Nem só de mulheres neuróticas, superprotetoras ou sofredoras a maternidade é feita. Longe disso! Ao contrário do que as obras de ficção parecem mostrar, há aquelas que evitam perder as estribeiras por pouca coisa e estão longe do clichê de viver para os filhos e não ter tempo para si mesmas. São as mães simplesmente práticas. Não que elas acertem sempre: afinal, ninguém acerta sempre. Mas não fazem da maternidade algo de outro planeta e, definitivamente, mais aproveitam o paraíso do que padecem nele.
1) Não é o fim do mundo se o seu filho tropeça e cai. Mesmo – e talvez principalmente – se ele estiver aprendendo a andar! Sim, os avós vão morrer de dó. E sim, as mães mais assustadas à sua volta talvez achem você um pouco fria. Mas é que você, que não se desespera à toa, sabe que pequenos tombos não são nada de mais e fazem parte da infância. E que um “Machucou, filho? Não? Que bom, então levanta” pode ser melhor para criar crianças confiantes do que sucessivos “Meu Deus, caiu, coitadinho!”.
2) E também não é o fim do mundo quando ele tira uma nota vermelha. Nem sinal de que a escola é exigente demais. Ou que ele não está acompanhando a turma. E muito menos que ele será um profissional malsucedido no futuro! É só uma nota vermelha. Oriente-o a estudar mais e, se os resultados continuarem ruins, aí sim vale se aprofundar na questão, marcar uma conversa na escola…
3) Criança pequena faz malcriação. E até bate nos pais. E isso é normal. Em Tristes Trópicos, Lévi-Strauss relata ter observado crianças nambiquaras que, quando contrariadas, batiam na mãe. Se seu filho de dois anos já bateu em você, console-se pensando que isso não representa um problema específico da nossa cultura. Nem sinal de que você está errando na educação, mimando-o demais – por mais tortos que sejam os olhares no shopping. É só um lembrete de que crianças são crianças, aqui ou entre os nambiquaras. E que elas ainda não aprenderam a lidar bem com as emoções. Seja firme, corrija, mas não surte: está tudo bem!
4) Você não precisa comprar uma “saída de maternidade” para o seu bebê. Nem um “kit higiene” para colocar sobre a cômoda. Nem filmar nada que se passar na sala de parto. Ou bordar o nome dele nas peças. Assim como não tem que fazer grandes festas de aniversários em bufês ou levar uma mala gigante toda vez que vocês saem de casa. A não ser que você queira e possa, é claro. Caso contrário, você, que é prática, sabe: não é necessário esquentar a cabeça com nada disso.
5) Pipoca, frutas variadas, iogurte natural e bolo simples caseiro são opções fáceis e saudáveis para a lancheira da escola. E uma boa alimentação é fundamental, mas, nos dias de correria, a mãe prática sabe que um bom ovo mexido ou macarrão com molho de tomate industrializado ou atum em lata quebram o galho sem dramas. Ah, e que um brigadeiro de vez em quando não mata ninguém… Em vez de cultivar radicalismos, mais vale dar o exemplo e ensinar a criança a ter uma boa relação com a alimentação, comendo de tudo, sem exagerar ou passar fome.
6) Criança desobedece, mesmo. Você quer que seu filho seja uma pessoa de verdade, e não um robô, certo? Então, aceite que, às vezes, mesmo sabendo que não podem enfiar o dedo na tomada, eles vão enfiar. E, a você, cabe corrigir e ensinar, sem perder a cabeça, dar broncas exageradas ou achar que ele é muito teimoso ou que você não está educando bem.
7) Tudo bem pular o banho dele um dia ou outro. E fingir que não viu quando ele pega uma bolacha que caiu no chão e come. E deixar que ele saia com uma meia de cada cor, já que foi o fofinho que escolheu o visual e está tão feliz assim! Aliás, aproveite para se desfazer daquele par de sapatos que ficam lindos nas fotografias, mas incomodam o pequeno, assim como o vestido fofíssimo que atrapalha sua filhota a engatinhar. Uma mãe prática é assim em relação ao guarda-roupa também: prática.
8) Você prepara seu filho para a vida, e não a vida para o seu filho. Em casa, você pode seguir a linha conceitual que achar melhor: ser contra meninas brincarem de princesas, proibir a entrada de brinquedos violentos e até seguir um novo método da neurociência de aplicar castigos. Mas se tem uma coisa que toda mãe prática sabe é que, fora de casa, existe algo chamado mundo. E que o mundo até muda, mas bem lentamente. Assim, a não ser que você isole seu filho dos vizinhos, dos coleguinhas de escola e do resto da família, sua criação não vai seguir todas as palavras do seu roteiro perfeito. E, se você forçar muito a barra, pode virar, em vez de uma mãe libertária e cheia de ideais bonitos, apenas uma mãe autoritária.
9) Sim, ele é o amor da sua vida, mas você não é a única na vida dele. Quando ele era um bebê e o pai foi trocar a fralda, você não disse: “Com licença, eu é que sei como fazer isso”. Você também não se culpa quando sai para trabalhar ou para jantar com suas amigas. Porque você sabe que o que importa, mesmo, é que o seu filho esteja bem. Seja com você ou com seu ex-marido e a mulher dele. Seja na escola, na casa da avó ou com uma babá amorosa. Certifique-se de que ele esteja em segurança, bem cuidado pelas pessoas que estão com ele e se sentindo amado… E vá viver!
10) Para ser uma boa mãe, você precisa cuidar de si mesma. Afinal, seus filhos são a prioridade da sua vida, sobretudo quando estamos falando de crianças pequenas, por serem muito dependentes… Mas o sucesso da maternidade (e a paz de espírito) requer a mesma lógica dos treinamentos aéreos: primeiro, coloque a máscara de oxigênio em você, para só então ajudar o passageiro ao lado. Para ser uma boa mãe, e também um ser feliz e realizado, você precisa cuidar da sua cabeça e do seu bem-estar. O que, é claro, toda mãe prática sabe muito bem.