Mulheres, em sua maioria, embora gostem de ganhar e, naturalmente, de gastar, não gostam de falar sobre dinheiro. Acham indigesto, indelicado, inadequado. Garotas boazinhas não colocam dinheiro em pauta com a devida relevância nem quando se trata de negociar um trabalho, cobrar uma dívida ou planejar a carreira. Quase pedem desculpa se forem bem pagas por aquilo que sabem fazer ou por escolher tal atividade porque é mais bem remunerada. No máximo, acreditam que o dinheiro é consequência natural do trabalho ou cultivam o pensamento mágico de que, no final, alguém vai cuidar desse tema árido para elas. Creem que dinheiro foi feito para gastar, que guardar é difícil e que investir bem é coisa para nerds das finanças.
Não é bem assim. Ou melhor, nunca é assim. O efeito perverso do paradigma que separa mulheres, mesmo as bem-sucedidas, do dinheiro é que, no mundo inteiro, somos mais pobres que os homens: ganhamos menos (em média, 25% menos nas mesmas funções), gastamos mais e pior e investimos quase nada (ou delegamos a tarefa a alguém “que entende disso”).
Só tive consciência dessa desconexão profunda e emocional com o dinheiro e de como ela comprometia nossa felicidade quando conheci a consultora Denise Damiani, especialista em inteligência financeira e estratégia empreendedora, que me convidou para escrever com ela um livro para ajudar as mulheres a compreender que cuidar do nosso dinheiro é cuidar da nossa independência. É nos tornarmos livres para fazer melhores escolhas na carreira e na vida.
O fio condutor de Ganhar, Gastar, Investir – o Livro do Dinheiro para Mulheres (Sextante, 39,90 reais), que lançamos neste mês, é a trajetória de 30 anos de Denise no mercado como superexecutiva, empresária e consultora, cujos bastidores revelam tudo que ela aprendeu para se safar das armadilhas mais perigosas do padrão masculino dominante e do modelo mental feminino.
Um dos episódios mais significativos foi um divisor de águas em sua carreira: sócia de uma consultoria internacional e responsável pelo maior faturamento da empresa no Brasil, ela descobriu que ganhava menos do que seus pares (todos homens) no país. Ficou furiosa e ligou para o chefe, o chefe do chefe e o chefão no exterior. No dia seguinte, estava em Londres, diante deste, recusando-se a esperar por um aumento no ano seguinte: ou recebia ali ou ia embora. Ganhou.
São muitas as lições tiradas, mas duas são bem ilustrativas: primeiro, Denise sempre teve acesso à lista de remunerações e nunca se interessou por conferi-la. Acreditava que, por ser quem mais faturava, deveria estar em primeiro lugar – a velha história feminina de achar que “alguém deve estar reconhecendo nosso trabalho”. Nunca mais foi tão displicente com seus ganhos. O segundo aprendizado acabou definindo a motivação de seu trabalho em favor das mulheres dali em diante: só pôde pedir demissão imediatamente por ter um lastro financeiro para se bancar. A maioria de nós não o tem e torna-se refém. A lição final é libertadora: dá pra mudar. Sem culpa do que fizemos ou deixamos de fazer até aqui, porque esse sentimento é paralisante. Mas de forma gentil e amorosa conosco mesmas. Como queremos e merecemos.