três empresas de aviação aqui do norte do país. Conheci vários estados brasileiros, como São Paulo, Pará e Mato Grosso. Também fiz vôos internacionais para Aruba, no Caribe. Hoje, já há seis anos na área, não sou mais uma aeromoça comum. Trabalho cerca de sete horas por dia e sou instrutora de vôo. Ou seja, além de atuar como comissária, dou aulas nos cursos de reciclagem que a empresa oferece aos funcionários. Com isso, meu salário chega a mais de R$ 3 mil por mês.
O começo dessa paixão
Sou carioca e, quanto tinha 6 anos, a empresa em que mamãe trabalhava veio para Manaus. Vim com ela. Meu pai ficou no Rio de Janeiro. Eu sempre ia visitá-lo nas férias. Foi aí que começou meu caso de amor com os aviões. Já passei Ano Novo, Natal e aniversário voando. Eu observava as comissárias com atenção: os gestos, a maneira de falar, o glamour… Tudo me encantava. Aos 19, decidi: ”Vou fazer um curso para ser aeromoça”. Mas logo engravidei e tive que adiar. Quando meu filho completou 2 anos, eu era gerente de uma loja de roupas e já havia guardado uma boa grana para realizar aquele desejo de infância. Fui até o aeroclube e paguei tudo adiantado. Mas pouco antes de as aulas começarem, me jogaram um balde de água fria: ”Rosana, você vai ter que tentar no ano que vem. Não conseguimos completar a turma”, me disse o responsável. ”Ah, não! Mais uma vez, não!”, pensei. Então, convenci uma amiga a fazer o curso comigo e uma outra garota apareceu. Assim, começamos as aulas, apenas eu e mais duas meninas.
Já matei porco e cobra
Foram três meses de pura aventura. Uma aeromoça precisa saber se comportar de forma discreta e cordial em qualquer ambiente. Deve tratar os passageiros com atenção e cuidado, nunca levantar a voz e conseguir reverter situações de desespero. Certa vez, uma mãe, aos prantos, pegou o avião com seu filhinho, que estava à beira da morte: ”Ele tem problemas cardíacos e o médico não o liberou para a viagem. Mas se eu não levá-lo para a capital, ele morrerá de qualquer jeito. Preciso tentar”, disse ela, arrasada. Permaneci ao lado deles durante todo o trajeto, manejando o oxigênio da criança para que ela sobrevivesse. E não é que deu tudo certo? Ao chegar, uma ambulância já o aguardava e hoje ele está super bem. No curso, também tive aulas de sobrevivência na selva. Passamos por cada uma… Ficamos cerca de dois dias sem comer e sem beber. Também tivemos que matar um porco, abri-lo e assá-lo pra matar a fome. E, pasmem, fizemos o mesmo com uma cobra! Justo eu, que sempre tive pavor desse bicho! Essa primeira etapa do curso foi a mais traumática pra mim. Mas correu tudo bem. Hoje já perdi a conta de todos os cursos semelhantes que já fiz.
Já paguei cada mico…
Depois que terminei o curso para comissária, tive de fazer uma prova da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac). Passei de primeira! O problema foi conseguir emprego. Foram seis anos levando meu currículo para o aeroporto, sem desistir. Um belo dia, me chamaram! Quase morri de felicidade. Então, comecei a voar. Ser aeromoça é glamoroso, sim. Mas também já paguei vários micos. Nem me lembro mais de quantas vezes o líquido voou na minha cara ao abrir uma latinha para servir a bebida! E aí eu fico lá, morrendo afogada com refrigerante! Também já me desconcentrei e caí na gargalhada inúmeras vezes, bem na hora de fazer aqueles gestos para indicar as saídas de emergência e explicar como usar a máscara de oxigênio. Já me desequilibrei e caí nos passageiros… Faz parte.
Me sinto prestativa no ar
Embora eu ame ser aeromoça, sei que é uma profissão que não pode ser exercida até o final da vida. Ela exige alguns esforços, como carregar o carrinho de bebidas quando o avião está subindo, fechar as pesadas portas da aeronave… Sem contar a diferença constante de pressão atmosférica, que desgasta o organismo como um todo. Por isso, fazemos exames médicos com frequência. De qualquer forma, pretendo passar mais uns bons anos voando. Me sinto prestativa ao passar segurança para os passageiros. Essa era a profissão dos meus sonhos e, ainda hoje, ao voar, sinto o mesmo prazer que sentia quando era criança.
Da Redação
Copa e Olimpíadas indicam expansão
O setor aéreo está em crescimento. Várias companhias nacionais foram abertas e eventos como Copa e Olimpíada no Brasil sinalizam uma expansão, explica Carlos Prado, coordenador da Escola Máster de Aviação. O salário, com comissões, pode chegar a R$ 6 mil em empresas nacionais e a R$ 8 mil em internacionais. Para fazer o curso de comissária de vôo é preciso ser maior de idade com segundo grau completo, medir no mínimo 1,58 m (mulheres) e 1,65 m (homens), ter peso proporcional à altura e fazer um exame médico no hospital da aeronáutica. Depois do curso, é necessário passar na prova da Anac.