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Infidelidade financeira: os caminhos para lidar com a situação

Esconder operações que envolvam o dinheiro do casal pode ser considerado traição — e isso afeta especialmente as mulheres

Por Paola Carvalho
30 set 2022, 08h24

A gota d’água para a analista de sistemas Thaís, 43 anos, romper um relacionamento de 7 anos foi uma infidelidade financeira, um tipo ainda pouco falado. Durante o casamento, a sua parceira abriu um negócio que precisou de mais dinheiro que o planejado. Foi o momento em que ela resolveu assumir todas as despesas de casa e um empréstimo. O tempo passou e, sem saber o tanto que a empresa prosperava e sobre novos investimentos, continuou como a única responsável pelos pagamentos. “Nosso casamento foi o período de cuidar sozinha de outra pessoa com instabilidade financeira, uma época em que não pude usufruir do meu próprio dinheiro”, afirma. Não era a primeira vez que Thaís se via nessa armadilha. A mãe dela entregou o que recebeu de uma herança para o pai também abrir um negócio. Só no divórcio descobriu que não era uma empresa apenas, existiam mais. Entretanto, como o seu nome não fazia parte dos contratos societários, não teve direito algum na partilha. “Ele desviou os bens da família para outras pessoas.”

Quando um dos integrantes do casal esconde do outro informações sobre dinheiro é considerado infidelidade financeira. São quatro principais situações: omissão de ativos (bens e direitos), de passivos (obrigações com terceiros, como dívidas), de renda (o dinheiro que entra) e despesas (com o que gasta). Essa “deslealdade” também está presente quando há movimentação de patrimônio já tendo o divórcio como alvo.

“Não existe uma definição legal para infidelidade financeira. Podemos caracterizar esse termo como uma atitude desleal de um dos parceiros em relação ao outro quanto ao patrimônio comum do casal ou mesmo as questões financeiras do dia a dia. Ela acontece quando um deles, por exemplo, acumula uma série de dívidas comprometendo não só os seus bens particulares, como também aqueles que pertencem à família”, explica Silvia Felipe Marzagão, presidente da Comissão de Advocacia de Família e Sucessões da OAB/SP. “Caso haja malversação do patrimônio daquela família, realizada por um dos cônjuges, o juiz poderá determinar que aquele que agiu de maneira incorreta responda isoladamente pelo prejuízo que causou.”

Silvia pondera que tudo depende da “situação concreta”, pois existem casos de descontrole financeiro de um, mas não necessariamente a pessoa está agindo de má-fé, querendo lesar a outra ou o patrimônio da família. No entanto, caso contrário, o caminho mais adequado pode ser um acordo ou mesmo o rompimento do relacionamento, com a apuração da partilha levando em conta todo o patrimônio escondido e fraudado. “Conversar sobre dinheiro é um tabu na sociedade, por isso famílias vivem relacionamentos frágeis financeiramente. Só existe um caminho, o da transparência combinada com o diálogo”, afirma Audrey Barneche Cardoso, especialista em finanças comporta- mentais e neurociência.

Uma pesquisa realizada pela Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) e pelo Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil), em parceria com o Banco Central do Brasil (BCB), mostrou que 85% dos entrevistados conversam em casa sobre o orçamento, sendo que 21% desse total somente quando a situação financeira já não está boa. Observe: 15% nem tocam no assunto, não é pouco. O levantamento revela ainda que quase a metade dos casais (46%) admite brigar por questões financeiras. O principal motivo está ligado às despesas realizadas pelo parceiro além do seu poder aquisitivo (38%), seguido do gasto sem formação de reserva (27%) e das discordâncias em relação às contas da casa (25%).

O hábito de consumir além da capacidade financeira é razão para desavenças, de acordo com a pesquisa: 51% dos entrevistados acreditam que algum dos familiares compromete com frequência o equilíbrio do orçamento do casal e 40% costumam gastar mais do que podem para satisfazer as vontades do outro.

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No início do casamento da pedagoga Joana, 34 anos, o combinado era: ela paga os gastos dos dois filhos e o financiamento do carro, ele fica por conta das despesas da casa. Depois de 12 anos, com a crise no relacionamento, ela observou que ele “tramava coisas, lesando o patrimônio” de ambos. “Ele transferiu o nosso veículo para o nome do irmão. Alienou os outros carros que tínhamos”, exemplifica. Somente após a separação, Joana procurou um advoga- do especialista e, então, descobriu que o ex-marido também havia contraído dívidas que ela desconhecia para a construção da casa deles. “Quase caí dura porque girava em torno de R$ 500 mil reais”, conta. “Toda mulher, ao entrar em um relacionamento, precisa colocar as cartas na mesa para não ser enganada pela pessoa com quem divide a vida”, destaca.

Reflexões sobre a infidelidade financeira

1) Se há sumiço de faturas, omissão de documentos, vitimismo ou preocupação em excesso, desconfie.

2) Busque se conhecer na sua relação com o dinheiro e reflita como você e seu parceiro ou parceira foram ensinados. Existem diferenças? 3) Repensem o estilo de vida da família para pagar contas, economizar ou investir. Faça um planejamento financeiro condizente com a realidade. 4) Tenham uma reserva financeira, seja para momentos desafiadores ou de abundância.

5) Decidam juntos onde investir o dinheiro: fazer uma consultoria financeira de vida pode fazer sentido para o momento atual.

6) Mantenham um investimento independente. O valor não precisa ser aberto, desde que os recursos aplicados em conjunto sejam honrados.

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7) Tracem limites para a fatura do cartão de crédito e gastos supérfluos.

8) Fale sobre dinheiro com toda a família. Não tem problema se você está aprendendo agora, o importante é compartilhar.

Não há fórmula para a felicidade de um casal. Ela depende, claro, de vários fatores. Mas um componente é essencial: a confiança em todas as áreas, inclusive o bolso.

 

 

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