Minha filha é a única criança da família e ganha montanhas de presentes o tempo todo. Temo que não aprenda o valor das coisas. Por outro lado, impor um limite a avós e tios é difícil. Como lido com isso? (Pergunta enviada por leitora)
Desde bem cedo, a criança deve aprender a valorizar o que tem e saber que, por trás de tudo aquilo que recebe, há um esforço. Para a educadora e psicóloga Roberta Haddad Blatt, do Rio de Janeiro, é papel da família ensinar isso e todos podem contribuir com tal processo. A educadora Adriana Friedmann, autora de livros como Linguagens e Culturas Infantis (Cortez Editora), concorda e recomenda: “Posicione-se de forma assertiva com seus parentes e os faça entender que as regras precisam ser respeitadas por eles e em qualquer ambiente”. Diferenças entre as normas da sua casa e as da casa dos avós, por exemplo, podem gerar conflitos quando a criança retorna à rotina depois de um fim de semana fora. Por isso é fundamental todos concordarem que a palavra final é dos pais. Não tenha medo de conversar sobre o assunto com os parentes. Uma estratégia sutil mas eficiente seria, em vez de cada um dar um superbrinquedo, eles se reunirem para comprar uma coisa só, algo bem especial para a menina, como uma bicicleta ou uma viagem.
A psicóloga Patrícia Arantes, de São Paulo, sugere outra maneira de driblar o excesso de presentes, especificamente no aniversário: “No convite da festinha, peça algum item (roupa, sapato, brinquedo, livro) para ser doado a instituições de caridade. Depois, chame a criança para ir junto fazer a entrega”. É um modo de ensinar que nem todos têm o privilégio de receber o que gostariam, e sua menina ainda terá a chance de compartilhar. Outro caminho é incentivá-la a separar os brinquedos antigos para doação, já que ganhará novos na data.
É importante também esclarecer um pouco sobre como funciona a economia familiar – de forma adequada à idade e à linguagem da sua filha, é claro. “Se ela pedir um brinquedo, você pode dizer que não é o momento certo para comprá-lo, pois estão poupando para viajar nas férias”, sugere Roberta Blatt. Quando não têm acesso à dinâmica do orçamento doméstico, os pequenos se acostumam (mal) a exigir tudo o que querem.
“O exemplo é essencial também: não adianta falar uma coisa e praticar outra”, alerta a educadora. E não faz sentido instruir toda a família se em casa as coisas não funcionam tão bem assim. “Os pais são o espelho dos filhos.” Em qualquer situação – seja na compra de comida no supermercado, seja na reposição do que quebrou –, o desperdício e o consumo desenfreado e irresponsável devem ser desestimulados no dia a dia, pois não são atitudes saudáveis para o desenvolvimento das crianças. “O que elas veem e aprendem no cotidiano influencia para deixarem logo de lado um presente novo ou não cuidarem daqueles que já possuem”, endossa Adriana.
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