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Especialistas revelam como criar um filho único independente e feliz

As famílias diminuíram e, agora, as crianças reinam sozinhas em lares só de adultos. Como não mimar? Como não sentir culpa por não ter dado um irmão? Respondemos a essas e outras questões para você.

Por Redação M de Mulher
Atualizado em 28 out 2016, 00h57 - Publicado em 6 jan 2014, 22h00
Marianna Perri
Marianna Perri (/)
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Foto: Getty Images

Há três décadas, as famílias pequenas eram raridade no Brasil. A média de filhos por casal chegava a quase 6 em 1970, por exemplo. Ao longo dos anos, e com as mudanças conquistadas pelas mulheres, esse número foi caindo, caindo, até chegar a 1,9 filho por família, dado coletado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) no Censo de 2010.

Não existe um fator isolado que tenha determinado essa mudança, e sim uma série deles combinados: a atuação da mulher no mercado de trabalho, a idade mais avançada em que elas engravidam, a busca da estabilidade financeira e emocional do casal e avós mais ativos, que não podem mais ajudar tanto na criação dessas crianças, são apenas alguns deles.
 
Nesse cenário, ainda que a pressão em cima dos pais tenha diminuído – mas não sumido -, muitos ainda se preocupam com a criação dessas crianças. Como evitar que o filho caia nos mitos que envolvem um pequeno sem irmãos? Ele será mimado, egocêntrico, dependente?
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A preocupação é tanta que Carolyn White, mãe de Alexis, com quase 30 anos atualmente, fez da criação de filhos únicos a sua profissão. Autora do livro Criando Filho Único e responsável pelo site Only Child, ela e o marido, Chuck White, desvendaram alguns dos segredos não tão secretos assim de criar a criança de forma saudável. Segundo eles, existem sete pecados que influenciam esse processo: superindulgência, superproteção, fracasso na disciplina, compensação excessiva, buscar a perfeição, tratar os filhos como adultos e elogiar demais.
 
Cada um desses temas passa pela cabeça dos pais, e não só daqueles de filhos únicos – afinal, qualquer criança pode ser superprotegida ou mimada mesmo em meio a vários irmãos. Então, com o que vale a pena se preocupar realmente? Nossos especialistas respondem a seguir.
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Meu filho será mimado, tímido?

O pediatra especializado pela Unicamp Tadeu Fernando Fernandes, presidente do Departamento de Pediatria Ambulatorial e Cuidados Primários da Sociedade de Pediatria de São Paulo, destaca dois estudos tranquilizantes, um da Universidade Federal do Rio Grande do Sul e outro da Universidade de Ohio, nos Estados Unidos. O primeiro deles mostrou que os filhos únicos apresentam menos casos de ingestão de bebida alcoólica e melhor desempenho escolar. Já o segundo, publicado pela revista especializada Pediatrics, deu destaque à facilidade de socialização dessas crianças, que não difere em nada daquelas que têm irmãos. “Os filhos únicos parecem ter tantos amigos quanto os não únicos, exercer a liderança e sentir-se satisfeitos com a vida deles. Tendem a exibir traços similares aos filhos primogênitos e parecem ter maior autoestima do que as crianças com irmãos”, afirma o médico. Quanto ao mito de que são mais tímidos, Sueli Conte, mestre em educação e psicopedagoga, de São Paulo, tem a resposta na ponta da língua: “Timidez não é defeito, e sim traço de personalidade. Portanto, essa característica não é exclusiva do filho único”.
 

Como educar um só?

Equilíbrio é a palavra-chave para qualquer relacionamento, principalmente entre pais e filho único. Achar a medida certa de carinho, proteção e limite é fundamental para que o pequeno cresça, se desenvolva e aprenda a lidar com as frustrações e responsabilidades ao longo da vida. Dar pequenas tarefas para a criança e explicar como é importante dividir os brinquedos são ações que devem ser iniciadas a partir do segundo ano de vida da criança. “Esse aprendizado, no que se refere a ceder, negociar e abrir mão, vai acontecer provavelmente com um pouco mais de dificuldade para o filho único. Por isso, é importante que esse treino já aconteça em casa, antes do início da vida escolar”, orienta a psicóloga paulista especializada em crianças Daniella Freixo de Faria.Os pais devem pedir para os cuidadores, avós ou babá que também saibam dizer não. “A criança precisa ter limites, acatar regras, saber ouvir, esperar, respeitar uma opinião contrária à sua, dividir seus objetos, colocar-se no lugar do outro. Não é porque ela não tem um irmão que os adultos não podem ensinar essas habilidades”, conta o pediatra Tadeu Fernando.
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Ele está fadado a ser solitário?

A solidão é inerente à própria situação de ser exclusivo. “Esse é o estigma do filho único: hoje, só; no futuro, sem os pais. Ele não formará uma família? Ele não terá amigos?”, questiona Sueli. E, na sequência, responde: “É importante estimulá-lo para que saiba e queira se socializar, algo que deve ser feito com toda criança, seja ela filha única ou não”. A médica Albertina Duarte Takiuti, coordenadora do Programa Estadual de Saúde do Adolescente e professora da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, alerta: “Os pais têm que trabalhar para facilitar as relações no futuro. Já que a criança não tem companhia para ir à escola, brincar, levar bronca, os pais têm que colocar no esporte coletivo – futebol é melhor do que o tênis e a natação, por exemplo -, têm que proporcionar atividades grupais de música, teatro, dança. A família deve se integrar também e favorecer ao máximo a convivência com os primos”.
 

Como lido com a culpa?

Que tal pensar que o filho único é uma opção? “Se é opção, não deve causar sentimento de culpa nos pais, mas de responsabilidade por uma escolha feita”, afirma Sueli. Encarando dessa forma, fica mais fácil aceitar que a criança precisa de pequenas frustrações. Albertina completa: “Não importa se foi uma escolha da natureza ou individual, porque o produto, o filho, está aí. Não é lidar com a perda, é lidar com a vitória. Tem que transformar em celebração a coragem de ter filhos. Isso faz os pais se sentirem mais seguros e menos culpados em dar limites e exercer a paternidade”. Daniella também acena para o fato de que, muitas vezes, os pais buscam compensar o tempo que passam fora de casa com mimos ou se preocupando excessivamente com a proteção física da criança, mas se esquecem de que essas atitudes acabam criando uma dependência muito maior do que seria saudável.
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Como não sobrecarregá-lo com cobranças?

Com a chegada do filho, os pais não devem deixar de lado outros interesses pessoais e fazer da criança o único foco. “É importante reservar tempo e disposição para os amigos e para as atividades prazerosas, como os hobbies”, orienta Verônica Montanher, psicóloga do Hospital Paulistano, em São Paulo. Maneirar nas cobranças também ajuda. “A criança não deve ser a melhor, a mais forte, a mais perfeita e tampouco dependente, insegura ou aquela que necessita de toda proteção,” orienta Sueli. Para Albertina, os pais devem reconhecer e estimular as habilidades que o filho apresenta sem se projetar – afinal, ele não terá irmãos para dividir a responsabilidade de atender a tantas expectativas. “Ter filho único exige grande maturidade dos pais.”
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